Alguma coisa está fora da ordem… A turma da moda acompanha consternada o drama de dois grandes nomes do métier, ausências sentidas da fabulosa semana de moda da capital da moda. John Galliano, você sabe, falou muito mais do que deveria e se perdeu numa trama infeliz que RG e o mundo têm criticado duramente. Suas irrefreáveis manifestações anti-semitas estarreceram a todos, de Natalie Portman ao presidente da Dior, que se apressou em ecoar seu pedido de desculpas aos judeus antes do início do desfile da maison, que RG acompanhou in loco na manhã desta sexta-feira (04.03). O estilista, segundo consta, está numa clínica de reabilitação. Um escape moderno para indivíduos que precisam não apenas se livrar dos vícios, mas reabilitar imagens públicas. A dele está rasgada, a despeito da genial carreira e da contribuição extravagante que rendeu às passarelas. Galliano seguirá relevante, é fato. Mas o respeito…
Não bastasse o ocaso do Victor Valentim, o drama que pulou das passarelas para o backstage parece não arrefecer. O furacão Galliano não escondeu outro gossip escabroso, desta vez envolvendo o jovem e muitíssimo talentoso Christophe Decarnin, estilista que mantém aceso o revigorado hype da Balmain. Sua ausência – do desfile e, dizem, do processo de criação da recente coleção – suscitou fofocas de toda sorte. A mais escandalosa dava conta de que ele estaria confinado num hospital psiquiátrico. Doidivanas. Meia verdade: parece que, de fato, ele foi afastado do trabalho para se tratar de uma depressão. Nada tão grave, espera-se. Alain Hivelin, proprietário Balmain, resolveu se manifestar. Ao Telegraph, disse que Decarnin estaria apenas “cansado depois de trabalhar na coleção”, daí sua ausência. E frisou: “Não, ele não está aposentado. Ele está apenas cansado. Ele não está aqui, ele está descansando.” Tudo soou meio estranho, afinal, é difícil um estilista não querer receber os cumprimentos…
O fashion little world, a gente sabe, é campo fértil para o descontrole. Os grandes nomes são em geral geniais, e como tal carregam um ego descomunal. Criam personagens, passam a acreditar neles, perseguem o mito que fantasiaram para si. Daí para a queda, é só um tropeço. Mas não vamos misturar as coisas. Ao contrário de Galliano, Decarnin, é vítima, não algoz. Vítima desse mundo maluco (o da moda então…), desses tempos, dessa máquina. Suscetível à pressão, à solidão, à ansiedade, à uma insatisfação ancestral, carente… como todos nós. Sofre do mal do século (do outro e deste), um bichinho silencioso que vai te arrancando o coração à pinça.
Mera coincidência ou não, fato é que uma nuvenzinha negra vai marcar esta semana parisiense. Alguém pode acender a luz?