O conceito de solastalgia – estresse mental e/ou existencial causado por mudanças ambientais abruptas, não só por consequências naturais, mas, também, por modelos de extrativismo danosos – norteia e intitula a exposição inédita que o cineasta, artista visual e pesquisador em novas mídias Lucas Bambozzi exibe entre os dias 1º de julho e 1º de outubro no MAC – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
A mostra, com curadoria assinada por Fernanda Pitta, traz quatro videoinstalações que servem como uma espécie de convite para o público refletir sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no Brasil.
A exposição abre com montanhas e paisagens dilaceradas na obra “Solastagia” (2023), uma instalação que nasce do processo de realização do longa-metragem “Lavra” (2021, 91 minutos), também de Bambozzi. Por meio de uma linguagem mais sensorial – mais imagética, sem diálogos, personagens e/ou narrativas ficcionais, presentes no documentário -, a instalação evidencia as tragédias causadas pela mineração de ferro no entorno de Belo Horizonte (MG).
“As imagens explicitam uma lógica extrativista que destroça modos de vida, em nome de uma noção arcaica de progresso. Se antes estávamos expostos a formas de solastalgia apenas em função de acidentes tidos como naturais, hoje, os acidentes são causados por negligências – por modelos de extrativismo danosos e também por uma noção de desenvolvimento que entra em conflito com outros modos de se viver”, comenta Bambozzi.
As narrativas de tragédias, acidentes naturais ou causados por ações exploratórias também aparecem na obra inédita “Extra, Extra” (2023), vídeo criado a partir de imagens e registros de fotojornalismo, publicados por diversos veículos de imprensa.
Na série “Paisagens Rasgadas” (2021), Bambozzi adentra no espaço aéreo e exibe em cinco telas LCD passeios virtuais através do Google Earth Studio – ferramenta que agrega imagens aéreas de diferentes fontes, a partir de coordenadas de latitude e longitude. Na obra, também em formato de vídeo, o artista apresenta imagens de crateras de extração de minério de ferro de grandes mineradoras multinacionais, localizadas em espaços de controle privado e até então inacessíveis a registros fotográficos usuais.
Em “Luzes” (2023), painéis luminosos posicionados no chão recebem projeções de frases que sintetizam a ideia de solastalgia, sob o olhar de três pensadores convidados: Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e filósofo; Christiane Tassis, escritora, roteirista do filme Lavra, e a artista, Giselle Beiguelman. Ao longo do período expositivo, novas participações de artistas devem se somar ao espaço da instalação, em diálogo com as redes sociais e com a exposição em sua integralidade.
“Considero o desdobramento do filme em uma instalação, um processo rico e ao mesmo tempo espontâneo, pois são formas interconectadas de diálogo com públicos distintos. Dediquei os anos 2019 – 2022 para o lançamento do documentário, mas a ideia que move o filme também aconteceu de outras formas, como uma instalação na Bienal de la Imagen en Movimiento (BIM), no Museu da Imigração – Centro de Arte Contemporáneo (Buenos Aires, Argentina), no segundo semestre de 2022. E, agora, o trabalho se configura como uma nova proposta; uma exposição autônoma, envolvendo um espaço maior e agregando novas obras, para que assim, possa conciliar com a complexidade que o tema exige. O MAC USP é um museu ligado à pesquisa, ensino e extensão universitária – é um espaço que produz reflexão sobre suas atividades. Então, poder retomar essa conexão com o circuito da arte contemporânea, por meio do filme e agora com este projeto de audiovisual expandido no MAC USP – que comemora os seus 60 anos -, é um processo que me dá grande satisfação”, pontua Bambozzi.
“Solastagia” é um projeto contemplado pelo Proac Edital 09/2022, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.