Cantora Rita Lee publica carta sobre coronavírus na revista Veja. (Foto: Reprodução/Instagram)
Em texto inédito publicado na revista Veja deste domingo (31.05), a cantora e ícone do rock nacional Rita Lee falou que fazer de grupo de risco do coronavírus, por ser idosa, não é uma chatice para ela pois ela não irá morrer disso.
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“Fazer parte do grupo de risco por eu ter 73 anos pode ser uma chatice, mas não para mim. Não vou morrer desse vírus voodoo e peço ao Universo que minha morte seja rápida e indolor, de preferência dormindo e sonhando que estou com minha família numa praia do Caribe”, conta a artista.
A cantora vive há mais de oito anos em seu sítio em São Paulo, longe do show bussiness desde que se aposentou dos palcos. Desde o início do isolamento social, ela chegou a dar umas palhinhas em algumas lives, mas segue reclusa se cuidando.
Para ela, ser grupo de risco não é novidade. No texto, ela afirmar ser grupo de risco desde sua infância – por ter ateado fogo no teatro do colégio quando foi recusada no papel de Julieta.
Foi grupo de risco também durante os anos de regime militar no Brasil, uma vez que foi uma das artistas mais censuradas e perseguidas do período de ditadura brasileira.
Por fim, antes de desejar saúde física, mental e espiritual, ela revela considerar que o pior vírus é a humanidade. “A humanidade, sim, é que tem sido o grande vírus, fazendo o Jardim do Éden, nossa Mamãe Natureza, virar o maior grupo de risco”, completou.
Leia o texto de Rita Lee na íntegra para a Veja desta semana.
Fazer parte do grupo de risco por eu ter 73 anos pode ser uma chatice, mas não para mim. Não vou morrer desse vírus voodoo e peço ao Universo que minha morte seja rápida e indolor, de preferência dormindo e sonhando que estou com minha família numa praia do Caribe.
É sequência natural que velhos morram antes de jovens e crianças, mas não precisava ser nesta situação apocalíptica de fim do mundo, apavorando vovôs e vovós. Os milhares de corpos que temos visto empilhados em cemitérios precários e caminhões frigoríficos expõem os humanos a mais um perigo, contaminando o solo por sei lá quanto tempo com um vírus cuja consequência é desconhecida. Não seria melhor uma nova lei para organizar uma cremação desses corpos? Há séculos o fazem na Índia e com o maior respeito, tudo diante de um fogo sagrado que transforma os defuntos em cinzas e higieniza o planeta Terra.
Pensando bem, eu sempre fui considerada grupo de risco. Desde que entrei para o mundo da música, fui a artista mais censurada na época da ditadura no país, por ser tida como uma mulher perigosa para os bons costumes da família brasileira.
Fui grupo de risco no colégio, quando me arrisquei tascando fogo no cenário do teatro por ter sido rejeitada para fazer o papel de Julieta.
Sou grupo de risco desde que luto contra os donos do poder, declarando meu repúdio aos maus-tratos de animais em rodeios, circos, aviários, matadouros, zoológicos, touradas, vaquejadas, ao contrabando de bichos silvestres, aos criadores gananciosos, às rinhas de galos e cachorros e a zilhões de outras barbaridades cometidas pela raça humana, que trata animais como objetos.
Desde que deixei os palcos, há oito anos, vivo confinada na minha toca, numa casinha no meio do mato cercada de bichos e plantas, só saindo para ir ao dentista, fazer supermercado, comprar ração para meus animais e, eventualmente, visitar meus netos. Hoje, faço tudo pela internet e rezo para não quebrar um dente. Sou parte de um grupo de risco saudável e esperançoso, por acreditar que esta pandemia faz parte de um propósito Divino para conscientizar a raça humana a respeitar nossa Nave Mãe Terra de toda a destruição que vem sofrendo, em todas as suas formas de vida. E revelando que a humanidade, sim, é que tem sido o grande vírus, fazendo o Jardim do Éden, nossa Mamãe Natureza, virar o maior grupo de risco.
Desejo a todos saúde física, mental, psicológica e espiritual.
P.S.: aproveite a quarentena e adote um bichinho. O melhor amigo.