Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
NOVA YORK — Geléia de laranja, laranja queimada, verde periquito e azul da flor escovinha junto com pilhas de milho dourado – é possível que a moda de Nova York tenha abandonado a ideia de “qualquer cor, contanto que seja preto”? Ainda que a plateia New York Fashion Week, em fevereiro, estivesse vestida com cores lamacentas e urbanas e roupas utilitárias para o frio, na passarela a história era outra. A única parka aceita no catwalk foi guarnecida com pele e as cores tinham mais a ver com estados ensolarados do que com o estado de Nova York para o outono 2011.
O uso mais dramático de tons de verão apareceu na Rodarte, que fez do seu desfile mais uma fantasia feita à mão sobre a vida nas pradarias do que um retrato fiel daquela realidade dura – uma visão romântica, mistura de beleza inocente com uma tendência oculta perturbadora.
A apresentação, no moderno espaço da galeria de arte Gargosian, foi aberta com um casaco na altura dos tornozelos sobre um vestido azul-crepúsculo. Então vieram as saias godê em tom bege-manteiga com estampas treliçadas e vestidos estilo avental retos com apliques de quadrados no lugar dos bolsos frontais. O tema de quadrados continuou com as peças de tricô que destacaram o foco consistente das irmãs Mulleavy no artesanato. Ainda que grande parte da coleção fosse linear, sugerindo um uniforme rústico de suéteres e calças estreitas de cintura alta, o look pradaria culminou em vestidos de chiffon azul-céu com uma estampa de milho saindo da barra. “Foi a ideia da mudança de luz – começando com o amanhecer, o meio-dia e a noite”, disse Kate Mulleavy, uma das cabeças da marca, citando o filme de 1978, Cinzas no Paraíso, como inspiração.
A coleção foi controlada e linda. Mas, como sempre, havia uma tendência oculta sombria nos cabelos para-rolar-no-feno e um par de roupas vermelho-sangue que sugeriam que nem tudo nessas lindas planícies da moda era agradável.
Enquanto isso, Narciso Rodriguez emprestou ao seu característico look linear uma lasca de emoção, usando cores como camadas finas de tinta. Sua cartela sutil e pinceladas artísticas trouxeram uma nova suavidade ao seu estilo normalmente gráfico, produzindo uma coleção poderosa e moderna para o outono. As roupas se encaixaram no padrão disciplinado e reto de Rodriguez: casacos, vestidos e calças, mostrados com botas sem salto e com renda que emprestavam um tom mais vigoroso. Em alguns casos, as adições de cores ficaram óbvias, como borrões cor-de-rosa em um elegante vestido preto. Mas outros eram mais sutis: uma pincelada de azul pálido em um lado de um casaco enxuto ou faixas de laranja queimado passando por um vestido preto. No backstage, Mr. Rodriguez disse que as cores foram inspiradas na arte alemã. Mas o estilista deixou o conceito mais interessante, com uma jaqueta de lã e feltro, um casaco de couro e angorá e o toque contrastante do chiffon fosco e da seda polida. Com o “minimalismo” sendo a palavra da vez na moda, esta simplicidade enriquecida de Rodriguez alcançou um ponto perfeito.
Na coleção de Vera Wang, havia uma fragilidade trêmula em relação às roupas, talvez expressando a tensão entre a visão romântica e a realidade cotidiana na vida das mulheres. A inspiração de Ms. Wang para sua coleção de outono foi a conjunção do poder americano e da classe inglesa, personificada por Emerald Cunard e Wallis Simpson na sociedade londrina da década de 1930. Essa história de fundo foi interpretada na forma de pregas, tanto horizontais quanto verticais, que emprestaram formas geométricas a vestidos ultraleves. A estilista também trabalhou uma cartela de cores “off” – mostarda, ferrugem e verde-líquen misturadas com cinza-carvão e piche, os tons sutis em conformidade com sua visão tranquila. Pregas retas foram um forte tema em muitas das coleções de outono, mas Ms. Wang trabalhou as linhas retas de forma bastante feminina. Ela também trouxe parkas enfeitadas com pele, outra tendência sazonal, junto com luvas até os cotovelos. Tudo isso reunido com a clareza de uma estilista que sente as mudanças da moda de forma consistente e as interpreta de sua própria maneira elegante.