Sanches disserta sobre o papel do “artista do futuro” que deixa o ateliê em busca do mundo. Na foto, obra “Roden Crater” do James Sturell (Foto: Divulgação)
Ao longo da história da arte, os artistas tomaram como tarefa representar suas experiências da natureza. Muitas vezes, isso consistiu em criar uma imagem de alguma faceta do mundo natural que os impressionou em especial.
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Um dos avanços mais interessantes na arte do século XX foi a ampliação do conceito de “artista”. Artistas não são mais necessariamente pessoas que mostram uma obra representando a natureza ou algo, mas, também, criadores de espaços e oportunidades para vermos diretamente a natureza – ou algo – de forma mais imediata ou significativa.
A ampliação desse conceito está aumentando exponencialmente, a caminho de um lugar onde o “artista do futuro” terá como principal objeto de estudo usar a arte para impulsionar os processos de percepção, sensibilidade, cognição, expressão e criação dentro da comunidade, podendo, com isso, proporcionar emoções, questionamentos e – principalmente – propagar estilos de vida.
Um trabalho mais sobre a visão do interlocutor e menos sobre a visão do criador, apesar da criação continuar sendo fruto da visão do criador. Desta nova maneira, o artista se torna coreógrafo de uma experiência que podemos ter, ao em vez de registrador de uma experiência que ele mesmo teve.
Ainda estamos digerindo as plenas implicações desta interessante mudança histórica, que distancia cada vez mais os artistas do ateliê e do cavalete e lhes dá aspectos em comum com diretores criativos, arquitetos e planejadores urbanos, cientistas e oradores. O que o identificará como artista será o interesse pela verdadeira missão histórica da arte: promover compreensão sensorial do que mais importa na vida.
O “artista do futuro” cria situações, que podem ser uma torre, uma cratera, um jantar ou um parque de diversões, para os acontecimentos que promoverão os valores aos quais a arte sempre se dedicou. Assim, não devemos nos surpreender, nem ver como uma perda de papel usual da arte, se muitos artistas das próximas décadas não criarem objetos tradicionais e passarem a enfrentar diretamente e missão subjacente da arte – mudar a maneiro como vivenciamos o mundo.
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Rafael Sanches – Colunista de arte do Site RG
Sanches é um artista multidisciplinar que confunde as linhas entre arte, arquitetura e moda, entrelaçando desde a criação de obras de arte tridimensionais até o design de futuros espaços “reimaginados”. O artista é conhecido por sua incansável experimentação de formas, materialidades e formatos em muitos gêneros de trabalho. Abrangendo esse conceito tipográfico que vai além de letras e palavras – formando forte comoção estética, ele se transformou em um dos novos artistas contemporâneos mais requisitados do País.