Paula Lima: “Mulheres além do arco-íris: força, esperança e sororidade”

Por Paula Lima

Olá! Um prazer estar aqui mais uma semana com vocês. Por sinal, que semana agitada essa, não? Decepcionante quando pensamos no caso Mariana Ferrer, após o conhecimento que tivemos do vídeo atroz do seu julgamento realizado em setembro.

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O caso foi amplamente discutido nas redes sociais e já entendemos, antes de mais nada, como mulheres que somos, que precisamos ocupar os lugares. Precisamos urgentemente de advogadas, promotoras e juízas. O machismo, a misoginia, a humilhação, o ataque à vítima e a sentença inimaginável demonstram a falta de respeito e a violência explícita contra a mulher.

Espero e desejo um novo julgamento. Espero que o estuprador, branco e rico, André de Camargo Aranha, ainda pague pelo seu crime. Espero que o juiz, Rudson Marcos, seja punido e investigado. Espero, sinceramente, que Mariana Ferrer fique bem. Que ela saiba que não está sozinha. Que outras mulheres não se calem, não desistam, não sintam vergonha e culpa.

Esse precedente aberto não procede. Estupro é estupro e isso não pode ficar assim. Não podemos viver assim, em constante perigo, sob insegurança jurídica. Assistam, se puderem, o vídeo no IGTV da comediante genial e feminista Giovana Fagundes – @giovanafagundes -, em que ela trata do assunto. Houve um trágico retrocesso na lei mas não retrocederemos. 

E precisamos falar sobre abuso. É uma questão de entendimento, reeducação, proteção e justiça. 

Mês passado a jornalista Ana Paula Araújo lançou o importantíssimo livro “Abuso – a cultura do estupro no Brasil”. Existe uma realidade que não se quer encarar. Uma mulher é estuprada a cada oito minutos no nosso país. Se continuarmos ignorando os fatos, continuaremos vivendo esse horror. Estão sendo divulgados vídeos com histórias duras do livro, interpretados por atrizes, como Nanda Costa e Erika Januza. Vale a pena ler, vale a pena ouvir e é preciso encarar de frente o problema. 

Um importante alerta lançado por Ana Paula: o que todos nós, homens e mulheres, podemos fazer para que o abuso não aconteça mais? 

É necessário que a gente fale, ouça, tenha acessos e troque informações. Não adianta acreditarmos em um mundo paralelo. Precisamos entender os sinais e evoluir em vários sentidos. Não somos únicas em relação aos nossos questionamentos e dores.

Nesta quinta-feira pela manhã, assisti ao “Close Up With The Hollywood Reporter”, de 2017, mas atemporal, em que as atrizes Taraji P. Henson, Emma Stone, Annette Bening, Naomie Harris, Natalie Portman e Amy Adams, consideradas as melhores do ofício naquele ano, falavam sobre seus filmes, atuações e descobertas, em uma mesa redonda, todas juntas. Foi uma delícia, revelador. Falavam também sobre suas inseguranças, incertezas, medos, falhas, personalidades. Essas mulheres, na sua maioria americanas e bem sucedidas, sentem e vivem coisas similares a todas nós mulheres.

Um exemplo é da atriz Amy Adams (“Grandes Olhos”, “Julie & Júlia”, “Trapaça”, “Prenda-me Se For Capaz” e “Dúvida” – indico todos),  que afirmou acreditar ter perdido muitos bons momentos por achar que, por vir de uma cidade pequena na Itália e acreditar não ter cultura e conhecimento suficientes, não poderia estar entre pessoas tão interessantes. Como se ela não merecesse estar ali.

Penso que vivemos nos auto-sabotando. Precisamos acreditar na nossa essência e sucesso, pelo reconhecimento que nos dão ou pelos nossos próprios sentimentos, inclusive nas coisas boas que falam sobre nós e nos acontecimentos que falam por si só.

Falando em atriz, filme, tratamento dado a mulheres e sobre mulheres incríveis, quero destacar e indicar aqui o filme “Judy – Muito Além do Arco-Íris” (2020). Ele chegou no Brasil no início do ano, mas só o descobri agora e estou fascinada, intrigada, curiosa e misturando admiração pela arte e um pesar pela vida real da incrível Judy Garland. Ela teve a sua cinebiografia retratada e foi interpretada brilhantemente, de forma “mediúnica”, por Renée Zellweger, que já foi amada e depois desprezada por Hollywood. 

Renée ressurge absolutamente gloriosa, dançando, dando a sua própria voz, literalmente, para se tornar Judy. É ela quem também canta no filme. 

Garland pisa no palco pela primeira vez aos 2 anos e se torna uma estrela aos 16 anos sendo a Dorothy de “O Mágico de Oz”, imortalizando a música “Somewhere Over The Rainbow”. Sou fã de cantoras dessas mulheres e adoro as suas biografias.

Judy, pelas mãos do estúdio de Louis B. Mayer e a mando dele, se torna viciada em anfetamina e remédios para dormir. Ele queria que ela funcionasse como um relógio para trabalhar na locomotiva que é um estúdio em Hollywood. Ele tinha um comportamento abusivo e dizia que ela estava fora do padrão de beleza. O filme conta os últimos dias de Judy, que teve a vida comprometida por conta da sua trajetória. Faleceu aos 47 anos, depois de trabalhar por 45. 

Ah, a Reneé, magistral, levou o Oscar de Melhor Atriz pela sua performance no filme!

Vendo tudo isso e todas essas histórias, penso como o cuidado, a atenção aos sinais e o amor por nós mesmas podem salvar vidas e nos levar para muito além do arco-íris. Fico pensando como, nós mulheres já evoluímos, mas como ainda há muito a ser percorrido. Que olhemos para nós mesmas e acreditemos!

Uma alegria de hoje, a potência inspiradora Kamala Harris, vice de Joe Biden na corrida presidencial rumo à Casa Branca, provavelmente vem aí! 

Estejamos fortes, atentas, acreditando no nosso potencial, denunciando abusadores e cuidando com amor das nossas crianças. Estamos bem quando todos estão bem. Sigamos com a cabeça erguida, porque sim, o mundo nos pertence e podemos absolutamente tudo. Não pode haver retrocesso.

Paula Lima é cantora, compositora e apresentadora. Atualmente, está à frente do “Chocolate Quente” na Rádio Eldorado. Também é uma das diretoras Na União Brasileira de Compositores (UBC).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site RG.