Vilma Queiroz – Foto: Carolina Vianna
Conceituada fotógrafa de retratos, Carolina Vianna está buscando preencher uma lacuna na forma como mulheres são representadas e, consequentemente, na imagem que temos de uma mulher bela. Em uma nova série, em desenvolvimento, chamada “Pro-Age”, ela faz ensaios com mulheres acima dos 50 anos, tentando trazer tanto sua autoestima de volta quanto ressignificar o olhar do público.
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Segundo ela, trata-se de um projeto pessoal, mas que também diz muito sobre a experiência das mulheres na sociedade conforme envelhecem.
“Esse projeto surgiu da minha própria experiência como mulher. Tenho 38 ainda, mas como toda mulher, senti desde muito jovem como o valor da mulher na sociedade é muito associado a uma beleza da juventude. Pele lisinha, corpo durinho são características de pessoas jovens, e é o que mais entendemos como beleza.”
Adriana Moreira – Foto: Carolina Vianna
Parece que somos valiosas enquanto nosso corpo é jovem e forte pra maternidade e ainda somos mais inexperientes. Conforme envelhecemos ficamos mais independentes, mais fortes, menos domáveis e, consequentemente, para o mundo patriarcal, ficamos feias. Coisa que discordo completamente, acho que a beleza de cada indivíduo vem da sua força, criatividade, interessância, e esses elementos não tem nada a ver com a idade”, completa.
Conforme termos como anti-idade, caem em desuso, surgem novos mais positivos e que incentivam a autoaceitação e autocelebração, como o pro-age, escolhido para o título da série de fotos. “Acho o ‘Pro-Age’ importante em duas frentes. O primeiro ponto é a valorização das mulheres mais velhas, mostrar para todos que são lindíssimas mesmo fora dos padrões atuais de beleza.”
Cristina Seirio – Foto: Carolina Vianna
“O segundo ponto é mostrar pros mais jovens, homens e mulheres, que envelhecer faz parte da vida. Envelhecer não é uma doença, é um processo natural e que todos, se tudo der certo, vamos passar e temos que aprender a admirar essas pessoas e ver a beleza da vida em todas as suas fases. Se a gente não entender isso estamos fadados ao sofrimento.”
Ela reflete que o preconceito contra o envelhecimento também tem impacto em mulheres de todas as idades, como as mais jovens, incluindo adolescentes. “Essa cultura de valorização da pessoa muito jovem também deixa a gente num lugar perigoso para as meninas mais novas. Esse desejo e objetificação da juventude feminina é doentio para mulheres, somos assediadas desde muito pequenas por causa dessa visão estranha de beleza e do que é a mulher. Ou seja, quando você é jovem você serve como objeto sexual e quando envelhece não serve mais. Jovens ou velhas, estamos ferradas, somos sempre objetos. Acho que esse projeto é muito sobre humanização de todas as mulheres, tirar a gente desse lugar de utilidade e colocar numa posição humana”, pontua.
Gloria Lopes – Foto: Carolina Vianna
Vianna procurou primeiro pessoas conhecidas e próximas para testar o projeto, mas dos primeiros contatos, como a atriz Gloria Lopes, ela passou a conhecer mulheres e abordá-las.
“Acredito que a beleza está em amadurecer aceitando e vivendo a idade que se tem. Quando você se olha num espelho não vê beleza, mas na medida que você se conhece, passa a entender, aceitar e gostar daquela imagem. Aí está a magia do amadurecimento. Essa habilidade pode nos ajudar em todas as áreas da vida”, conta Gloria, que completou 70 anos.
A exposição digital está disponível no site da fotógrafa.