Bruno Calixto
Fevereiro, alegria. Muita festa? Todo dia. E assim, no embalo de Ivete Sangalo, que um pedaço do Setor 6 da Marquês de Sapucaí vem pegando fogo, transformando-se num QG de resistência e ativismo queer do Carnaval carioca. O CEP da diversidade é o camarote Folia Tropical, onde as noites dos ensaios técnicos das escolas do Grupo Especial foram animadas pela TriboQ, banda liderada pelo vocalista Beni Falcone, que abre a sequência de festas ali durante os desfiles, nesta sexta-feira (17.02).
“Um movimento ‘artivista’ (com ‘r’ mesmo) que mistura música e impacto social”, definiu Falcone, durante o lançamento do projeto que visa levar para o sambódromo a abrangência da luta LGBTQIA+. “Na avenida não há ninguém mais bonito que a nossa Tribo reunida. O evento, no palco do maior espetáculo da Terra, é para todas as pessoas, corpos, cores e identidades. Vem para a Tribo!”, completa.
Lançada em 2017, como Candybloco, a TriboQ ficou conhecida por criar e interpretar versões abrasileiradas de hits de divas pop. “A “fantasia” de bloco de Carnaval ficou pequena demais. Foi preciso repensar a identidade, evoluir, renascer”, diz Falcone.
Além da banda, DJs e outros artistas assumem a diversão no interior do camarote, não deixando ninguém parado na pista, enquanto lá fora, na varanda, é samba no pé e olho na passarela por onde passam as escolas que são a elite do Carnaval carioca. Muita pegação, pose para foto e aquele close na escola de samba do coração. A interação com os integrantes das agremiações rola solta também. Organizando, todo mundo se diverte.
“Nesse sentido, a TriboQ estabelece a construção de pontes para toda a comunidade enquanto negócio social. E assim, compromete-se ativamente com a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária”, ressalta o proprietário do Folia, Mickael Noah, conhecido por promover ações anticapacitistas, anti-homofóbicas e antirracistas.
O comissário paulista Victor Miranda, 34 anos, escolheu o Folia para sua estreia na Sapucaí: “O que me impressionou foi a energia, a recepção, a felicidade. Me senti dentro da festa com toda a emoção”.
Quem também se divertia por ali é Rochelly Rangel, embaixadora do TransGarçonne, uma rede de acolhimento para empregabilidade vinculada a um projeto de extensão da UFRJ. “É tão bom estar em um camarote e me sentir em casa para ser livre no meio dos meus.”
Em seu 11º Carnaval na Sapucaí, o Folia Tropical leva grandes nomes da MPB para as noites de desfiles. Entre as atrações em destaque neste ano, Teresa Cristina, Péricles, Alceu Valença e Jorge Ben Jor. São três andares, 3 mil metros quadrados e uma localização ímpar: no meio da avenida.
Fora dali, a TriboQ se despe da fantasia de baile e vira bloco, concentrando-se no dia 26 de fevereiro, às 10h, na Praça Mauá.
E a galera, oh-oh!!!
Axé, camarão e moqueca
A parte gastronômica do Folia Tropical é um quesito à parte cuja nota é 10! João Diamante (“Minha mãe cozinha melhor que a sua”) prepara, ali, algumas das suas criações mais aclamadas. Entre elas, picadinho, camarão cremoso e moqueca com banana e lâminas de coco. O criador do projeto social Diamantes na Cozinha vai pilotar o fogão e ainda torcer para as duas escolas do coração: Salgueiro e Beija-Flor.
Esse encontro aconteceu graças a uma parceria com o Prêmio Gastronomia Preta – idealizado por Breno Cruz, do Preto Gourmet e também curador do camarote na área de inclusão social e gastronomia.
“O evidenciamento do povo preto no Folia Tropical é algo que me alegra como homem preto. É o único camarote na Sapucaí com uma curadoria em inclusão social. Estamos na vanguarda com essa visão inovadora”, diz.
Cruz, criador do Preto Gourmet, uniu-se ao projeto Diamantes na Cozinha para contratar, treinar e dar oportunidades a pessoas em situação de vulnerabilidade que buscam esse mercado de trabalho.
Sabe como é, folião vazio não samba em pé!