Joana de Verona – Foto: Divulgação
A atriz Joana de Verona é uma viajante e tanto, desde pequena. Nascida em São Luiz do Maranhão, ela foi morar com um ano em Portugal. Aos 33, ela tem no passaporte e no currículo muitos carimbos. “Meus pais são portugueses e faz parte da personalidade deles gostar de viajar. Tudo que envolve viagem me interessa. E eu atuo na língua que for preciso: português (de Portugal ou do Brasil), inglês, francês, espanhol e italiano. Já morei uma temporada em Berlim, outra em Paris. Se vai me agregar artisticamente, eu vou”, conta ela, que, neste ínterim, também se dividiu entre o Rio de Janeiro e Lisboa muitas vezes – em 2019, ela integrou o elenco da novela “Éramos Seis”.
Agora não é muito diferente. Joana está no Brasil para uma nova temporada, em função do lançamento do longa “Tinnitus”, de Gregório Graziosi, em que interpreta uma saltadora ornamental que passa por uma crise. “É um filme muito diferente, que me fez adentrar o universo dos esportes e das competições. A minha personagem tem uma doença que atinge 6% da população mundial, o tinnitus. É um zumbido no ouvido, uma questão médica delicada”, explica.
Na produção, por causa do zumbido, a personagem de Joana se vê obrigada a desistir da profissão que tanto ama. “Ela se torna uma sereia de aquário. Por isso, acabei nadando com as raias, também com uma tartaruga gigante, passei horas debaixo d’água, aumentei minha resistência, aprendi a fazer a apneia. Eu adoro me jogar. E tudo isso foi filmado de uma forma onírica, com uma fotografia linda”, diz.
Joana recebeu o convite para estrelar o longa quando conheceu o diretor, Graziosi, no Festival de Cannes. “Fiquei muito contente com o convite, que até desisti de fazer uma série espanhola pela HBO, pois as datas de filmagem iam coincidir. Mas quando vejo um bom papel, eu vou atrás. É muito chato fazer sempre a mesma coisa”, explica ela, que também está no ar na série “Vanda”. Aliás, para viver uma psicóloga criminal na série, que relata o caso real de uma cabeleireira que virou assaltante, Joana se infiltrou no FBI. “Fiz uma pesquisa intensa com eles sobre como ser mulher dentro da polícia, que é um ambiente bem machista. Ela traça perfis, que são importantes para os julgamentos, eu não sabia disso. Aprendi muito, convivi com tipos diferentes de pessoas. Esse é meu combustível.”
Leia a seguir o papo que a atriz levou com RG.
“Éramos Seis” foi sua última novela aqui. Você gosta do formato, tem vontade de fazer mais produções assim no Brasil?
Sim, as nossas novelas brasileiras são muito bem realizadas, existem meios técnicos e uma estrutura incríveis, sem falar da experiência que as produtoras brasileiras têm na criação das mesmas. E a Globo, como sabemos, tem bastante experiência e excelência no assunto. Eu adoro, e sei que o público acompanha e gosta muito também. Eu amei fazer “Éramos Seis”, fui muito bem recebida pela equipe e elenco. A novela tinha direção artística de
Carlos Araújo, um texto lindo da Angela Chaves. Fiz a preparação de elenco com o Antônio Karnewale. Foi um bonito e feliz trabalho de época, muito bem-sucedido. Lembro-me que tinha muito afeto no processo e o resultado final me deixou orgulhosa. E eu tive a sorte e a oportunidade de contracenar com a Glória Pires e a Susana Vieira. Eu tenho muita vontade
de fazer outra novela aqui no Brasil. E também outro filme ou teatro. É sem dúvida um objetivo, pois é também o meu País, onde nasci, cresci, passei parte da vida, onde tenho família, e sei que existe um infinito de possibilidades artísticas muito ricas que me interessam.
Você esteve infiltrada na polícia para compor a personagem da série “Vanda”. Como foi o processo de composição da personagem?
É muito interessante. Faço uma mulher lésbica que não assume nenhum papel estereotipado na relação, não desempenha nem o lado feminino nem o protótipo masculino, que muitas vezes as pessoas tentam rotular e identificar em casais do mesmo sexo. Sim, fiz um processo de pesquisa e entrevistas no local, conheci as instalações, a equipe, as funções de cada um e conversei muito com a psicóloga criminal, a diretora do departamento que me esclareceu muitas dúvidas e me ajudou na criação de um universo mais sólido para Elisa, a minha personagem. Ela despertou muita curiosidade, por vários motivos: por ser uma mulher bem-sucedida e muito ambiciosa, que escreveu um livro como tese de doutorado sobre as mentes femininas no crime. Quando começa a investigar o caso da Vanda, assume uma postura muito determinada e obstinada. E é alguém muito diferente de mim na forma como se socializa. É reservada, meio sem jeito, prefere não conversar muito nem se rodear de pessoas. Outro ponto muito interessante para mim foi entender que os perfis psicológicos dos criminosos, traçados pelas psicólogas/os, após avaliação das juízas/es, são fundamentais nas sentenças. Eu me interesso muito por psicologia, entender o funcionamento do cérebro e questões comportamentais, então me preparar para esta personagem, que é psicóloga, me ensinou bastante. E contei com a preciosa ajuda da minha preparadora Helena Varvaki.
