Por Carol De Barba
“É mais difícil que fazer show. Lá já sobe com o jogo ganho. Aqui o campo é novo. Cercado de militar, ainda”, brinca o rapper Emicida sobre sua estreia na passarela. A primeira coleção masculina do cantor era um dos momentos mais aguardados da 38ª edição da Casa de Criadores. O evento começou na última terça (13.10) e vai até sexta (16.10), no Campo de Marte.
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O artista levou para a passarela novas peças da coleção cápsula que já tem em parceria com a West Coast – a Corre Sempre. O styling ficou por conta do diretor criativo da marca, João Pimenta, que também assina o figurino dos shows do rapper. Ou seja: tudo em família.
Em família e em casa, como ficou bem claro pela conversa de Emicida com RG, horas antes do fashion show. “O que a gente faz nesse desfile é mostrar que as nossas raízes se mantêm. E é um desfile de ocupação de espaços. Para mostrar como a nossa raiz se conecta com qualquer tipo de ambiente”, disse. E avisou: “tem uma coisa séria, de presença, de força. A Elisa Lucinda tem um livro que chama ‘A Fúria da Beleza’. Acho que é isso que nóis vai fazê hoje. Vai apresentar a fúria da beleza”.
A inspiração veio principalmente da África, de países como Angola e Congo, cujo impacto de uma visita recente é sentido em toda carreira do cantor – da música à moda. Alguns dos tecidos vistos na passarela, por exemplo, vieram de lá. “Tenho o maior ciúme deles. Se alguém chega com a tesoura já fico de olho”, entrega.
Na passarela, no entanto, o étnico deu lugar ao urbano – outro gene forte no DNA do Emicida. “Eu queria, ao mesmo tempo, achar uma linguagem que fizesse justiça ao que a gente já vinha trabalhando na collab com a West Coast, que é essa coisa do work wear. Porque eu tava viajando muito nessa parada do ser operário. Ser operário significa se tornar engrenagem de uma coisa maior, muitas vezes. Eu queria representar nessa coleção que não precisar se desapagar da sua essência para fazer parte de coisas que você considera maiores”, explica.
Isso fica claro em alguns tingimentos escuros e nas estamparias de pichações e grafites. “São Paulo tem o nome de cidade cinza, mas você ainda encontra as cores. As luzes, as roupas das pessoas, até os moradores de rua com aquele monte de sobreposição. O cinza nunca lava as outras cores”, filosofa o criador.
Além disso, a ideia – e tarefa principalmente do “guru” João, como definiu o rapper – era dar um sentido claro a essas referências todas. Em outras palavras, transformar em moda comercial. “Não é inatingível. É para as pessoas poderem dispor no dia a dia das roupas que estão na passarela”, justifica.
Assim como João, que sempre cutucou as definições de masculino e feminino da moda, Emicida também não liga muito para normas. “Essa coisa do trabalhador era sempre mais vinculada ao homem, à força. Mas a gente abre o desfile com as garotas operárias, então já brinca com isso aí”, diz, reforçando que não acha que isso seja “uma limitação. Há muito tempo essa coisa do gênero é questionada, não só na moda”, conclui.
Na galeria de fotos ao lado, você confere as fotos do desfile.