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SP: Elas fazem a festa! Conheça oito mulheres que são produtoras na noite

Por André Aloi

Possivelmente, enquanto você estiver se divertindo em alguma festa na capital paulista, elas vão estar trabalhando. Seja no revezamento da cabine de DJ, seja resolvendo problemas com os frequentadores. RG listou oito mulheres que vêm se destacando nesse mercado, formado quase que em sua totalidade por homens. Existe preconceito velado, por vezes, sentem-se constrangidas e puxão de braço é situação recorrente. Isso quando o cliente não se rebela: “Quero falar com ‘O’ gerente”.

Aos 27 anos, Lily Scott está neste meio há pelo menos cinco. Atualmente, trabalha como relacionamento no Grupo Vegas – sob seu guarda-chuva estão casas como o Club Yacht, Lions etc. Mas também organiza festas próprias. Uma delas é a temática Mundi, que acontece bimestralmente, e rola neste sábado (07.05), no Cine Joia. “Em um meio em que há tanta luta por igualdade, é difícil acreditar que alguns ostentem ou preservem discursos desrespeitosos e machistas. Não estamos aqui para medir forças, mas para somar”, argumenta, dizendo que esse preconceito é sustentado – em parte – por produtores homens que não acreditam no espaço delas.

Dentro do universo Pop, ela e suas parceiras Eleonora Branco, 31 anos, e Priscila Transferetti, 31, tem tentado levar novas experiências aos convidados. Nesta edição, por exemplo, pretendem transformar o Joia na capital japonesa Tokyo por meio de personagens, cenografia e identidade musical. “O público tem ficado mais exigente e não me refiro somente à estrutura e atendimento dos espaços, mas também ao conteúdo apresentado, proposta dos projetos e line-up. Vivi o fim de uma era em que as pessoas frequentavam os clubes e não selos, como atualmente”, comenta Lily.

Ainda neste sábado, acontece a festa diurna “timeless”, que segue para um sunset, cuja produtora é Ariella Portela, de 26 anos, da Audio Club – os últimos seis dedicou-se à produção de festas e shows profissionalmente, mas desde pequena esteve envolvida no ramo por causa de sua família. No auge de seu 1,60m de altura, sente preconceito por parte de fornecedores, empresários e clientes. “Existem homens que demonstram resistência em respeitar uma liderança feminina. A baixinha chega na roda para resolver um problema com o cliente, que está claramente alterado, e a única coisa que o cara consegue falar é: ‘eu quero falar com O gerente’. Por que essa baixinha não vai cuidar da cozinha?”.

Ela encara com naturalidade esse movimento de perpetuação da mulher na noite paulistana como reflexo da sociedade: “Observo uma onda de pessoas mais empoderadas em relação às suas próprias vidas. Trabalhar em banco já não é mais primeira opção, trabalhar com o que se gosta e ser feliz é a primeira opção”. Ariella fala que trabalhar com música e eventos é uma escolha que é mais tangível. “Aceitar esse risco de empreender no setor de economia criativa já não é mais um sonho tão distante”, frisa.

No mercado há seis anos, Nathalia Takenobu, de 30 anos, produz festas nos bares Secreto (Flerte) e Squat (Shuffle) e seu bloco carnavalesco “Agrada Gregos” virou recentemente uma festa no Club Yacht. Nesse tempo na noite, ela conspirou uma teoria sobre as baladas: acredita que são reflexo da sociedade. “Antes era legal tirar foto bem sério, não conversar com desconhecidos, ficar na sua rodinha. Hoje, isso não tá com nada, o lance é fazer um monte de amigos novos a cada noite, conversar, incluir”, enumera.

Nathalia acredita ser uma pessoa de sorte. Afinal, nesse meio cheio de carão e “toca tal música porque estou pagando seu cachê”, nunca sofreu preconceito por ser mulher. “Sou DJ em muitas festas gay e as casas em que produzo, embora não sejam focadas nesse público, são consideradas moderninhas. Imagino que aquelas baladas que objetificam mulheres (fazendo seleção de quem entra ou distribuem VIP só para mulheres) tenham mais casos de preconceito”, pondera. “Vejo um movimento feminista rolando: alguns produtores(as) de festa em busca de DJ’s mulheres. Querem mais a presença feminina na noite. Eu acho muito válido”, pontua.

CLUBE DA LULUZINHA
Eleonora e Priscilla, da Mundi, ao lado de Maithe Rabay 29 anos, também produzem o “Baile das Marinheiras” e “Eu Vou Chamar o Síndico”. Elas estão nesse barco juntas há quatro anos. Buscavam escapar da mesmice e acabaram transformando o negócio em algo nada parecido com o Clube do Bolinha: 80% dos colaboradores é de mulheres, e há negociação para que elas transitem em outras produções.

Mas nem sempre foi assim. Após uma das organizadoras pensar em desistir da noite, detectaram que ela havia sido ofendida, diminuída e ridicularizada por uma pessoa da equipe, antes composta só de homens até então. “Ficamos estarrecidas e pedimos desculpas pela classe (produtores de festas), pois o nosso intuito não é ridicularizar, mas celebrar as pessoas que fazem a mágica acontecer, independente do gênero”, explicam.

A DJ Luísa Viscardi, 27 anos, e a fotógrafa Rizza Bomfim, 30, promovem a JAMBOX, voltada ao cenário Hip Hop. É uma festa independente e itinerante. “Estamos sempre em busca de inovação”, disparam. “Lidar com artistas de Hip-Hop é sempre uma surpresa. É engraçado ver a reação de todos eles quando chegam no aeroporto e percebem que são duas mulheres produzindo tudo”. São incontáveis as situações em que elas já foram tratadas com hostilidade, mas têm uma máxima: “Quando se faz um trabalho bem feito, com coerência, conteúdo e dedicação, não tem como dar errado”.

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