A atriz Priscila Reis, 33 anos, vem se destacando cada vez mais no papel de Luíza, protagonista da websérie de sucesso “Stupid Wife”, disponível no Youtube, e que aborda temas atuais relacionados ao feminino. Na série para a internet, ela é casada com Valentina [Priscila Buiar] há dez anos e acorda um dia [já na segunda temporada] com amnésia dissociativa causada por um trauma, e não se lembra exatamente dos últimos dez anos.
Priscila também pode ser vista em outros trabalhos de peso, como a série documental “Todo Dia a Mesma Noite”, da Netflix, que retrata a tragédia da Boate Kiss, e o longa “A Porta ao Lado”, dirigido por Julia Rezende.
A atriz iniciou sua carreira com 13 anos. Na época, fazia parte da Companhia de Teatro Luciana Coutinho se apresentando em peças infantis nas escolas municipais do Rio de Janeiro, sua cidade natal, e na sequência ingressou nos cursos de teatro da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) e o Tablado.
Além de inspirar seu público por meio da atuação, ela compartilha seu dia a dia e experiências em seu perfil no Instagram. Também usa a rede como um canal de comunicação para se posicionar sobre pautas que acredita. A atriz já morou em 32 dois países, o que a tornou fluente em italiano e inglês. À época, Priscila atuava como modelo, carreira esta que deu grande base a seu projeto de ser atriz.
Leia a seguir o papo que RG teve com Priscila.
Essa é uma história que eu tenho muito carinho, porque, diferentemente de muitas pessoas, eu tive muito apoio da minha família. Eu acho até que foi por uma vontade muito genuína do meu pai, que sempre me incentivou, me levava muito a peças de teatro. Ele trabalhava em um shopping, nós tínhamos uma loja de produtos esotéricos, e tinha um curso de teatro dentro desse shopping, mas eu morava na Zona Sul e isso era no Recreio, é uma distância muito grande. Ele me inscreveu no curso, então duas vezes por semana eu saía da escola e a gente ia até o Recreio, eu fazia a aula de teatro e depois ficava até fechar o shopping. Na época já começaram a surgir alguns testes, eu fiz para “Malhação”. Nesse curso nós montávamos peças e apresentávamos em escolas municipais do Rio, e era muito legal porque era uma forma de levar cultura para crianças. Para mim foi uma experiência muito enriquecedora, essa troca.
Nessa época eu já fazia participações em novelas, fiquei um ano em cartaz com uma peça em Copacabana. Foi quando comecei a estudar no Tablado e na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Só que aí apareceu a oportunidade de trabalhar como modelo fora do País, e eu fui, mas todas as vezes que eu voltava eu continuava estudando e fazendo testes na área de atuação. Até que eu voltei de vez e desde então eu sigo trabalhando.
Eu sempre gostei muito de atuar, e acho que o trabalho de atriz também é muito de observar, e a moda me trouxe essa oportunidade de estar fora e ver tudo isso. Tive a oportunidade de viver em países muito exóticos, como China, Índia, Malásia, Filipinas, e ainda Europa e Estados Unidos. Vi muitas diferenças culturais por conta dessa diversidade de países e acho que a moda me proporcionou isso, que trago como uma bagagem na minha carreira de atriz.
Já estreou. Na primeira temporada nós conseguimos 45 milhões de visualizações no YouTube – a internet tem esse poder que eu não conhecia. A primeira temporada quando termina, deixa uma pulga atrás da orelha. Então essa segunda temporada vem para responder muitas dessas questões que ficaram em aberto.
“Stupid Wife” é baseada em um livro chamado “Lembre-se de Nós”, e esse livro é baseado em uma fanfic (fanfiction – narrativa ficcional escrita e divulgada por fãs) de uma banda de meninas, e os fãs começaram a criar histórias sobre duas das artistas, inclusive de relacionamentos. E essa fanfic “Stupid Wife” é a segunda mais lida no mundo. Minha personagem é a Luíza, que é casada há dez anos com a Valentina, e ela [Luíza] sofre um trauma e acorda um dia e se esqueceu dos dez últimos anos de sua vida. Ela acorda lembrando-se de quando era uma jovem adulta na faculdade, e que não suportava a Valentina por questões ideológicas. Ela então acorda um dia e está na cama da Valentina e não entende por quê. Pergunta-se: “Como assim me casei com uma pessoa que não suporto?”. E aí a história vai se desenrolando a partir disso, para entender qual foi o gatilho, o trauma que tirou essa memória. E por outro lado tem a outra personagem, que vai ter de reconquistar Luíza de novo, e conta ou não conta, porque a Valentina sabe o trauma que a Luíza sofreu. Nós vamos tratar um assunto que é muito importante, na segunda temporada, que é a depressão pós-parto.
