Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
PARIS — Tudo eram rio e rosas, pétalas e confete, palhaços e vestidos longos quando a Christian Dior abriu a estação de couture por aqui em 4 de julho. Mas todo o chiffon esvoaçante, cores refrescantes e música de fundo – ou o trabalho fantástico dos estúdios Dior — não conseguiram esconder um fato essencial: que independentemente das acusações de que John Galliano estava frequentemente bêbado, fora de controle por conta de comprimidos ou fazendo discursos extravagantes durante seu mandato na Dior, o estilista trouxe à maison uma finesse e leveza primorosa que, desde sua saída na primavera, explodiu no ar como confetes ao vento.
Este desfile carnavalesco deu a impressão de que um bando de baladeiros havia dado sua versão mordaz e excêntrica às composições fantásticas do passado da Dior. O tema rosas foi razoável, mesmo para uma coleção de outono, e foi reforçado por uma referência ao antigo estilista da Dior Marc Bohan e pelas lindas joias da Dior exibidas em um lado do jardim da tenda do desfile. Ainda assim foi impossível não se lembrar das flores produzidas em julho de 2010: a florescência de Mr. Galliano foi uma explosão em estufa de tulipas coloridas, seus ornatos floridos para a cabeça enrolados em papel celofane brilhante.
A fantasia é uma visão delicada e pessoal. O grave erro cometido aqui por Bill Gaytten, 51, que liderou a equipe da Dior para criar esta coleção, foi não brincar com suas qualidades como alfaiate excepcionalmente hábil e modelista – habilidades acumuladas ao longo dos 23 anos trabalhando com Galliano (esses elementos se destacaram no início do verão na coleção masculina de primavera 2012 de John Galliano, que Mr. Gaytten também desenhou). Ainda que tenha sido necessária muita habilidade técnica para transformar uma saia em uma massa sensual e volumosa de pétalas de haute couture, lembrando uma pintura de Georgia O’Keeffe, o corpo nunca chegou ao centro do palco neste espiral de delírio floral.
Mais inspirações vieram da arquitetura moderna e do trabalho de design de Frank Gehry e Jean-Michel Frank. Mas a perícia do artista pareceu crua quando vestidos que pareciam ter sido inspirados por uma floresta tropical brasileira (ou talvez pelas estampas tropicais da última coleção de prêt-a-porter da Prada) se desenrolaram pela passarela, em uma paródia de um desfile de 1975 aproximadamente.
Certamente havia peças para se apreciar e habilidade manual para admirar, e o cenário do Musée Rodin era artístico e elegante. Mas esta coleção Dior pareceu ainda mais estranha no contexto dos casamentos – do Príncipe Albert de Mônaco e da supermodel Kate Moss – aos quais muitas das pessoas na primeira fila haviam ido, no fim de semana anterior. A incrível coleção de joias salvou o dia da Dior, já que a designer Victoire de Castellane entendeu como combinar drama, glamour e imaginação. Exibindo pedras excepcionais e misturas misteriosas, de modo que as joias brilhavam como imagens em 3D, a coleção estava suntuosa. Inspirada pelo épico “Bal des Roses” (Baile das Rosas) e os grandes eventos que aconteceram na década de 1950 depois dos pobres anos de guerra, essas peças estavam tão “haute” quanto a mais especial couture.
“Imaginei joias abundantes, onde pedras são colocadas com outras pedras até que evoquem os tecidos bordados mais luxuosos”, disse de Castellane, se referindo aos designs complexos. As misturas sutis de cores incluíram diamantes lilás com calcedônia lavanda, safiras roxas e espinélios cor-de-rosa; e diamantes cinza colocados contra safiras e tanzanitas com gotículas de ouro. O romântico tema das rosas, incorporado aos anéis e colares, alimentaram o espírito Christian Dior de romance e requinte, que foi tão exagerado no desfile na passarela.