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Rio: “A Morte e a Donzela” faz temporada no Teatro Cândido Mendes

Cena de “A Morte e a Donzela”- Foto: Alexandra Arakawa

O que você faria se ninguém estivesse olhando? Essa é a premissa do espetáculo “A Morte e a Donzela”, clássico de Ariel Dorfman que promove o encontro de uma ex-prisioneira do regime militar com seu suposto torturador. Idealizada pelo ator Diogo Savala e dirigida por Eduardo Milewicz, a peça faz curta temporada no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, entre os dias 4 de julho e 29 de agosto.

“Queremos que o público saia do teatro se questionando ‘o que eu faria se estivesse no lugar dela?’. Estamos falando de uma mulher que foi torturada e violentada, e que se vê cara a cara com seu suposto algoz. A partir daí se desenvolve um debate político e psicológico sobre moralidade, justiça e humanidade”, explica Savala.

O encontro entre Paula Sales, ex-prisioneira política, e seu suposto torturador desencadeia um emocionante cabo de guerra intelectual e emocional intermediado pelo advogado Geraldo Santos, marido de Paula e integrante da Comissão de Direitos Humanos.  A peça explora os efeitos deixados pelo período de repressão nos indivíduos e sociedade.

A trama foi adaptada para mostrar as consequências da ditadura militar brasileira. Paula desenvolveu agorafobia e vive reclusa com seu marido, quando é surpreendida pela visita de um médico que faz ressurgir fantasmas de seu passado. Além de Diogo Savala, Rita Grego e Alexandre Galindo completam o elenco.

“Nós espelhamos na realidade brasileira para mostrar que os criminosos não apenas ficaram livres e receberam anistia, mas continuaram com seus cargos no poder. Seja aqui ou no Chile (no texto original), a história e os métodos de controle e tortura são sempre os mesmos. É algo sistemático, institucionalizado”, reflete.

A produção ficou famosa pela adaptação cinematográfica de 1994, dirigida por Roman Polanski e estrelada por Sigourney Weaver e Ben Kingsley. Diferentemente da versão hollywoodiana, a peça aposta em uma forma distinta de retratar a “tortura”, instigando a plateia numa experiência sensorial e psicológica.

“Enquanto o filme mostra de forma explícita toda a brutalidade da tortura, utilizamos do psicológico e de recursos criativos do teatro para criar cenas não literais. Misturamos um trabalho de corpo e a música para criar uma representação mais simbólica, que fica no imaginário de quem assiste. Dessa forma, o público age de forma ativa, preenchendo as lacunas com seus próprios receios.”

A direção do espetáculo é do argentino Eduardo Milewicz, responsável pelos filmes “Samy y yo”, estrelado por Ricardo Darin, e “Amar em Tempos Revueltos”, um dos grandes sucessos do cinema espanhol. Em “A Morte e a Donzela”, ele faz sua estreia no teatro brasileiro.

“A história mostra como a memória do tempo deixa feridas para cada um dos três personagens, teve aquele que ocultou, o que ignorou e o que reprimiu. É uma história de culpa e justiça, sobre mulheres e sobre homens. Um dos desafios é fazer com que o espectador de hoje dialogue com os acontecimentos do passado. Estamos falando de um texto escrito em 1990, sobre a ditadura militar do Chile, mas que conversa com o tempo atual”, finaliza o diretor.

Teatro Cândido Mendes – R. Joana Angélica, 63, Ipanema, Rio de Janeiro.

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