Cultura

O universo colorido de Gabriela Melzer

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Gabriela Melzer – Foto: Divulgação

Gabriela Melzer é uma jovem artista de 24 anos, Virginiana, ela também pode ser uma das novas artistas brasileiras mais importantes para manter no radar, mas isso só o tempo vai dizer. A supernova é uma pessoa calma. Mesmo na aura suave que dispõe durante a conversa exclusiva, ela consegue equilibrar a tranquilidade com uma forte presença, o mesmo sentimento que pode ser despertado ao olhar um dos quadros coloridos da artista.

Uma das principais questões que impressiona em Gabriela é seu universo estético tão bem amarrado. Ela explica que a arte sempre foi uma paixão inconsciente em sua vida, do tipo que ela não sabe dizer uma época da vida que não pintava. A arte sempre foi uma presença em sua vida, a ponto de sair de jantares familiares correndo para voltar aos lápis de cor até ajudar sua professora do primário a lavar os pincéis para conseguir ficar mais uns minutinhos naquela atmosfera. “Tive a sorte da minha família sempre me apoiar e incentivar. Além disso, tanto a pintura quanto a música, minha mãe sempre me incentivou a encontrar meu próprio estilo, seja como ser humano, seja como mulher, no jeito de me vestir e acho que naturalmente eu traduzi isso para minha pintura”, comenta. Ela acredita que essa sua aptidão vem de todo acolhimento e inspiração que sua infância conseguiu proporcionar, desde transformar os arranjos na floricultura de sua avó em formas orgânicas e coloridas até conseguir pintar e desenhar todos os dias. 

Mesmo afirmando que sua arte ainda pode se desdobrar para muitos lugares, a jovem entende a raridade de já estar explorando um universo estético muito particular, onde é possível reconhecer seus trabalhos de longe e mergulhar de cabeça neles. “Acho que minha história com a pintura sempre foi muito orgânica e muito natural, então não teve um momento que disse “vou ser artista”, isso simplesmente aconteceu ao ir crescendo e me desenvolvendo fui percebendo que isso já estava acontecendo na minha vida”, explica.

Trabalhos prévios de Gabriela Melzer – Foto: Divulgação

Já sobre as pinturas em si, a artista define seu estilo como uma suavidade não óbvia, que existe em conjunto com uma força, assim como a feminilidade em sua obra, aparecendo como algo mais interno. Com movimento e muita natureza, mesmo no abstrato, suas formas vão caminhando para uma figuração. Gabriela explica que gosta de brincar com a arte a ponto das pessoas se questionarem sobre o que é, o que poderia ser ou o que não é. As cores são talvez a parte mais tocante e inspiradora de seus quadros. “Quando era criança sempre fui muito visual, não conseguia lembrar de textos, mas conseguia lembrar de imagens e cores. Conseguia fechar os olhos e imaginar o nosso mundo muito mais colorido, então as cores sempre despertaram algo dentro de mim”, revela.

Gabriela explica que as cores foram uma linguagem interna de comunicação pessoal com seus próprios sentimentos, uma ferramenta de comunicação e expressão com o mundo. “Não é que eu coloquei a cor no meu trabalho, eu nunca tirei”. O futuro quem pode dizer? Talvez uma série preta em branco pode aparecer, mas sua conexão com o universo colorido sempre foi algo muito familiar. 

Gabriela Melzer – Foto: Divulgação

Em suas referências, ela cita Hieronymus Bosch com a obra de arte “O Jardim das Delícias Terrenas (The Garden of Earthly Delights)”.  A jovem explica que a obra tem dois momentos, aberta e fechada, e quando está aberta aparece como uma grande analogia para o mundo como ele é: caótico, cheio de mitos e verdades, conceitos e criaturas. “Tem uma riqueza de detalhes conforme fui aprendendo um pouco sobre a história da arte, e quando tive contato com essa obra, não acho diretamente que ela influencia a minha estética, mas com certeza todo o meu pensamento como artista”, comenta.

Outra referência importante, que descobriu depois de produzir seus primeiros quadros é Georgia O’Keeffe. Seus amigos comentaram que seu trabalho parecia influenciado ela artista, depois disso, Gabriela não parou de pesquisar sobre, desde como surgiu o traço de Georgia até sua trajetória. Já entre os grandes clássicos, ela cita Salvador Dalí pela técnica e uma criatividade espetacular: “Queria ficar cinco minutos na cabeça dele para saber o que passa por ali”.

Quando questionada sobre como chegou a amadurecer seu trabalho, ela cita que ser virginiana bem organizada ajudou muito. Criar uma metodologia e uma rotina de pintura foi algo que a orientou como jovem artista. Gabriela explica que sua arte só começou a ficar mais redonda na estética quando passou a pintar todos os dias, sempre respeitando os momentos do corpo.

Para a artista, a consistência é a chave. A inspiração pode não acontecer todos os dias no processo, porém, para chegar nos lugares que quer chegar, ela explica que precisa ter disciplina como qualquer outra profissão. “Honestamente, foi um processo que vem desde que comecei a pintar no começo da minha vida. Minha arte está chegando em uma maturidade, talvez um pouco precoce, que foi graças a muita experimentação e pesquisa experimental com materiais, tintas a óleo, canetinha, giz de cera, bastão de óleo, argila e escultura. Quando comecei a me entender mais e amadurecer como mulher, como ser humano, quando fui me encontrando. Fazem uns três anos que comecei a afunilar e realmente mergulhar nesse universo dentro de mim, então o desdobramento que é essa estética agora que estou explorando pode ser assim infinito”.

Trabalhos prévios de Gabriela Melzer - Foto: Divulgação
Trabalhos prévios de Gabriela Melzer - Foto: Divulgação
Trabalhos prévios de Gabriela Melzer - Foto: Divulgação

Além de produzir arte, ela também é uma grande apreciadora de cultura em geral. Durante a conversa com RG, Gabriela indicou a nova peça de Denise Fraga, “Eu de você” , na qual esteve na plateia no último domingo. Assim como o último livro que leu “A Alma Imoral”, do autor Nilton Bonder. Entre risadas, ela explica que também está começando sua coleção de arte, e seu sonho é uma obra da artista Sandra Cinto, que parece que consegue mergulhar dentro da vastidão da pintura. Ironicamente, é algo que reflete em seu próprio trabalho – a vontade de mergulhar em seu universo colorido.

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