Formada em Artes Plásticas pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) e com passagem pelo curso de Direito na Faculdade do Largo São Francisco (USP), Elisa Stecca estudou joalheria, trabalhou em grandes veículos como produtora de moda, viajou o mundo, escreveu dois livros e tem forte ligação com o belo. Definir Elisa em poucas palavras seria impossível, talvez o mais próximo seria “multitasking” devido à quantidade de coisas que faz concomitantemente.
Após o lançamento do seu segundo livro, “Pergunte o Oráculo”, conversamos com Elisa sobre sua vida, família, planos e espiritualidade, veja a seguir:
Fale um pouco da sua trajetória, como iniciou no mundo das artes, moda e joalheria? Como você se define?
Eu diria que sou uma esteta, a minha busca é sempre pela beleza. Cursei durante seis meses duas faculdades porque tinha uma visão muito romântica do Direito. Eu gostava da ideia de estudar no Largo de São Francisco (USP), onde o Álvares de Azevedo tinha escrito sua poesia moderna entre outros tantos que passaram por lá… Enfim, tinha essa visão romântica, mas na prática senti que seria muito árido para mim.
Sempre tive essa questão com a beleza e a arte desde muito pequena, fazia minhas bijuterias e vendia na escola, sempre desenhei, fiz aula de balé e gostava de cantar. Tive uma formação bem ampla em todas essas manifestações artísticas.
Entrei nas duas faculdades – Artes Plásticas e Direito, já na faculdade, comecei a trabalhar muito cedo. Comecei a fazer figurino para teatro e balé. Fazia cartazes, participava de salões e minha carreira estava indo muito bem. Já tinha feito monitoria para a Bienal de São Paulo, tinha feito várias exposições coletivas importantes. Também fiz duas exposições individuais importantes no Centro Cultural de São Paulo e na FunArte, no Rio.
Tudo ia muito bem e então me casei. Vi que precisaria realmente de um emprego. A pessoa que tinha feito o meu vestido, na época era um jovem estilista, chamado Reinaldo Lourenço. Ele falou “Ah, você se veste tão bem, não gostaria de trabalhar com moda?”, e me indicou para ser produtora de moda no jornal “Folha de São Paulo”, cuja editora era a Lilian Pacce.
Virei produtora de moda, nessa época o redator era o Zeca Camargo, o repórter era o Mário Mendes e o Zé Simão. A gente tinha essa ilha da fantasia onde a gente trabalhava e as coisas iam fluindo. Fui trabalhar na “Cláudia”, na “Cláudia Moda”, depois fui convidada para outros veículos, e minha carreira plástica sempre em paralelo, não estava como o centro das atenções.
A maneira que eu concebia os meus editoriais de moda era muito pessoal. Eu desenhava tudo, vinha com as mais variadas referências, do cinema, das artes, era um processo muito gostoso, muito livre.
Aí, achei que a joalheria seria uma maneira de juntar essa minha vivência de moda com a minha prática artística escultórica. Foi então que lancei minha primeira coleção e foi super bem recebida.
Em seguida as pessoas me perguntavam como usavam aquilo e eu acabei fazendo uma linha de roupa, fiz um desfile performático que chamou a atenção de Paulo Borges. A “coisa” foi indo, indo… E a Glória Khalil me encomendou uma coleção e as coisas foram indo mais rápido.
Como é essa sua ligação com o mundo da moda?
Gosto muito de moda, de roupa, mas o business da moda eu acho um dos mais cruéis que existe no mundo. Muito volátil e também não era a minha expressão, meu foco sempre foi a expressão da “coisa” e não o business em si. Gostava mais de mexer com inconsciente coletivo, quais eram os desejos, propor situações poéticas. Na época os desfiles eram muito assépticos, então eu era muito criticada por fazer essa coisa mais performáticas.
Eu adoro o desfile, que nada mais é que uma peça de teatro que você faz para durar três minutos.
Fui aos poucos migrando para arte. Cheguei em um ponto que quis parar e pôr o foco na produção de joalheria. Estava cansada de ter que explicar para as pessoas que o meu trabalho é arte. Resolvi então fazer um marco nisso.
Tive uma questão pessoal, me separei depois de um relacionamento de 15 anos. Foi um processo muito dolorido com duas filhas, então foi uma catarse eu escrever um livro onde eu narrasse todo esse processo e onde eu ilustrasse esse livro.
Me conte mais sobre esse seu primeiro livro.
É um livro de pensamentos diários, que são 31 dias, 31 pensamentos, 31 trabalhos meus que fugissem à joalheria, que eu tivesse desenvolvido ao longo desse tempo para retomar e mostrar as pessoas o que eu estava fazendo.
Li que a ideia inicial do seu primeiro livro era falar sobre relacionamentos, ainda pensa em escrever sobre o assunto?
Eu tenho um livro já começado, ele tem título, ele já tá bem encaminhado. É um livro sobre relacionamentos, mas também é um livro sobre o amor, doenças de amor e coisas que passam por aí. Não sou escritora, não é a minha linguagem escrita, mas gosto de escrever nos tempos do Twitter. Gosto dessa ideia de fazer textos curtos, profundos, com muito significado, combina comigo, e gosto também de imagens.
A internet tem textos curtos e imagens fortes, tanto que meu livro surgiu em função do Facebook. A partir dos meus textos de facebook comecei a ter muito feedback das pessoas se identificando com aquilo que eu estava escrevendo.
Qual o seu objetivo com o primeiro livro?
Ele é um livro onde eu procuro dar às pessoas todo o aprendizado que eu tive nos meus momentos de crise.
