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Zudizilla se despede de seu segundo álbum com um curta-metragem

Zudizilla – Foto: Reprodução/YouTube

Assim como o filme “Vozes do Silêncio” (Natura Musical) abriu a era “Zulu Vol. 2: De César a Cristo”, segundo álbum de estúdio lançado pelo rapper Zudizilla em 2022, o artista de Pelotas (RS) anuncia seu novo curta , “De César a Cristo”, para encerrar o ciclo do disco.

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O início dessa despedida também abre caminho para o grande último manifesto, como ele costuma chamar o “Zulu Vol. 3: quarta parede”, seu próximo trabalho a ser lançado ainda neste ano.

“A ideia de lançar o short film é encerrar o ciclo do segundo volume e auxiliar também no entendimento de todas as subjetividades desse segundo disco, que parece ser mais simples de ser absorvido que seu antecessor, mas com diversas camadas escondidas. Acredito que vai lançar luz para algumas questões da poética do disco, assim como trará outras dúvidas também”, explica o rapper.

Filmado em preto e branco, o filme tem pouco mais de seis minutos e conta com a participação da cantora e compositora Luedji Luna e do próprio Zudizilla, que se mescla com seu personagem criado para sua série de discos, o Zulu. Entre diversas referências de filmes que moldaram sua construção artística e pessoal, o curta bebe da fonte visual  e narrativa de “Malcom & Marie” (Sam Levinson). “Nesse filme eu também trago a tensão entre um casal, que neste caso se dá porque o personagem Zulu está, mais uma vez, tendo um de seus acessos de humor enquanto sua companheira relaxa, porque obviamente não precisa lidar com os problemas de seu cônjuge”, comenta ele.

É sobre amor, mas carrega também a interferência do racismo estrutural dentro deste e qualquer outro universo que uma pessoa preta se depara em seu dia a dia, do início ao fim de sua vida. A faixa “Afortunado”, que abre o disco, também é ponto de partida nesta narrativa que se inicia a partir de uma ligação da mãe do personagem Zulu, que no auge da terceira idade não consegue parar de trabalhar para os outros e muito menos ter um descanso merecido de fim de ano. Então vem o acesso de raiva do protagonista com essa condição, tão comum no Brasil, principalmente com pessoas pretas.

“De César a Cristo é sobre isso: o limite que te fará ser amoroso como Cristo ou voraz como César. Independente de qual for sua escolha, se você for preto é preciso encontrar o equilíbrio entre ambos ou optar por uma das posturas que o leve ao poder para que solucione problemáticas inerentes do indivíduo para que ela não interfira na existência preta, ou seja, para que ela exista para aquém do racismo ao invés de só se movimentar quando for acuado pelo opressor”, reflete Zudizilla. “O preconceito racial molda o caráter e interfere nas mínimas ações de quem sofre, tornando o ato de amar um projeto político já que é muito difícil estar com alguém que é “quebrado” pela sociedade”, complementa.

Assim como o disco, o filme – que tem direção de Marcelo Alves e Diogo Comum – é basicamente a tensão que o racismo coloca sobre pessoas pretas e que por isso têm dificuldades de ter simples experiências, como amar, por exemplo. “Ele e, neste momento eu, Zudi, me misturo com meu personagem. Agora podemos ter vivências maravilhosas e segurança financeira, mas o racismo o transformou em um protagonista que busca poder a todo custo para amenizar algumas dores e a forma de buscar é pelo amor ou ódio, Cruz ou espada, César ou Cristo”, finaliza.

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