Por Maitê Proença
Será que acha, que ao se apresentar de peito aberto, ela descobrirá que ele é uma besta? Disso ela sabe, ora. Como pode inteligência tão fulgurante carregar um emocional brutalmente atrofiado como é o dele? Culpa da mãe, sempre é.
Brinque com crianças de sua estatura, e depois, arranje uma mulher feiosa e burra, do seu tamanho, filhinho. Um homem crescido tem que matar a mãe, catar a autoestima afogada no pântano das depreciações e seguir com dignidade. O homem de que falo não tem corpo, não possui libido ou coração, reside na cabeça, pensa e fantasia tormentas, enxerga as sombras das coisas, não vê as coisas. Tem a fragilidade de um menino de quatro e o desespero congelado de um velho no corredor da morte. Ela o paralisa. A afeição que a mulher lhe dedica jamais será suficiente para que sinta paz. Quanto maior o amor, mais silêncios invadirão os dias daquela parelha, maiores serão as omissões do homem doente, suas desculpas e mentiras. Quando ela dá a cara a tapa, ele bate forte, ofende. Depois volta implorando misericórdia porque só ela faz sentido no mundo torto que ele inventou para se lastimar e destruir. Ela cuida de suas feridas abertas, lambe uma por uma até sua boca ficar amarga e purulenta. Cospe e recomeça. Teria feito isso mais cem vezes se ele não tivesse lhe chutado a face por não suportar o enternecimento que incendiou seu tórax enquanto tentava odiá-la para nunca ter de perdê-la, um dia.
Ela se foi.
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