Desde o lançamento do primeiro livro que minha vontade era ter algo nesse formato de caixinha, a minha editora trabalha muito nesse formato. Então comecei a fazer um livro de cartas, com esse conteúdo, mas não estava ficando bom. Meu editor falou que eu precisava fazer algo que fosse mais dinâmico e interativo.
A questão das cartas é como se fosse um jogo de leituras. Fiquei com aquilo na cabeça, até que decidi fazer um livro que eu gostaria de comprar, um livro de consulta ao oráculo, que é uma coisa que eu sempre fiz, mas que misturasse todo os oráculos com os quais eu me consultei, astrologia, tarot, tarot mágico…
Todo meu trabalho é voltado para o sensorial, a transcendência, o contato com o divino, o sagrado, é sempre essa a minha busca, seja através de uma pedra, uma escultura, um silêncio, seja o que for, então apareceu o “Pergunte ao Oráculo” (o segundo livro).
Você tem filhas jovens, elas pensam em seguir seus passos nessa carreira artística?
Tenho duas filhas, uma de 19 e outra de 20. A minha filha de 20 anos é artista também, ela tem uma carreira, já está expondo nos salões, é excelente pintora e desenhista, mas ela estuda psicologia e quer seguir essa carreira.
A minha filha de 19 é extremamente musical, é uma artista da voz. Canta e grava suas coisinhas, mas estuda administração de empresa. Acho que como elas nasceram dentro de um ateliê e a arte sempre foi natural para elas, sempre procurei complementar essa formação com coisas práticas, com matérias de exatas, com muito conteúdo. Acho que elas veem também que não é um métier fácil. Uma coisa é você ter talento, outra coisa é você fazer da arte o seu métier. Acho que elas viram que não é fácil.
Para um artista a criação é a parte mais fácil porque é natural para gente criar. Sou uma pessoa com uma mente que cria o tempo todo. Acho que minhas filhas vão ter sempre a arte como base.
Como funciona o processo de criação de um livro?
Eu queria que meu livro fosse uma joia minha! Queria que ele fosse superelaborado e fosse no formato de bolso. Eu que fiz a capa, as ilustrações, escolhi a cor da capa de acordo com o pantone do ano e quis que o desenho fosse metalizado que remetesse a uma joia.
O oráculo não é um capricho meu, é uma sabedoria realmente pesquisada. As respostas efetivamente respondem as questões de quem consulta.
O que eu queria deixar claro é que não é porque sou uma artista e que tenho um nome muito atrelado à moda e ao design que fiz uma coisa que não tem um pressuposto. Ele é um trabalho extremamente respeitoso. O que eu gostaria de deixar bem claro, humildemente, é que ele é um livro muito respeitoso à sabedoria do universo e feito com muito amor.
Há alguns anos você parou de beber e usar qualquer substância que te deixasse fora da realidade, foi nesse momento que focou na espiritualidade?
Não, eu sempre fui uma pessoa com muita curiosidade espiritual, o que acontece é o seguinte, quando você está bebendo ou usando qualquer substância que te tira do seu centro, essa espiritualidade se volta para coisa fantasiosas, então você fica meio confuso.
O que eu fiz quando fiz essa opção realmente de meditação, de centrar, de espiritualizar, foi me livrar de relacionamento tóxicos. Foi realmente canalizar melhor essa energia criativa.
Você tem alguma religião?
Eu sou praticante da Seicho-no-ie do Brasil. A Seicho-no-ie é uma filosofia religiosa que nasceu no Japão no começo do século 20. Ela não tem um dogma, mas ela tem práticas de amor e bondade, então a Seicho-no-ie responde muito o meu desejo por espiritualidade.
Não gosto muito de religião, porque religião significa religar, que é nos ligarmos novamente a Deus e ao sagrado e eu não preciso ser religada porque nunca me desliguei. Acho que as religiões que serviriam para nos ligar acabam nos separando. Você começa a excluir. Você escolhe uma religião para você e exclui a do outro.
Qual o seu propósito com o “Pergunte ao Oráculo”?
Meu propósito com esse livro é transmitir para as pessoas um pouco da vivência e dar uma resposta. Eu sei a ansiedade que é, todos nós temos as nossas questões e o que eu pensei nesse livro foram três questões básicas, macroquestões que todo ser humano tem, que é o desenvolvimento pessoal, os relacionamentos e o trabalho, são as grandes áreas que todo mundo que uma direção. As vezes você quer uma opinião isenta sobre uma coisa.
Quais são seus próximos passos?
O meu trabalho plástico está muito focado no meu trabalho de artista, por exemplo, tenho uma parceria com a Dpot, onde é a minha galeria aqui em São Paulo, onde eu desenvolvo no mínimo quatro exposições por ano e é um grande sucesso.
Acabei de desmontar uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, que é uma exposição tátil, inclusiva.
A joalheria é uma coisa que me acompanha sempre, porque a joalheria até o renascimento era considerada a grande arte, ela era a mistura da alquimia que estava muito em voga, a tecnologia mais avançada estava toda voltada para os maquinários e a ourivesaria. A joalheria sempre vai estar comigo como mais uma linguagem, porque pra mim tanto faz estar escrevendo um livro, fazendo um colar, pintando um quadro, fazendo uma escultura, sempre sou eu de alguma maneira me expressando.
Agora estou preparando especificamente para o livro essa pequena exposição de joias, tendo como tema essa serpente que come o próprio rabo (que significa o fim de um ciclo e o início de outro).
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