Mulheres trans, cis, travestis e não binárias podem se inscrever na 2ª Mostra Nacional CineMarias até o dia 1º de junho Cineastas e realizadoras audiovisuais de todo o país terão a chance de inscrever seus filmes na 2ª Mostra Nacional CineMarias – Corpos (in)Visíveis até o dia 1º de junho. O evento ocorre em formato presencial, entre 31 de agosto e 2 de setembro, no Cine Metrópolis (Ufes), na cidade de Vitória, no estado do Espírito Santo.
Podem ser inscritos filmes brasileiros dirigidos por mulheres trans, cis, travestis e pessoas não binárias, produzidos a partir de 2019 com duração de até 25 minutos. Cada proponente pode enviar até duas obras dos gêneros documentário, ficção, animação ou híbrido. As selecionadas irão compor as duas mostras competitivas de curtas-metragens (nacional e capixaba).
Durante a Mostra de 2023, além da exibição dos filmes, o público também vai participar de mais de 30 horas de uma programação que conta com workshops e masterclasses de criação gratuitos. Também será a oportunidade de prestigiar o lançamento dos filmes-poesia produzidos durante o LAB Audiovisual Imersivo CineMarias. As obras inéditas serão inspiradas em denúncias feitas com base na Lei Maria da Penha e nas vivências das próprias participantes que sofrem com o assédio, misoginia, violência de gênero e também em seus sonhos e fabulações de novos futuros. Ao todo, o LAB recebeu 289 inscrições, residentes de sete municípios da Grande Vitória: Guarapari, Viana, Fundão, Cariacica, Vitória, Serra e Vila Velha. A maioria das candidatas é negra e 82% já sofreu ou presenciou algum tipo de violência.
O nome Mostra CineMarias é inspirado na Lei Maria da Penha e durante a programação é possível participar de atividades educativas de reflexão do combate à violência contra identidades femininas e de difusão da Lei Maria da Penha. Vale destacar que a mostra feminina ocorre no Espírito Santo, em um dos estados com o maior índice de feminicídio do País. Em 2022, o estado ficou em 6º lugar no ranking de homicídio de mulheres.
Ao mesmo tempo, no Brasil, a presença de lideranças femininas em produções audiovisuais segue quase inexistente. Segundo o estudo “A presença feminina nos filmes brasileiros”, realizado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), em parceria com o Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2019, apenas 19% dos filmes brasileiros lançados comercialmente foram dirigidos por diretoras. Nenhuma delas negra.
Mulheres negras, indígenas, mulheres trans e mulheres PcD são sistematicamente não representadas, embora a maior parte da população brasileira se autodeclare negra e parda. Somado a isso, mulheres negras também representam 1/4 da força de trabalho no audiovisual, sendo a presença em cargos de liderança baixíssima. Aqui cabe destacar como o não reconhecimento das interseccionalidades afeta essas mulheres de forma ainda mais desigual.
Corpos (in)Visíveis é o tema da mostra em 2023
Inspirada no conceito de território decolonial e entendendo o corpo como um território por si só, a Mostra CineMarias traz como provocação o tema Corpos (in)Visíveis. O intuito é combater e dar visibilidade à disputa de narrativas e ao apagamento histórico imposto aos corpos e territórios de identidades femininas pretas, pardas e indígenas e suas interseccionalidades.
A escolha do tema parte da crítica e do reconhecimento do processo de colonização e apagamento de culturas inteiras, em especial dos povos nativos da América Latina e de África, que resultaram na exploração, silenciamento, sequestro e dizimação desses corpos.
A proposta é trazer um olhar sobre o termo decolonialidade como um caminho de “resistência e recusa”, nas palavras da pedagoga especialista sobre o tema Catherine Walsh, para desconstruir padrões e conceitos impostos rompendo com a continuidade do apagamento desses corpos e questionando as estruturas que sustentam essa construção.
Para a idealizadora e diretora de programação, Luana Laux, “A 2ª Edição da Mostra CineMarias é um convite para debater representatividade, resistência e combate à invisibilização dos corpos e territórios femininos, pretos, pardos e indígenas pela perspectiva e o olhar de suas artistas. É preciso entender que os corpos e suas representações também são territórios em disputa, e a sua ausência nas telas, na mídia, no cinema, na política e nas instituições brasileiras faz parte de um processo histórico de opressão e sequestro de suas imagens e culturas”
As realizadoras concorrerão ao troféu CineMarias de Melhor Filme e Melhor Direção em ambas as categorias nacional e capixaba.