Em um mundo em que discussões sobre sustentabilidade e o impacto das ações humanas no meio ambiente (e em outros humanos) está em alta, segmentos distintos buscam se adequar aos novos tempos. No universo da joalheria, por exemplo, diversas práticas estão se tornando cada vez mais intoleráveis e precisam ser repensadas.
Essa é a premissa do trabalho de Vera Cortez. Psicóloga de formação, a joalheira quis entrar no ramo de uma forma que não agredisse a natureza e que promovesse ajuda social. “Eu tinha necessidade de ter um propósito maior”, explica Vera em bate-papo com RG.
Para criar suas peças, a joalheira investe principalmente em madeira de refugo, ossos e chifres de descarte – estes vindos de fazendas na Bahia, onde virariam lixo e seriam queimados. Outro material que Vera aposta é o ouro reciclado, seja vindo de clientes que desejam ressignificar uma peça, ou de itens de suas próprias coleções passadas que não foram vendidos.
Além dos artesãos que trabalham com Vera em sua oficina em São Paulo, ela também conta com um time na Bahia – uma forma de ajudar a comunidade local, promovendo empregos que vão além da alta-temporada. “São pessoas que são supercapacitadas no artesanato, mas faltava o design”, explica.
Para garantir que seu processo fosse sustentável, a joalheira rastreou pessoalmente às origens de cada material, visitando os locais em que ela compra. Também buscou cada artesão de sua equipe ao vivo, sem intermédio de terceiros, para ter certeza de que seus contratados estariam trabalhando em condições dignas.
Os próximos passos são claros: “ Ir até a amazônia para pesquisar os materiais e procurar talentos”.
Para Vera, um dos maiores problemas da industria é a busca desenfreada de pedras preciosas, que “podem estar custando danos em alguma região do mundo”. Em seu trabalho, a paulista prefere apostar nas turmalinas brasileiras, tipo de material cuja obtenção é livre de conflitos. “Temos uma quantidade enorme, você sabe que não tem um furando olho do outro para conseguir”, ela conta.
“A gente precisa renovar esse olhar do que é luxo hoje em dia”, divide a joalheira. Para ela, é importante ir além do estético-comercial. “Para mim, preservar trabalhos manuais é o que faz um produto se tornar luxo, assim como ter envolvimento com a sua cultura e comprometimento social”.