Lucas Lima estreou como ator no musical “Once”, em cartaz em São Paulo – Foto: Adriano Dória
“Me sinto como se tivesse experimentado chocolate pela primeira vez aos 40 anos”. É assim que Lucas Lima define sua estreia como ator. “Tem como dizer ‘sim, é gostoso, mas não quero comer chocolate nunca mais’?”, brinca. Ele já entrou nos palcos com o pé direito, estreando como protagonista do musical “Once”, com direção de Zé Henrique de Paula, que fica em cartaz até dia 21 de maio no Teatro Villa Lobos, em São Paulo.
E não pretende sair desse universo tão cedo. “Tô muito a fim de mergulhar de cabeça. O problema é que eu já tenho 47 profissões e mergulho de cabeça em todas. Então ainda vou ter que pensar em como vou encaixar isso na minha vida, mas não consigo ver essa como uma experiência única e ponto, foi, acabou”, conta em entrevista ao RG.
Bruna Guerin e Lucas Lima em cena do musical “Once” – Foto: Adriano Dória
Dizer que ele tem dezenas de profissões não é exatamente um exagero. Músico, multi-instrumentista, produtor musical, cantor, compositor e apresentador são algumas delas. Lima começou a tocar em orquestras aos três anos de idade e, nos últimos anos, tem trabalhado na produção e composição de projetos ao lado de sua esposa, Sandy.
Assim como em sua vida, “a música é a grande protagonista do musical”, como define a atriz Bruna Guerin, com quem Lima forma o casal principal da peça. Ele interpreta um músico em Dublin, que toca suas composições próprias para arrecadar alguns trocados, quando conhece uma imigrante tcheca (Guerin), que se encanta pelas melodias. Quando menos percebem, os dois estão compondo canções sentimentais juntos, mas encontram algumas dificuldades para dar início a um romance. Ela é casada e ele vem de um relacionamento amoroso frustrado.
Lucas Lima – Foto: Adriano Dória
A peça é baseada no filme homônimo de John Carney, lançado em 2007. Estreou em Nova York em 2011 e chegou à Broadway no ano seguinte, vencendo 8 das 11 nomeações ao Tony Awards, principal premiação do teatro nos Estados Unidos.
Em entrevista ao RG, Lima revela os desafios que enfrentou para dar vida ao papel no Brasil e fala sobre a recém-descoberta paixão pelo teatro. Leia abaixo:
RG – Como você se sente com sua estreia no mundo dos musicais? É algo que sempre quis?
Essa estreia está sendo uma das coisas mais lindas da minha carreira e vida. Nunca imaginei que ia me pegar tão fundo nem de maneira tão intensa. Eu sou um admirador do ofício de ator, sou fascinado, mas nunca senti que levava jeito nenhum pra coisa e respeito demais quem faz disso sua vida.
Mas minha vida tem muito dessas coisas. Eu acabo realizando sonhos antes de ter coragem de sonhar. E esse tá sendo um deles e tô tendo uma das experiências mais transformadoras da minha vida.
RG – Essa estreia sendo em um musical já tão premiado, existe uma pressão a mais? Como tem lidado?
Eu acho que até diminui a pressão, porque a gente tem um material tão incrível pra trabalhar… E eu tô cercado de pessoas tão competentes e especialistas na área que eu me sinto muito seguro. O elenco é surreal, é tanto talento e excelência que eles arrastam todo mundo pra cima. “Once” é um espetáculo muito singular e especial. Muito real, pé no chão. Contar essa história não é pressão, é privilégio.
RG – Como foi se adaptar como artista para esse formato novo na sua carreira, tanto tecnicamente quanto emocionalmente?
Tecnicamente foi desafiador pelo nível de comprometimento e entrega que exigiu – e ainda exige. Quando contei pra uma amiga atriz que eu ia fazer um musical, ela respondeu: “Ah, resolveu virar atleta?”.
Porque, realmente, é um nível de preparo muito mais intenso do que qualquer outra coisa que já fiz. Mas essa dedicação, esse tempo e essa quantidade de ensaios trazem uma confiança e segurança que eu também não conhecia. Nunca me senti tão tranquilo numa estreia, o que foi muito louco porque eu nunca fiz nada tão longe da minha zona de conforto.
É claro que 33 anos trabalhando com arte ajudam muito, mesmo na parte não-musical. Só que eu nunca tinha atuado antes, muito menos feito uma peça inteira, muito menos como protagonista. Eram muitas coisas novas ao mesmo tempo. E obviamente, pegou o emocional, principalmente antes de começarem os ensaios. Muita insegurança, medo… Depois que o processo começou, as coisas melhoraram muito, porque eu fui entendendo o que realmente é o teatro. Não sou “eu”, é o “espetáculo”. Ele que é o protagonista. A gente só tá ali pra levar a história pra pessoas, a gente é veículo. Isso tira bastante a pressão individual e transforma a experiência em algo colaborativo e coletivo, e aí fica lindo.
RG – Você pretende fazer mais musicais e trabalhos para o teatro? Considera que está em uma nova etapa da carreira?
Eu acho meio inevitável. Me sinto como se tivesse experimentado chocolate pela primeira vez aos 40 anos. Tem como dizer “sim, é gostoso, mas não quero comer chocolate nunca mais”?
Quando eu topei fazer o musical eu imaginava que seria uma experiência legal, algo divertido de fazer e um mundo legal de ter “passeado” por uns meses.
Só que eu me apaixonei. Eu me apaixonei por absolutamente todos os aspectos do teatro. Tô muito a fim de mergulhar de cabeça. O problema é que eu já tenho 47 profissões e mergulho de cabeça em todas. Então ainda vou ter que pensar em como vou encaixar isso na minha vida, mas não consigo ver essa como uma experiência única e ponto, foi, acabou. É especial demais e eu pretendo achar um jeito de trazer o teatro pra minha vida.
SERVIÇO
Musical “Once”
Em cartaz até 21 de maio
Teatro Villa Lobos – São Paulo (SP)
Ingressos aqui