Por Suzy Menkes do Internacional Herald Tribune
PARIS — Usando uma jaqueta com mangas de pele e botas fetichistas de amarrar – e não muito mais que isso – Kate Moss desfilou pela passarela da Louis Vuitton depois de chegar, como todas as modelos, em um elevador ornamentado, como se estivessem em um imponente hotel. A maioria das jovens mulheres usava quepes de porteiro de hotel e haviam claramente aprontado: algemas presas aos pulsos de uma modelo usando um discreto vestido estampado com gola branca. Ela deve ter sido desencaminhada depois de ser uma das camareiras francesas uh-la-la que estavam varrendo os degraus e a passarela, usando aventais brancos e vestidos pretos. “Fetiche” foi o tema para o estilista Marc Jacobs, uma inspiração que ele disse vir depois de pensar sobre o “desejo irracional” por acessórios da Vuitton.
Para o outono, os acessórios incluíram bolsas de pele super macias e uma nova bolsa “Lockit”, que oferece privacidade para as mulheres e seus objetos de fetiche. Adicione ao mix jaquetas com formato ampulheta, bustiês de verniz e máscaras usadas em lugares improváveis, e percebemos que não havia um desfile tão picante ou atrevido da Vuitton desde que Mr. Jacobs mostrou modelos usando uniforme de enfermeira, em 2007. Será que toda essa sexualidade evidente, esse conjunto inventivo e a sensação geral de teatro da moda foram para sugerir que Jacobs está pensando sobre aquele lugar vago na Christian Dior? “Não!”, disse o estilista no backstage, quando perguntado se estava pensando no antigo cargo de John Galliano. E completou: “Não fui convidado”. “É claro que Marc poderia fazer a Dior — ele consegue fazer qualquer coisa. Perry Ellis, e sua própria linha”, disse Naomi Campbell, que também desfilou para o outono da Vuitton. Mas se Marc Jacobs estava preparando para seu encerramento, apenas o tempo dirá.
Enquanto isso, Sarah Burton ainda está preenchendo a enorme lacuna deixada pelo suicídio de Alexander McQueen no ano passado. E ela parece determinada a reforçar o espírito criativo do antigo chefe: ela escolheu mostrar sua segunda coleção McQueen na Conciergerie, onde Marie Antoinette foi mantida antes de sua execução, e onde Mr. McQueen já havia mostrado uma coleção com lobos vivos, como se estivesse nas estepes. A coleção de Burton, entitulada “The Queen and her Court”, foi feita para uma ice queen, com peles flutuando como flocos de neve naquilo que a estilista chamou de “silhuetas herdadas” — querendo dizer que não se afastou da visão de McQueen. Muitos dos vestidos eram lindos, com sua estética haute couture e habilidade manual, como minúsculos zíperes correndo verticalmente ao redor de uma barra de saia. Mas foi desanimador ver uma estilista mulher reviver a misoginia de McQueen prendendo suas modelos com arreios. Tire-os, e lá estavam vestidos incríveis para serem vistos. Ainda assim, será que mesmo as temperaturas extremas de nosso machucado planeta conseguem trazer vestidos da ice queen couture para as ruas?
Miuccia Prada fechou a temporada de moda internacional de forma positiva, com um desfile MiuMiu perfeito que resumiu a mensagem fashion geral. “Glamour moderno”, disse Prada sobre os vestidos discretos com ombros largos, alguns com o volume aumentado por pele e decorados com motivos brilhantes da flora e fauna. Andorinhas voando em corpetes; havia estampas de margaridas, dentes de leão e galantos; e os sapatos brilhantes que pareciam ter saído diretamente de “O Mágico de Oz.” As jovens estrelas na primeira fila, desde Mila Kunis, de Cisne Negro a Hailee Steinfeld, de Bravura Indômita, estavam vestidas de forma discreta e apropriada. E o desfile reforçou uma atitude que Ms. Prada sempre seguiu: a burguesia é moderna se você der um pontapé.