Por Li Lacerda
Uma das participantes de maior destaque da edição especial de “No Limite 2021″, apesar de sua eliminação precoce, Angélica Ramos é, sem dúvida, uma grande inspiração para a mulher brasileira. Aos 39 anos, a paulista que já havia despertado o carinho de todo o País com sua participação no “Big Brother Brasil 15”, se mantém em visibilidade na internet por expor frequentemente as dores e delícias de conciliar a carreira em ascensão, sua própria individualidade e a criação da linda família que divide com seu esposo, Laurent Mougeot. Mas não é só. Já que racismo, sexismo, autoestima, falta de oportunidades, diferenças de classe, sexualização da mulher negra, esteriótipos e a busca por um lugar ao sol – sendo uma mulher preta também estão entre os temas relativamente polêmicos abordados nas redes sociais de Angélica, que confessou ter aceitado sua participação no novo reality para tentativa de buscar uma maior representatividade para o movimento.
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“Quando eu fui para o ‘No Limite’, eu fui mesmo com a intenção de me reapresentar, de repente me tornar uma referência, me tornando uma mulher com voz mais potente que inspira as pessoas as quais eu represento, como mulheres pretas, mulheres que tenham filhos de relacionamentos diferentes, mulheres que têm um histórico de vida em que foram pai e mãe ao mesmo tempo. E sou feliz por viver numa época especial, em que podemos aproveitar o potencial da internet para nos comunicarmos, passando a minha mensagem para um grande números de pessoas, de diferentes lugares, de uma vez só. E isso é incrível, porque acho que precisamos falar um pouco mais sobre assuntos que por muito tempo foram colocados debaixo do tapete. Isso é muito importante, apesar de ser desconfortável e arriscado falar sobre. Mas a ‘branquitude’, e não falo isso de maneira ofensiva, se sustenta quando evitamos o conflito racial e nos calamos em relação a atitudes racistas”, acrescenta.
Ainda de acordo com Angélica, as questões raciais hoje são discutidas de forma mais intensa, trazendo uma maior conscientização dos jovens sobre a luta antirracista. O que, para ela, nem sempre foi assim. “Eu não esqueci quem eu sou, de onde eu vim, o que eu conquistei, o tanto que eu batalhei para ter um pouquinho de voz hoje. Fui criada por uma mulher muito poderosa e isso me empoderou também. E isso fez com que mesmo numa infância/adolescência com pouca representatividade, que mantivesse sempre comigo essa questão feminina muito forte, essa resiliência, essa autoestima, nossa, lá no céu. Eu falo que sou bonita todos os dias e acho muito importante esse abastecimento pessoal do quão maravilhosa, o quão inteligente, cheirosa eu sou. A mulher preta é linda, e esse amor próprio, respeito e empoderamento devem ser exaltados”, pontua.
De volta à Bélgica – país onde desde 2018 Angélica mostrou um pouco do ensaio fotográfico feito no NovoTel, na Zona Sul do Rio de Janeiro -, numa versão mais ousada e empoderada, a ex-“No Limite” posou para as lentes do fotógrafo Márcio Farias e aproveitou os intervalos entre os cliques para também falar sobre a importância da representatividade da mulher preta.
“Falar sobre essas questões é como uma missão para mim, porque preciso usar a visibilidade que tenho hoje para inspirar e motivar outras mulheres pretas, que precisam de voz. Carrego elas comigo, e meu papel é dar a elas essa voz. E sinto que de alguma maneira estou conseguindo atingir meu objetivo. Recebo mensagens que falam sobre as minhas colocações, sobre essa minha ‘marca registrada’, que é a minha careca. Eu tenho cabelo, sou careca por opção. Mas vi que por meio dessa opção, dou força à luta de muitas mulheres em diferentes situações como cortes químicos, transição capilar, doença, escalpelamento… Então me sinto na posição de representar esse povo que me acolhe, me respeita e faz essa troca de carinho, respeito, “dororidade”, sororidade e empatia comigo”, conclui.