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“From the Sidewalk to the Catwalk” por Suzy Menkes

Nossa colunista fala sobre a exposição de Gaultier, onde o high-tech se encontra com o high design

Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune

MONTREAL — “Ah, virgens!”, exclama o manequim com cabelo curtinho usando suéter listrado estilo marinheiro, enquanto o coral de mulheres usando vestes virginais ao seu lado abrem suas boquinhas atrevidas e começam a cantar.

A semelhança do manequim com Jean Paul Gaultier não é apenas notável; é assustadora. A boca franzida, os olhos enrugados e a voz vindo da imagem facial digitalmente gerada imitam a do estilista. Em From the Sidewalk to the Catwalk, uma nova exposição no Montreal Museum of Fine Arts, o manequim de Gaultier fica exposto ao lado da obra do Gaultier de verdade nos últimos 35 anos.

A certa altura na mostra, uma fileira de manequins em estilo punk com cabelo moicano fantástico e maquiagem maluca olham com malícia e zombam de um grupo de elegantes manequins parisienses mostrando suas roupas em um carrossel em movimento. Essas figuras são tão realistas que quando a performer Arielle Dombasle cantou na cerimônia de abertura da exposição, ela deve ter sido confundida com uma das cabeças cantantes e falantes.

As projeções faciais, que foram criadas pela empresa teatral de Denis Marleau, baseada em Quebec, seriam suficientes para tirar esta exposição do ordinário. Mas em todas as maneiras – tecnicamente, artisticamente e esteticamente – a exposição dedicada ao iconoclasta couturier francês é um triunfo.

Uma seção chamada “Boudoir” apresenta o infame espartilho que Madonna usou em sua turnê de 1990, “Blond Ambition”. Ele fica exposto ao lado de um ursinho de pelúcia bastante gasto com protuberâncias cônicas semelhantes feitas de jornal enrolado. Mr. Gaultier diz que ele fez os aumentos de seio no ursinho aos 7 anos de idade, depois de uma aula de construção básica com sua avó. De fato, talvez a coisa mais notável no trabalho deste estilista, que faz 60 anos no ano que vem, é quão cedo as características de seu estilo foram estabelecidas – e como ele continuou de forma criativa a desenvolver suas ideias provocantes e originais.

Nathalie Bondil, diretora do Montreal Museum, diz que a exposição foi tratada com a mesma disciplina e rigor de qualquer outra exposição. “Ele é um artista contemporâneo. É um criador que tem uma imaginação que vai além da moda”, diz. “E há uma mensagem tão fortemente humanista em seu trabalho. Tem tudo a ver com democracia”. Ms. Bondil estava se referindo à antecipação do estilista das mudanças sociológicas de sua era: adotar a liberação sexual feminina e a homossexualidade masculina aberta.

Mr. Gaultier também trouxe um espírito street a seus designs de haute couture, que pode ser visto de perto nesta exposição: nenhuma das roupas fica atrás de vidros. Um vestido de 1997-8, feito para parecer pele de leopardo, é na verdade bordado com minúsculas contas. Em um lance genial, o museu listou o número de horas que levou para completar cada peça de couture: 106 para a de leopardo.

Entre os acessórios incluídos está uma bolsa na forma de um cinzeiro, ilustrando a incorreção política que é tão essencial na obra de Gaultier. A coleção “Rabbi Chic” que causou escândalo em 1993 com suas referências à vestimenta judia ortodoxa também está exposta.

E uma sala inteira é dedicada ao trabalho de figurino que Gaultier fez para o balé, televisão e filmes, incluindo com o diretor espanhol Pedro Almodóvar, que disse:  “O figurino que Jean Paul Gaultier desenha é lindo e absolutamente conceitual ao mesmo tempo. Quase ninguém mais é capaz de combinar ambos no mesmo gênero”. 

Esse é um ótimo resumo para uma carreira excepcional – e uma exposição atraente.

From the Sidewalk to the Catwalk está em exibição no Montreal Museum of Fine Arts até 2 de outubro.

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