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Paula Lima – Consciência negra

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Paula Lima – Foto: Divulgação

Por Paula Lima

Consciência negra é entender quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É saber que todos os dias são dias de conscientizar sobre o que realmente importa: a vida de pessoas! É um dia especial para que todos reflitam sobre a história negra.

Consciência negra é sobre as ações a serem realizadas para que tenhamos dias melhores, mais dignos e justos.

É entender a urgência da mudança. A juventude negra está morrendo.

É entender o significado do apagamento histórico e valorizar as vozes que se juntam para o bem comum e do coletivo.

É entender que através de ações inteligentes e tecnológicas, caminharemos rumo às transformações sociais urgentes.

É saber que racismo reverso não existe. Nem tampouco a meritocracia.

É saber que a construção do orgulho negro se dá através da contribuição profunda dos ancestrais que aqui chegaram e resistiram. Se hoje estou aqui, essa vivência foi possibilitada por eles com muito sangue, suor e extraordinária inteligência.

É ter orgulho dos nossos antepassados.

É ter qualidade, competência e acreditar na potência.

É não aceitar que uma pessoa negra seja abordada e encaminhada à delegacia porque entrou e saiu rápido de uma loja e o vento fez volume na roupa, como aconteceu no último dia 17, com Júlio de Sá, criador de conteúdo do perfil @carioquicenegra. É preciso mudar a visão marginalizada e de marginal que os agentes de segurança pública têm sobre pessoas negras. É preciso punir quem não nos protege.

Consciência negra é saber que pessoas pretas, sendo homens ou mulheres são vigiadas e maltratadas em determinadas lojas desse País que tem mais de 54% da sua população negra, segurando uma tremenda onda emocional pela cor da pele, vivendo diariamente o racismo e o racismo estrutural.

É saber que, enquanto não houver pessoas negras ao lado de pessoas brancas nas mesmas condições e ocupando os mesmos lugares, tudo continua fora do lugar.

É entender que existem privilégios para algumas pessoas com determinado padrão estético e social. É saber que referências e a representatividade importam e mudam a história pessoal e do coletivo.

É ter liberdade e não medo.

É saber que quem passa fome é o pobre, e o pobre geralmente é preto. Pessoas negras foram abandonadas à própria sorte em 1888, após séculos de violência extrema.

É saber que o presidente é contra as cotas, mas a sua filha entrou sem teste em escola militar.

É se revoltar com pessoas se alimentando de ossos, revirando caminhões de lixo e milhares de famílias morando nas ruas, outras vivendo em situação de miséria enquanto o ministro da economia tem conta em paraíso fiscal, dentro de tantos outros absurdos.

É saber que fome, encarceramento e desemprego tem cor.

É saber que o Brasil não reconhece o próprio racismo. Que democracia racial não existe.

É saber que o racismo institucional interrompe o futuro próspero de uma pessoa não branca.

É falar e gritar por justiça pelo assassinato de João Pedro, Miguel e tantas outras crianças.

É saber que viemos acorrentados como cargas vivas e milhares morreram nesse trajeto. Milhares morreram nessa terra em que vivemos e ainda morrem. Milhares vivem em cárceres.

É saber que tentaram apagar as nossas memórias. É saber que tentaram falsificar e relativizar a nossa história.

É saber que ainda hoje existem pessoas negras vivendo em regime análogo à escravidão.

É fazer uso da lei quando alguém não negro disser: “você é minha empregada”, “aprende a cantar sua negra”.

É saber que injúria racial agora se configura também como racismo, e é crime com pena de 2 a 5 anos.

É saber que 77% das mortes que acontecem no Brasil são de pessoas pretas. É saber que qualquer movimento em falso de um homem de pele escura pode resultar em morte.

É saber que políticas públicas e privadas e ações afirmativas são essenciais para novos, bons, fundamentais e justos caminhos.

É ser a favor das cotas! É também o super podcast “Mano a Mano” apresentado pelo genial Mano Brown, que já conversou com Lula, Leci Brandão, Taís Araujo, Lázaro Ramos e Ludmilla, que, recentemente, com coragem, deixou de participar de um prêmio por sentir a injustiça, menosprezo e pelo sistema sonoro mercadológico discriminatório. É o homem negro que não tem preconceito em se relacionar com uma mulher negra por motivos históricos.

É ‘’Marighella’’, que agora tem a sua história contada em filme. É ter Seu Jorge como protagonista, que no filme assume a identidade desse homem, neto de escravos sudaneses que viveram na Bahia. O filme dirigido por Wagner Moura, homem branco, progressista, brasileiro e absolutamente necessário, conta a história de um herói negro e fala com abertura em todos os veículos sobre questões sociais e raciais primordiais.

