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Scarpa, 100 anos

Patsy Scarpa mostra imagens e escreve sobre o aniversário de seu avô

Bom… Meu avo completou 100 anos no dia 06 de marco. Minha avo Patsy, mae Fatima e tios (Renata e Chiquinho) resolveram fazer uma festa em comemoracao a esta data tao especial. Tudo foi programado e executado nos minimos detalhes. Os 120 convidados foram escolhidos a dedo pelo meu avo, que abriu algumas poucas excecoes para minha avo (obvio) assim como para a minha mae, Renata e Chiquinho.


Os convites foram feitos na Paper House. A decoracao foi do Jorge Elias, que alem de ser muito amigo dos meus avos sempre acerta e agrada na sua maneira de arrumar a casa deles. Ana Maria Velloso presenteou meu avo com a mesa de doces, que foi decorada com enfeites de acucar (ate os vasos eram de acucar) feitos pela Isabella Suplicy. Os doces foram feitos pela Maria Beatriz, impecaveis, em forminhas brancas imitando pique… incrivel. A bebida foi escolhida para atender a ocasiao. A comida de Mazo Franca Pinto estava impecavel. Como entrada, mousse de aspargos com cavaquinha e azeite trufado, e como prato principal cordeiro com uma leve geleia de hortela, legumes e pure de cara… muito bom! 


Ao final do jantar, cantamos “Parabens a voce”. Logo meu avo se levantou e declamou uma poesia enorme (abaixo) que deixou os convidados boquiabertos, pois ele se recordava de cada palavra, sem cola nenhuma e sem engasgar uma vez sequer. Logo em seguida subiu para seu quarto e foi dormir… muito feliz, contente e realizado! Foi uma noite emocionante e inesquecivel!!!


Ricardo Goncalves


A Cisma do Caboclo


A Valdomiro Silveira


Cisma o cabloco a porta da cabana.
Declina o sol, mas, rubido, espadana
Ondas fulvas de luz.
No terreiro, entre espigas debulhadas,
Arrulham, perseguindo-se a bicadas,
Dois casais de pombinhos parirus.


A criacao de penas se empoleira;
Come a racao no cocho da mangueira
Um velho pangare.
E uma vaca leiteira e bois de carro
Pastam junto a casinha, que e de barro,
Coberta de sape.


Longe, uma tropa trota pela estrada.
E a viracao das matas, impregnada
De perfumes sutis,
Traz dos grotoes, que a sombra, lenta, invade
O soturno queixume de saudade
Das pombas juritis.


Cisma o cabloco. Pensa na morena
Que vira numa noite de novena
Orando ao pe do altar.
Que vira… e que, por mal de seus pecados,
Tinha os olhos profundos e rasgados
E um riso de matar.


Branco, de fofos, era o seu vestido.
E ele, ao ve-la, sentindo-se ferido
Em pleno coracao,
Baixinho suspirou: “Nossa Senhora!
Ai, meu Sao Bom Jesus de Pirapora
Da minha devocao!”


Depois nao se conteve e, num fandango
Furtou-lhe um beijo aos labios de morango
O diabo do rapaz.
E ela volveu zangada: “Malcriado!
Seu vigario ja disse que e pecado.
Aquilo nao se faz!…”


E o caboclo medita. O sol em chama
Como agora ha pouquinho nao derrama
Ondas fulvas de luz.
O corrego soluca, a noite desce,
E vem dos capoeiroes onde anoitece
O trilo vesperal dos inambus.


In: GONCALVES, Ricardo. Ipes: versos. Pref. Monteiro Lobato. Sao Paulo: Monteiro Lobato, 1922

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