Por Rodolfo Krieger, baixista da Cachorro Grande
Especial para RG
Viajar sempre foi o meu forte, pois toco em uma banda de rock, a Cachorro Grande, e passo todos os fins de semana na estrada. Cada dia durmo em um lugar diferente, isso quando a minha cama não é um ônibus, uma van ou, às vezes, até o chão do aeroporto.
Este ano, depois de muito tempo sem fazer uma viagem internacional, resolvi tirar 15 dias de férias. Minha namorada, Thais Pimenta, e eu conhecemos um casal de amigos, Pedro Beck e Marina Abadjieff, que resolveram vender tudo que tinham no Brasil e comprar um motorhome para trabalhar viajando pela América do Norte através da agência que criaram, a We Are Alive.
Quando eles vieram se despedir de nós, em dezembro do ano passado, fizemos um jantar em casa. Bebemos algumas taças de vinho e Thais e eu decidimos comprar ali mesmo as nossas passagens para visitá-los. O roteiro que criamos foi o que fizemos de fato, de San Francisco a Los Angeles pela Highway 01 e a volta de LA para SF pela Interstate 5. A partir daí, Thais e eu decidimos que iríamos permanecer por 5 dias na cidade mais incrível da Califórnia, San Francisco. O nome da viagem? Magical Mystery Tour.
Já na chegada em Frisco, conheci um cara que trabalhava no aeroporto e tinha visitado o Brasil. Supersimpático, conversamos sobre várias coisas, incluindo samba, futebol e Rio de Janeiro. Logo chegaram Pedro e Marina, nossos amigos, num trailer dos anos 80, uma mistura de hippie freak com “Breaking Bad”. Junto com eles, mais dois cachorrinhos maravilhosos que foram meus melhores amigos da trip, Sofia e Anthony.
A Highway 01 é fantástica e os americanos têm uma cultura que eu acho incrível: viajar com uma casa sobre rodas. A estrutura que os RV e State Parks oferecem para os viajantes é impecável. Na maioria das cidades, você encontra um para se hospedar – aliás, indico reservar antes. Basta pagar uma taxa (média de US$ 15 por pessoa) e conectar na sua vaga luz, água e esgoto, o que transforma o motorhome em um lugar completamente habitável. Inclusive, muitas pessoas optam por morar em lugares como esse. Não se impressione se conhecer alguns casais mais velhos que, depois de se tornarem independentes dos filhos, decidem dar um novo rumo na vida e colocar o pé na estrada.
A minha sugestão é que, se você for fazer essa viagem, converse com o máximo de pessoas que já exploraram essa região. Pesquisas na internet também são ótimas para ajudar a criar seu roteiro.
O mais louco de viajar dentro de uma casa é a diversidade de locais em que você pode parar. No primeiro dia, fiquei em um RV Park em Half Moon Bay, uma praia pequena da orla pacífica. Já em Malibu, passamos dois dias em cima de uma montanha à beira mar, onde conseguia enxergar a imensidão do Oceano Pacífico e ainda podíamos conferir algumas baleias transitando pela água.
Duas cidades, dentre as que mais me chamaram a atenção, foram Santa Mônica e Santa Cruz. Ambas possuem um parque de diversões na beira da praia, o que dá uma sensação de psicodelia. Em Santa Cruz foi ainda mais maluco. O dia em que passamos por lá não estava muito cheio, havia um clima de cidade mal assombrada, um barato! E também vale muito a pena visitar Carmel pra ficar de olho na arquitetura. Não deixe de passar por Monterey, outra cidade incrível que ainda respira o festival de 1967.
Ainda tive a oportunidade de dormir pela primeira vez em um parque dentro de uma floresta. O Big Sur State Park é um espetáculo à parte de natureza, cheio de árvores, esquilos, pássaros, lagos, enfim, inesquecível. Foi lá, inclusive, que fizemos nossa primeira fogueira da viagem.
Mas o lugar mais mágico de todos é, indiscutivelmente, São Francisco. Moraria lá facilmente. O espírito de liberdade da cidade é algo que você respira e vicia. Além disso, as casas vitorianas fazem você se sentir dentro de um filme ou de alguma viagem psicodélica. Nos hospedamos no hotel Inn San Francisco, em Mission – recomendo a todo mundo. Você se sente completamente acolhido pelas pessoas que trabalham lá, além de ter um rooftop sensacional e um ofurô que funciona 24h.
Logo que chegamos, deixamos as malas e seguimos para a famosa esquina Haight-Ashbury, onde surgiu o movimento hippie, em 1960. E, como um bom colecionador de discos, não pude deixar de garimpar alguns LPs nos sebos e na Amoeba, uma das maiores lojas do mundo, onde rolam sempre alguns shows. Nesse dia estava rolando o Violent Femmes.
E também encontramos algumas casas de alguns artistas como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Greateful Dead.
Outra região que é incrível é Castro, talvez o bairro mais livre do mundo, dominado pela comunidade LGBT. San Francisco é uma cidade fácil de andar, você consegue fazer tudo de ônibus e, se apertar o cronograma, rola fazer até dois bairros por dia.
A cena beatnik também foi muito forte por lá, vale a pena caminhar pelo bairro boêmio North Beach, onde fica o Vesuvio, bar que era frequentado por toda a geração beat como Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Fique de olho nas livrarias da vizinhança. Para encerrar, um passeio que não pode faltar é atravessar a Golden Gate e ir almoçar em um restaurante italiano em Sausalito. A culinária é maravilhosa e os vinhos californianos, não preciso nem mencionar, são ótimos.
Ficam aqui algumas dicas sobre uma viagem que todo mundo deveria fazer algum dia com diversas configurações, moldando cada um do seu jeito. A diversão e aquela sensação de não querer mais ir embora são garantidas.