por Maitê Proença
Na novela Passione, Fernanda Montenegro e eu éramos sogra e nora. A primeira cena a ser gravada da trama aconteceu em um restaurante de São Paulo. Viajamos para a cidade no dia anterior, nos instalamos, e, à noite, junto com a diretora Denise Saraceni, discutimos os caminhos dos personagens, as possibilidades, as intenções, tudo relativo ao dia seguinte. A conversa foi longe e cheia de considerações sobre a história a ser contada nos próximos meses, ficamos mais de três horas nisso. Dormi tranquila, segura de que havíamos mapeado um bocado do que havia pela frente.
Manhã seguinte, 8h, preparamos maquiagem, figurino, e com tudo bem cuidado, rumamos para a locação. A cena não saiu de primeira, nem de segunda, regravamos incontáveis vezes. Lá pelas tantas, curiosa, um pouco perplexa perguntei a Fernanda se ela estava nervosa. E ela disse algo assim:
– Muitíssimo. Se eu soubesse o rumo a tomar, mas as possibilidades são todas, podemos fazer isso de 60 maneiras diferentes, e precisamos escolher uma (que definirá muito do caminho a seguir depois)!
Eu tinha maior atriz do mundo na minha frente, vulnerável diante de uma situação que ela já havia encarado e vencido milhares de vezes ao longo da carreira. A conversa da noite servira como especulação, mas agora era pra valer, e só fazendo, experimentando quantas vezes fosse necessário, chegaríamos ao ponto de excelência.
A seriedade, o envolvimento, o foco absoluto na concepção de um novo personagem, era isso que se construía ali, do outro lado de uma mesa de restaurante. Aquele flagra de humildade me calou para sempre. Foquei e fui junto. Custou, mas a cena ficou linda. Eram seis da tarde!
Maitê Proença é colaboradora do site As Meninas, parceiro de RG.