Foto: Reprodução/Instagram/@silenciodespres
Por Bruno Calixto
A herança New Wave está por toda a parte no prédio que abriga o Silencio des Prés, restaurante inaugurado há um ano à margem do Rio Sena, Paris, do lado oposto ao Club Silencio, casa inspirada no bizarro e perturbador universo cinematográfico de David Lynch.
Explicando: em “Mulholland Drive”, as duas protagonistas femininas entram no misterioso “Club Silencio”, um teatro literal do absurdo em que tudo aparece no tipo de vívido, memorável e ilógico de um sonho.
Corta! O restaurante fica em Saint-Germain-des-Prés e pertence ao grupo francês Assembly. Uma luxuosa brasserie contemporânea com show de jazz no porão e um cinema de arte anexo, cujo cardápio de filmes vai de Jean-Paul Belmondo a François Truffaut.
Antes era um francês tradicional, dos mesmos donos do clube Lynchiano. Mais exatamente, fica a um quarteirão do Les Deux Magots, um café frequentado pela turma existencialista, de Camus a Sartre e Beauvoir.
De aspecto retrô (detalhe para a porta giratória em estilo Art Nouveau), o restaurante é comandado pelo chef Guillaume Sanchez, que tem tatuados uma faca no pescoço e um garfo ao lado de um olho. Dono de habilidades que lhe renderam uma estrela Michelin em 2019, no restaurante Neso, ele foi padeiro aos 13 e, hoje, serve pratos elaborados a partir da alta culinária francesa, mas com toques contemporâneos.
Uma excelente opção para iniciar, o ravioli frio de cavaquinha (servido frio) vem coberto de tinta de lula e uma explosão de mar na boca. De principal, o (peixe) turbot – que ganhou fama pelas mãos de Joel Robuchon – vem com manteiga de avelã e alho negro. E para finalizar, um ícone parisiense: Saint-Honoré, com açúcar na medida certa. O menu muda conforme a estação do ano.
Foto: Reprodução/Instagram/@silenciodespres
Neste inverno europeu que se aproxima, ele servirá jantares a quatro mãos com menus exclusivos e fechados por um dia, para cem pessoas. Por enquanto, só abre no jantar, mas em breve deve ter almoço.
O Silencio des Prés é o terceiro posto avançado do grupo, que mantém ainda o El Silencio em Ibiza, um clube de praia mais descontraído, com decoração inspirada na famosa série “Twin Peaks”.
Exatamente uma década após o lançamento do filme em 2001, Lynch criou o Club Silencio, a casa noturna que mudou a atmosfera abaixo da Rue de Montmartre. Para quem não dorme ou pretende esticar o jantar, funciona até amanhecer.
“Silêncio é algo querido para mim. Eu queria um espaço íntimo onde todas as artes querem se unir como um guru. Não haverá um espaço aberto para artistas famosos de criar como disciplinas virem aqui programar ou criar o que eles querem”, confidenciou Lynch ao “The Guardian”.