Você também aprendeu apneia por causa da sereia de aquário que vive no novo filme. Quais foram as maiores dificuldades?
Sim, tive aulas de apneia e adorei. Foram vários os desafios e, claro, tive alguns receios. Medo, até não, porque o medo é uma coisa que trava, bloqueia. Mas, receio, por vezes, é bom, pois faz redobrar a atenção e por consequência aumenta a exigência. Para minha sorte, os tubarões eram rasteiros (tubarões lixa) e ficavam no fundo do aquário (risos). Tiveram que prender a tartaruga gigante, e eu tive de lidar com as inesperadas raias que atravessavam na minha frente. O fato de usar a cauda de sereia, ter que nadar de uma forma específica, usar 5 quilos na cintura para poder afundar, aplicar a técnica da apneia… Enfim foram vários os desafios, mas gosto muito de ser desafiada no trabalho, por isso a experiência foi muito boa.
Em “Tinnitus”, de Gregório Graziosi, você interpreta uma saltadora ornamental que passa por uma crise. Ela sofre de zumbido no ouvido, você já sabia da existência dessa doença, conheceu alguém que tivesse?
Já sabia, mas tinha pouca informação sobre a doença, não conhecia ninguém, hoje em dia sei de diversos casos. Pode ser angustiante, enlouquecedor.
Você tem no currículo mais de 30 longas-metragens. Como avalia sua trajetória e como se vê daqui a cinco anos? Sonha em viver algum personagem específico?
Estou feliz com meu percurso profissional e tenho consciência de que tenho tido muita sorte por ter trabalhado com profissionais tão talentosos. Me sinto grata, e espero daqui a 5 anos estar exercendo esta profissão em bons projetos. Assim como acredito que estarei no caminho de dirigir mais projetos de minha autoria. Um personagem específico, não sei ao certo, me interesso por vários e encontro oportunidade de crescimento em trabalhos muitos distintos. O importante é trabalhar com pessoas legais no trato e que sejam boas profissionais.\
Você nasceu no Maranhão, foi pequena para a Europa, depois cresceu no Rio. A que lugar você sente que pertence mais ou isso não existe?
Sou dos dois países, tenho raízes fortes e memórias tanto no Brasil como em Portugal. Muita gente tem uma impressão minha de que sou estrangeira, europeia, meio fechada, mas não tem nada disso. Sempre me dividi entre o Rio e Lisboa. E eu atuo em ambos os sotaques, tranquilamente (risos).
Joana de Verona – Foto: Divulgação
A cada dia você está filmando em um lugar diferente. Como ficam seus relacionamentos em meio a isso? Acredita na monogamia ou não?
Acredito que mesmo havendo várias formas de relacionamento possíveis, cada um/uma escolhe aquela com que melhor se identifica, não é? O fato de trabalhar em países diferentes, e viajar muito, nunca foi impedimento para mim, no sentido de manter vínculos e relações sólidas…
Como é a Joana fora dos sets de filmagem, no dia a dia?
Gosto muito de viajar, como você já deve ter percebido (risos), de pintar, de fotografar, de dançar, de estar com amigos/as e também passar tempo com a família.
Existe algum cuidado especial com alimentação? É contra ou a favor de procedimentos estéticos?
Não como carne vermelha desde os 12 anos de idade. Estava morando no Rio nessa época e simplesmente deixei de comer, pois de fato não curto. Gosto de dançar, é uma grande paixão, e também gosto de nadar. Não tenho nada contra procedimentos estéticos, mas não tenho muito conhecimento sobre o assunto, pois nunca fiz.
Seu passaporte é cheio de carimbos. Quantos países já conheceu e qual deles é seu predileto, e por quê?
Na verdade, não sei quantos países ao todo já visitei, mas foram muitos. Gosto muito do Sudeste Asiático. Parte da minha família já morou lá. São países lindos e muito ricos culturalmente. Amo a diversidade imensa do Brasil, continuo me surpreendendo muito a cada novo lugar ou estado brasileiro que vou conhecendo. Ter estado em Manaus e no Rio Amazonas foi inesquecível. Passei uma temporada na Bahia quando era criança, e já voltei lá algumas vezes porque gosto muito da vibe. Adorei a temporada que passei em Berlim para fazer um filme alemão. É uma cidade cativante artisticamente e tenho uma paixão especial por Paris, cidade onde vivi e onde me formei no curso de direção de cinema. Também fiz uma viagem muito bonita e especial com a minha mãe para o Japão, outro país pelo qual sou fascinada. Enfim, difícil escolher.
Quais são seus próximos projetos?
Acabei de finalizar uma série filmada nos Açores e na Islândia, que acredito que também irá estrear no Brasil. A minha personagem é islandesa e foi um desafio. Estou preparando uma próxima criação minha.