Maria Adélia no palco de “Matar ou Morrer” com Marcelo Aquino e Sávio Moll – Foto: Guga Melgar
Advogada e membro da Academia Carioca de Letras, a autora Miriam Halfim ficou bastante tocada ao conhecer a história de Dirce de Assis Cavalcanti, filha de Dilermando de Assis (1888-1951), hoje com 90 anos. Apontada tantas vezes como “a filha do assassino”, Dirce sofreu bullying na escola e na vida por causa do julgamento moral da sociedade que condenou seu pai — mesmo absolvido em dois tribunais — por matar o escritor Euclides da Cunha (1866-1909) em legítima defesa, no episódio que ficou conhecido como “A Tragédia da Piedade”.
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Mais de um século depois, esses dois personagens, que se tornaram arqui-inimigos por causa do amor de Anna Emília (1872-1951), retornam ao palco do Centro Cultural da Justiça Federal, sob a direção de Ary Coslov, no espetáculo “Matar ou Morrer – Dilermando de Assis e Euclides da Cunha”, em cartaz até 27 de agosto.
“O título da peça é extraído da fala de Euclides quando foi à casa de Dilermando, naquele fatídico dia, em 1909. Ele disse: ‘Vim para matar ou morrer’ e já entrou atirando. Essa história sempre me chamou atenção. Dilermando, apontado como assassino tantas vezes, nunca teve a intenção de matar. Euclides, sim, saiu com esse objetivo. Mas, por ser membro da Academia Brasileira de Letras, a imprensa ficou do lado dele. A história é muito rocambolesca. Euclides era um homem que passava muito tempo fora, viajando. Nessas ausências, Anna, que se sentia muito só, foi com os filhos para uma pensão onde conheceu Dilermando que, na época, tinha 17 anos, e ali eles se apaixonaram. A peça é uma tentativa de promover um encontro entre os dois 124 anos depois e buscar um pouco de paz”, explica Miriam.
No espetáculo, uma juíza, interpretada por Maria Adélia, é tão obcecada por essa história que acaba tornando-se mediadora desse reencontro fictício e turbulento de Euclides e Dilermando, vividos, respectivamente, por Sávio Moll e Marcelo Aquino, numa espécie de “limbo da existência”.
“É como se essa magistrada recebesse um chamado do Dilermando, para promover essa reparação. Ela acaba sendo um pouco tendenciosa, mas está inteira ali, ouvindo. A Dirce, filha do Dilermando, queria muito que o pai deixasse de ser chamado de assassino. Ficou um estigma negativo. Mesmo depois de morto, Dilermando não teve paz. Não aceitaram enterrá-lo no mesmo cemitério onde estavam os seus pais”, conta Maria Adélia, atriz que ficou 17 anos fora do Brasil e retornou para seu primeiro espetáculo nos palcos brasileiros após quase duas décadas em 2015, com “A Visita da Velha Senhora”, no Rio de Janeiro.
“É de uma violência tão grande essa história, beira mesmo o absurdo. Achei interessante trazer para a luz até porque estamos tentando mostrar no espetáculo um paralelo entre o que aconteceu no século passado com a violência comportamental que vemos ainda hoje”, afirma o diretor Ary Coslov.
SERVIÇO
“Matar ou Morrer – Dilermando de Assis e Euclides da Cunha”
Data: em cartaz até 27 de agosto
Horários: quinta e sexta, às 19h – sábado e domingo, às 18h
Local: Centro Cultural Justiça Federal – Av. Rio Branco 241, Centro
Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)