A exposição “Em Tempos Como Estes” apresenta um encontro inédito entre agentes do meio em uma proposta experimental, com o intuito de desestigmatizar a produção de artistas mulheres mais velhas. São mostradas obras da coleção de Alayde Alves, de artistas da Galeria
Marília Razuk e a produção de 11 mulheres artistas do grupo Rosa Choque, que se encontram para discutir suas pesquisas poéticas, em um processo de desenvolvimento contínuo com a mediação do Ateliê397, espaço independente de arte contemporânea, atuante no circuito há 20 anos.
A mostra é concebida pela curadora Érica Burini, que acompanha o grupo e integra a atual gestão do Ateliê397, e acontece a partir deste sábado (24.06) das 11h às 16h, na Galeria Marília Razuk, no Itaim Bibi, em São Paulo.
O grupo intitulado Rosa Choque é formado pelas 11 artistas (Adriana Conti, Ana Sefair Mitre, Isabel Gouveia, Jussi Szilágyi, Lília Malheiros, Luciana Monteiro, Maria Lucia Simonsen, Michaela A F, Rosana Spagnuolo, Solange Renault e Sueli Espicalquis), acompanhadas pelas curadoras Thais Rivitti e Érica Burini, e com a direção da educadora Tania Rivitti e da colecionadora Alayde Alves. O grupo de artistas apresenta grande heterogeneidade, mas possui em comum algumas características. São mulheres cujas trajetórias artísticas são potentes, calcadas em um acúmulo de experiência, embora ainda não tenham recebido o devido reconhecimento.
Em certos casos, são aportadas outras áreas de conhecimento aos projetos, sobretudo a psicologia e a arquitetura, áreas de formação de algumas das integrantes do grupo. As artistas criaram trabalhos inéditos, instigadas pelo diálogo com a coleção de Alayde Alves, com o acervo da Galeria Marília Razuk e também por uma referência bibliográfica, que visa tangenciar assuntos recorrentes das obras.
Foto: Divulgação/Coleção Alayde Alves
“Em Tempos Como Estes”, livro homônimo à exposição, publicado pela Ubu Editora, é um compêndio de correspondências de Efratia Gitai, mulher judia que foi testemunha dos grandes acontecimentos do século 20. Observações agudas sobre o contexto político e artístico aparecem durante conversas com familiares, assim como fragilidades, incertezas e inseguranças, compondo uma figura valente, mas também muito humana.
A escrita mostra o mundo subjetivo denso e rico desta mulher, mãe do cineasta Amos Gitai, que foi apagada do registro da história, salvo os documentos e aparições nos filmes do filho. A correspondência, em especial as cartas de Efratia, se mostra um importante elo de ligação para o ecossistema que se forma nesta mostra, unindo um espaço independente, o Ateliê397, uma galeria, a Marília Razuk, uma coleção particular, de Alayde Alves, e a produção independente das artistas, em torno de questões de memória, apagamento e reconhecimento das subjetividades femininas.
Foto: Divulgação/Coleção Alayde Alves
“O tempo é um elemento em comum entre todas essas frentes de trabalho. Seja o tempo da urgência atual quando pensamos no Antropoceno e no capitalismo tardio, o tempo da história, da memória, do apagamento e da recuperação de figuras, sobretudo femininas, o tempo do olhar, que requer uma desaceleração, um movimento contra-corrente com o que vemos hoje, um ritmo frenético e desatento. Mas principalmente, o tempo de produção das artistas, sua idade, reflexão e a densidade que ele traz às produções. Muito além de uma questão temática, o que se propõe aqui é um olhar generoso e interessado para os trabalhos destas mulheres que, quando postos lado a lado com obras da coleção da Alayde ou de artistas da galeria Marília Razuk, se mostram igualmente pertinentes à atualidade e reveladores de questões muitas vezes não vistas por jovens artistas”, diz a curadora Érica, quando ressalta os elementos disparadores da escolha das obras.