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Com estreia de ‘Um Dia Cinco Estrelas’, Ricky Hiraoka diz: “Quero abrir espaço para novos talentos”

Ricky Hiraoka (centro) ao lado dos atores Aline Campos e Estevam Nabote (Foto: Divulgação)

Desde muito novo, Ricky Hiraoka sabia que queria escrever ficção para a TV e o cinema. “Parecia algo muito distante”, conta o mineiro de origem humilde. Embora fosse “ótimo aluno”, naquela época as pessoas não entendiam por que ele gostaria de contar histórias através da escrita. “Riam da minha cara quando dizia que queria ser roteirista”. Achava natural seguir uma carreira mais convencional, como medicina ou engenharia – mas não tinha condições financeiras. Ainda bem que não deu ouvidos às críticas, pois “Um Dia Cinco Estrelas” chegou aos cinemas esta semana. O longa marca sua estreia nas telonas ao lado de Cris Wersom. “Quero trabalhar para abrir espaços para que novos talentos também tenham essa oportunidade e democratizar mais o audiovisual”.

O debutante narra que o projeto levou em conta a diversidade e esta, sim, é motivo de orgulho, vide que – a semana que passou – foi marcada por novo episódio de homofobia mascarada de fé. “Pela primeira vez, um filme comercial tem, como uma das protagonistas, uma atriz trans interpretando uma mãe de família (Nany People)”, indica, taxando o feito como algo “significativo”. Além de personagens LGBTQIPNA+, ele propõe normalizar comportamentos e relações, pois acredita que a leveza também ensina. “Sou um homem amarelo, e fiz questão de ter no elenco atores asiáticos, o que é raro no cinema nacional”.

Da comédia ao drama, com direito a boas risadas e diálogos bem amarrados – como os quotes de Hiraoka nas redes sociais –, “Um Dia Cinco Estrelas” foca na paixão de Pedro Paulo (​​Estevam Nabote) por seu Mozão, um Opala dos anos 1970. Desempregado, ele passa dia e noite cuidando do carro, mas, para ajudar a família a sair do sufoco e realizar o sonho da sua mãe de viajar para Buenos Aires, ele começa a trabalhar como motorista de aplicativo. Entre situações inusitadas, divertidas e, às vezes, nonsense, o protagonista vê sua vida, a de sua família e a dos passageiros mudarem depois dessas 24 horas.

Pedro Paulo ao lado do Mozão, seu opala dos anos 1970 (Foto: Divulgação)

Dirigido por Hsu Chien, o filme chega a mais de 300 salas de cinema, é protagonizado por Nabote. e tem no elenco: Aline Campos, Carol Nakamura, Ed Gama, Danielle Winits, além do influenciador Vittor Fernando. Hiraoka foi colunista de veículos importantes, além de ter apresentado um projeto em vídeo para uma revista feminina. Apesar da estreia nos cinemas, ela já atua como roteirista e produtor criativo há pelo menos nove anos. Leia a íntegra:

Qual a emoção de ver materializado um filme seu nas telonas?
Fazer cinema no Brasil sempre foi complexo e era (e ainda é) uma atividade muito elitizada. Então, um garoto pobre, sem parentes importantes conseguir lançar uma comédia popular no circuito comercial em mais de 300 salas em 100 cidades brasileiras é uma conquista gigante. Quero trabalhar para abrir espaços para que novos talentos também tenham essa oportunidade e democratizar mais o audiovisual.

O que este filme tem de importante no seu marco profissional, vide que você teve uma incursão pelo jornalismo e logo se embrenhou para o cinema?
Hoje entendo que nunca deixei de ser jornalista e nem quero deixar. O jornalismo me ajudou muito a ser um bom roteirista, pois o dia a dia da redação me ensinou a ser ágil e a ouvir verdadeiramente as pessoas. E o coração do meu trabalho como roteirista é o ser humano. Lançar esse filme é a prova da minha versatilidade profissional. As pessoas tentam colocar você em uma caixa, onde você só pode fazer isso ou aquilo. Sempre acreditei que podemos ser plurais. Posso escrever uma comédia popular como, também, apurar uma matéria complexa ou coordenar o desenvolvimento de uma série de terror. Quero encabeçar projetos populares, que não tenham vergonha de falar com as massas.

Danielle Winits e Estevam Nabote (Foto: Divulgação)

Qual foi o ponto de partida para o roteiro? Teve alguma curiosidade ou fato engraçado lá no processo de entendimento do que seria o filme? Ou algo que se desenvolveu de outra forma do roteiro e ganhou mais veracidade no fim?
Sempre gostei de conversar com motoristas. Na época que trabalhava em revista, andava muito com o transporte da editora e papeava com os motoristas, que me contavam altos casos. Durante muito tempo, fazia posts no Facebook contando essas histórias e essas postagens tinham uma certa repercussão na minha bolha. Acho que o embrião de Pedro Paulo nasceu, inconscientemente, nesse período.

Quando minha antiga chefe, a produtora Renata Rezende, me fez uma provocação, pedindo uma história cujo protagonista fosse um motorista de aplicativo, eu imediatamente me lembrei dos que conheci ao longo da minha carreira como jornalista. Em cinco horas, enviei uma sinopse de quatro páginas bem fiel à trama do filme. Com a sinopse aprovada, desenvolvi um argumento mais detalhado, Manuela e Dona Nilda, respectivamente esposa e mãe do nosso protagonista, Pedro Paulo, ganharam mais espaço e incrementei os diferentes núcleos.

Estevam Nabote e Nany People (Foto: Divulgação)

E como se deu essa segunda etapa?
Queria que todos os personagens fossem o mais diversos possível e tivessem a chance de brilhar ao longo do filme. Minha intenção era fazer uma comédia amalucada, meio screwball comedy de Hollywood dos anos 1930, mas com DNA brasileiro capaz de se comunicar com o grande público. “Um Dia Cinco Estrelas” é uma grande metáfora sobre a uberização das relações humanas, que estão cada vez mais superficiais e ligeiras, mas a mensagem do filme é que, se formos mais atentos ao que acontece ao nosso redor, entenderemos que os desconhecidos à nossa volta e com quem interagimos despretensiosamente tem a capacidade de mudar a nossa vida. Em “Um Dia Cinco Estrelas”, nada é por acaso.

Você já teve um dia tão maluco, que seria quase tão utópico quanto o do Pedro Paulo?
Já tive dias malucos, mas não na intensidade como acontece com o protagonista de “Um Dia Cinco Estrelas”. Já tomei tapa na cara de entrevistada, já frequentei reunião de condomínio de jogador famoso para apurar uma matéria, já fui parar em festas fechadas com celebridades gringas, mas nada que eu vivi se compara ao dia nonsense do protagonista (risos).

Já estava previsto que você faria uma participação especial? Como foi estar do outro lado da tela?
Como Um Dia Cinco Estrelas é meu primeiro filme, pedi para fazer essa aparição. É uma piada interna com quem me conhece. O público não saberá que sou eu. Quero aparecer nos meus futuros filmes também. Quem sabe no próximo longa, eu não faço uma cena de beijo? (gargalha)

Ricky Hiraoka e o diretor Hsu Chien

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