Por Chris Bicalho
Ou duas, ou três, quanto mais noites melhor. Invenção dos japoneses, eles, que largaram na frente na era do pós-luxo (tempos de amar e desejar o que não pode ser fabricado em série por fábricas chinesas), agora fazem reverência a um projeto ‘maxi minimalista’ que mistura três conceitos em um só. Projeto do arquiteto Tadao Ando, o hotel-museu-galeria Benesse Art Site fica (bem) escondida na ilha de Naoshima, a três horas de Tóquio, a um passo do céu, perto do que a gente entende como zen.
A missão de integrar arte e arquitetura à paisagem é de uma contemporaneidade assustadora. Aqui, a não-arquitetura de Ando emociona por nos livrar de um impacto visual brutalista e surpreende pelas formas precisas e sem uma viga além do necessário. O espaço é neutro, neutro como manda a cartilha nipônica – na verdade, ele funciona apenas como um apoio ausente de cores para que elas, as obras de arte espalhadas pelos jardins e salões, possam sobressair em grau máximo.
O acervo permanente é feito com trabalhos de site-especific, assinados por artistas que lá ficaram hospedados e que deixaram suas marcas pela ilha, no local escolhido pelos próprios. Tem intervenções de Sol LeWitt, Thomas Ruff e Jennifer Barteltt + Yayoi Kusama (a dama das bolinhas), que instalou a sua grande abóbora num píer, e Cai Guo-Qiang, criador de um parque de banho rodeado por pedras esculturais com formas de bichos – isso depende da viagem de cada um.
E por dentro, um conjunto de salões de exposição faz as vezes de lobby. Telas expostas nas paredes escondem portas que revelam quartos simples, apenas 10, sem exuberâncias mobiliárias ou, ironia deste destino, qualquer obra de arte no pedaço. A única exceção fica por conta de um anexo, batizado de oval, onde repousam maravilhas de Keith Haring, Richard Long e novos talentos do atual cenário artsy do Oriente. Must go imediato, antes que os chineses copiem…
RG quer ir!
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