É ser antirracista!

Consciência negra é saber que negros na sua imensa maioria não ocupam lugares de liderança e estratégicos. São impossibilitados. É necessário que essa ocupação ocorra de fato para que tenhamos diversidade, outros iguais e diferentes nesses lugares, para que tenhamos mudanças reais ao redor e ao entorno.

É sempre se reapaixonar por Milton Nascimento, que é pedra preciosa!

Que Cartola é encantado!

Consciência negra é saber que famílias negras são sagradas e lutam com amor pela prosperidade. É ver a beleza sonora do Youn.

É entender que a mulher negra ainda é a base da pirâmide, e pelo resquício da escravidão ainda é vista como um objeto sexual ou alguém que serve apenas para trabalhos subalternos. É lutar contra a falta de direitos e a invisibilidade.

É renascer lendo Carolina Maria de Jesus, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez,  Bell Hooks, Ângela Davis, Chimamanda.

É acreditar no futuro e no processo lendo Djamila Ribeiro, Joice Berth, Carla Akotirene.

É Conceição Evaristo, mestre em literatura, doutora em literatura comparada, como mulher e negra, dona de inúmeros prêmios, incluindo o Jabuti, dezenas de obras traduzidas para várias línguas! É saber que ela já é imortal!

É saber que a CUFA faz a diferença com a liderança de Celso Athaíde e Preto Zezé à frente.

É Grande Othelo! É Mussum!

É seguir o perfil e aprender com Nina Silva, criadora do movimento Black Money, eleita a mulher mais disruptiva do mundo. É valorizar os influenciadores Ad Júnior e Gabi de Pretas. É celebrar Erica Malunguinho e Erika Hilton, mulheres negras trans, que atuam na política brasileira.

É sentir a força da música “Testando” da magistral Ellen Oléria! É ver o poder de Iza, Liniker, Luedji Luna, Rael.

A saber que a Banda Black Rio fez parte do movimento Black Rio ao lado de Carlos Dafé, Cassiano, Luiz Melodia.

É sobre a existência de Tim Maia! O suingue, as letras históricas e a luz de Jorge Ben!

É o samba e o nosso valioso Fundo de Quintal!

É a voz do Péricles! O poder de Thiaguinho, bilionário!

São as minhas amigas Rachel Maia, Maju Coutinho, Patty Duraes, Valéria Almeida, Thelminha, Ana Flavia, Carol Barreto.

É saber do trabalho instrumental de altíssima qualidade de Joabe Reis, Amaro Freitas e Jonathan Ferr.

É sentir a potência da Lab Fantasma criada por Fióti e o genial Emicida, e ter esse amigo pra chamar de seu, um inspirador agente de mudança.

É ver e sentir a energia espiritual de Carlinhos Brown!

É Gilberto Gil, nosso mestre genial, eleito para ocupar a cadeira de número 20 da Academia Brasileira de Letras.

São os “Olhos Coloridos” de Macau, de Sandra de Sá!

É o talento e determinação de Rebeca Andrade e Ingrid Silva.

É potência, é afeto. É saber que sempre fomos lindos, somos lindos.

É ter orgulho de Glória Maria, Flavia Oliveira, Rita Batista, Lilian Ribeiro.

É a voz e a força da rainha Alcione!

É ouvir, conversar e aprender com Silvio de Almeida.

É também ouvir aqui da janela de casa um samba bom!

É saber festejar rainhas! Obrigada D. Ivone Lara, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra! É Zezé Motta.

É poder sonhar e ter o direito de tentar realizar.

É a feijoada e o almoço de domingo ao som de Martinho da Vila e Earth Wind & Fire.

É Larissa Luz no musical “Elza”!

E é Elza Soares, a voz do milênio!

É saber e ter a certeza que a carne mais barata do mercado “era” a carne negra. Agora não mais!

É ter a grande honra que tive em entrevistar o genial Djavan.

É acreditar em educação!

É a resistência, resiliência, futuro, amor, vida e vitória.

É ter consciência para revolucionar e avançar! É seguir em frente! É saber que nada nos vai parar. E por tantas e fantásticas contribuições, seguiremos com esperança, amor, força e lealdade! É saber que buscamos a igualdade, o equilíbrio, o respeito, e que não aceitaremos a injustiça e indignidade. Que lutaremos bravamente pelos nossos direitos, todos os dias, e que juntos somos todos os agentes da transformação. Juntos por um futuro melhor para todos!

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