Tem um cadastro na internet que se chapa Oppah, eu fiz, mandei meu vídeo e deixei meu cadastro lá. Aí a diretora da série me mandou um direct no Instagram perguntando se eu queria fazer o teste, e me lembro que eu tinha só mais um dia no Rio, mas ela topou que eu fizesse. Em princípio eu gostei mais da outra personagem, a Valentina, mas pensei que se ela me mandara o da Luíza, era esse que eu ia fazer. Depois de uns dez dias, rolou um call back [um tipo de segundo teste], e quando eu fui fazer encontrei uma colega atriz, que coincidentemente também se chama Priscila, e perguntei a ela onde estariam as outras meninas que fariam o teste. E ela me disse que nós duas havíamos sido aprovadas e que seríamos o casal.
Eu fiz uma preparação particular e depois tivemos a preparação com a equipe da websérie. Para você ter uma ideia, a Luíza tem curso de bachata (lê-se “batiata”, dança típica da República Dominicana). E minha personagem é uma professora, eu não podia saber mais ou menos, vi vários vídeos no YouTube e tive aulas particulares da dança, para mim foi muito desafiador. Gravamos uma cena da dança que teve a presença de 250 fãs da série, eu estava muito nervosa, mas deu tudo certo, meu par, um grande amigo meu, Ian Braga, disse que era para a gente se divertir, foi transformador.
Eu não tinha noção. Porque como disse eu não era muito desse mundo da internet, eu era mais low profile, então essa coisa de canal do YouTube era muito distante para mim. Me lembro que no dia do call back, a Priscila disse: “Amiga, sua vida vai mudar com essa websérie”. E minha vida mudou completamente… Nossa série chegou a 35 países, rompemos barreiras de língua, de muita coisa. Hoje tenho muita visibilidade como atriz devido a esse trabalho.
Eu inventei uma brincadeira que é Luizers e Valentiners, porque como a minha personagem está muito na defensiva, ela não se lembra das coisas, o público começou a ficar com muita pena da Valentina (risos)… Então eu acho que as pessoas têm de passar o pano também para a Luíza, entender por que ela estava tão reativa.
Ah, vem muita coisa boa, só não sei se posso falar. Tem coisas legais, fiz testes importantes, acho que 2023 promete. Mas vou ficar com essa resposta, porque morro de medo de falar algo que não posso.
Olha, a rede social para mim veio como uma boa surpresa, porque antes da série, eu confesso que era bem mais reservada com a minha vida pessoal. Mas como a nossa série vem da internet, e é um público da internet, eu senti essa necessidade de ter esse contato mais próximo com eles, até para ter um feedback da minha personagem e tal. E eu percebo que a galera se importa não só com a personagem, mas como comigo também, a atriz Priscila. Então, sim, eu me exponho, gosto de dar muita dica de livro, de série, já compartilhei sentimentos, passei um processo de luto no ano passado… Os fãs têm um acolhimento muito grande, de dar apoio, suporte. Então se eles já passaram tantas vitórias comigo, por que não mostrar meu lado mais humano? Acho que todo mundo passa pelo momento da perda na vida. Eu recebo muitas cartas, eu abri uma caixa postal para isso. Nos anos 1990 eu cresci assistindo Xuxa, era toda uma geração, e a Xuxa recebei aquelas cartas homéricas, uma quantidade enorme, e hoje ainda existe muito essa cultura. Eu recebo caixas e caixas do mundo inteiro, e as pessoas se sentem mais à vontade para contar delas. Eu também sou uma pessoa com sentimentos, que sofre, que chora, eu já passei por uma depressão profunda… Então acho que essa troca no Instagram fica o mais real possível.
Ah, a minha família é a luz dos meus olhos, eu até me emociono porque eu tenho uma família que sempre me apoiou em tudo na vida, tudo mesmo, eles são muito parceiros. A minha irmã é dez anos mais nova do que eu, ela sempre me ajudou muitos nos testes, sempre, eu tinha que ensaiar, decorar texto, e ela ficava ali comigo, batalhando. Ela é lésbica, e eu faço uma personagem que é gay, tem essa representatividade, que de alguma forma eu sinto que a estou honrando. Minha mãe é maravilhosa, é psicóloga, o que é demais porque às vezes ela me dá carinho de mãe, mas outras vezes pergunto se ela está me analisando (risos). E meus avós, que cresci com eles, são pessoas que eu sinto muita falta, porque acaba que mora todo mundo no Rio.
Atividade física é uma coisa que eu comecei a fazer há muito pouco tempo. Eu sempre gostei de ioga, até pelo lado da espiritualidade, que é uma coisa que eu cuido desde sempre. Mas eu estou com 33 anos, a idade vai chegando, então agora estou me exercitando aqui em SP com um personal, estou começado a pegar gosto pela coisa. Eu gosto muito de fazer trilha, de estar perto do mar, então sempre que estou no Rio vou à praia dar um mergulho. Sou uma pessoa muito mais do dia do que da noite.
Não, eu sou boa de garfo. Meu pai era chef de cozinha, e ele veio de Belém. Eu me lembro que com quatro, cinco anos ele me dava açaí para comer, eu achava uma papa roxa, ruim. E ele falava: “Você tem que aprender a comer tudo, porque você não sabe como vai ser, onde vai morar”. Então eu como de tudo, no geral me alimento bem.
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