Cena de “Vala: Corpos Negros e Sobrevidas” – Foto: Valmyr Ferreira
Nos dias 3 e 04 de junho, a Cia. Sansacroma apresenta “Vala: Corpos Negros e Sobrevidas” no Centro Cultural São Paulo. O impactante espetáculo, com entradas gratuitas, revela a história de limpeza étnica e genocídio da população negra ao longo dos tempos, destacando também sua resiliência e capacidade de sobreviver.
Com coreografias que propõem uma imersão estética intimista, a obra explora como nossa estrutura social justificou e moldou novos valores, conceitos de urbanidade, civilidade, segurança pública e uma escancarada política de morte.
O projeto foi concebido por Gal Martins, diretora do grupo. As inspirações surgiram após uma visita aos vestígios do violento período de escravização, conservados no Cemitério dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro. Especialistas dizem que até 20 mil corpos – de africanos escravizados que morreram durante a terrível viagem marítima de três meses ao Brasil – podem estar enterrados na área. “Caminhar ali é uma experiência que nos atravessa em diversas camadas. Desse movimento, surge a nossa performance para justamente destacar que fomos, sim, enterrados. E esse enterro não é só literal, mas simboliza sobretudo a tentativa de matar nossa ancestralidade, construindo a ideia do corpo oco a partir da política de violência instalada no país. Mas, apesar de tudo, estamos aqui. E, constantemente, renascemos e seguiremos renascendo”, destaca.
Em cada ato, “Vala” traz à tona o processo de objetificação e desumanização do corpo negro, provocando uma reflexão profunda sobre a estrutura racista implantada no Brasil.
A trilha sonora original foi criada por Dani Lova e Fefê Camilo. “Vale destacar que em cena, reverberando no ato dançante as nossas indignações coletivas, falamos de morte, mas, ao mesmo tempo, falamos principalmente da vida.”
Sediada no Capão Redondo, região periférica de São Paulo, a Cia. Sansacroma traz como ponto de partida as poéticas do corpo negro e a forma com este se insere na sociedade “É sempre importante trazer para o circuito cultural da cidade um trabalho que possui uma responsabilidade estética, firmando o nosso próposito, pesquisa e trazendo temáticas que, infelizmente, ainda são urgentes. É preciso falar, escancarar, regurgitar”, ressalta Gal, que aqui se encarrega não só da concepção como, também, da direção artística e coreográfica. A performance e interpretação são assinadas pelos bailarinos Alma Luz Adélia, Bruno Novais, Claudiana Honório, Cristiano Saraiva, Lua Santana e Manuel Victor.
A estreia no CCSP integra a circulação “Percursos Pretos: 20 anos de trajetória da Cia Sansacroma”, que prevê ainda, para o segundo semestre, outras duas ações: o “Dança na Vizinhança”, onde serão realizadas intervenções em casas de famílias do bairro do Capão Redondo, e o projeto “Retratos”, que chega na sua terceira edição, trazendo as memórias dos 20 anos da companhia no diálogo entre dança e cinema.
A ação foi contemplada pela 33ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.