Vamos falar sobre a palavra da moda: “diversidade”. Depois da novela em horário nobre com temas sobre a transexualidade, as famílias tupinambás levaram o assunto para as mesas de jantar. E diante da repercussão impactante, quase ninguém se atreveu a cometer antropofagia. Mas a realidade é muito mais dramática do que se mostra na tevê. No dia a dia, nada de purpurina e de glitter, o que a gente vive, de fato, é bem “nude” mesmo – com o perdão do trocadilho. Somos deixadas de lado como se não representássemos absolutamente nada. E aí não adianta o textão da Gloria Perez e o discurso de toda a turminha pró-seja feliz. As pessoas precisam praticar aquilo que elas pregam. Só conhece a dificuldade quem realmente passa por ela – e ser travesti não tem nada de fácil ou de glamouroso. Muito pelo contrário, é uma luta cotidiana ser enxergada, e nem vou falar sobre a questão do respeito… Vou ilustrar esse desabafo com algo que me aconteceu ontem, dia 18 de outubro, durante a entrega do 5º Prêmio Bibi Ferreira de Teatro e Musical. Para os que não sabem, além de drag queen, sou figurinista, maquiadora, colunista de um grande portal de Internet, YouTuber e ainda tenho uma empresa de uniformes. Com toda a minha expertise fui escalada para criar o visagismo de uma peça de teatro recheada de atores renomados. Idealizei cada traço e dei o máximo de mim para que as transformações fossem as mais realísticas possíveis. E consegui, tanto que a peça foi indicada nesta categoria para o prêmio Bibi Ferreira. O detalhe desagradável é que o nome que constava para o recebimento do troféu não era o meu, mas o do profissional que acompanhou o musical, ou seja, estavam coroando a criatura e não a criadora. É aí, num universo que se diz “entendido”, que a palavra diversidade não passa de balela. Ninguém quer gente como eu por perto – ali eles se misturam apenas entre os iguais. Não deixei barato, pois era a chance de ter um justo reconhecimento depois de uma carreira de mais de três décadas. Com certo esforço, eis que fui convidada a participar da entrega e até mereci fotinho na hora que anunciaram o prêmio. E ganhei em voo solo – embora não tenha subido ao palco sozinha. O ápice desse dramalhão é que fui embora sem o troféu conquistado. O mesmo me foi tomado das mãos nos bastidores… É assim que termina a tal ladainha que fala sobre a diversidade: gente como eu tem que se recolher à insignificância, e gente como eles seguem felizes para o brinde que contempla a inversão de papéis. Triste, muito triste.