Foto: Marcio Farias
Uma atriz de berço. Assim pode-se definir Clara Serrão, a jovem atriz de 22 anos que está no ar na novela “Vai na Fé”, da TV Globo, e na série “Todo Dia a Mesma Noite”, da Netflix. Neta de atriz e filha de bailarina com um músico, Clara literalmente deu seus primeiros passos no palco. No streaming, a atriz pode ser vista como Daiane, uma das sobreviventes do incêndio da Boate Kiss, em 2013, cenário que movimenta a história. Já na trama das 19h da TV Globo apresenta seu trabalho na pele de Isabela, a Bella, uma jovem estudante de Direito do Icaes e que vem se destacando na trama trazendo a discussão sobre questões raciais.
“A Bella é uma menina doce, sensível, responsável e uma ótima amiga. Ela veio de Minas Gerais com a expectativa de abraçar a chance de, através do estudo, ter melhores oportunidades na vida. Ela se alia à Jennifer (Bella Campos) e ao Yuri (Jean Paulo Campos) por perceber neles, além das semelhanças físicas, o sentimento de deslocamento diante do ambiente extremamente elitizado da faculdade”, considera a atriz sobre a sua personagem de estreia na TV aberta.
A realidade da experiência no campus vai trazer alguns conflitos que colocará Bella “em posição de repensar sua identidade enquanto uma jovem negra, compreender sua autoestima, sua postura em relação às outras pessoas, no âmbito das amizades e amorosamente também. Acredito que muitas meninas negras atravessaram esse momento em alguma altura da vida”, resume.
Foto: Marcio Farias
Estudante da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna e da graduação em Teatro da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), Clara percebe semelhanças com Bella. “Me considero uma pessoa tímida como ela, e também já passei por esses conflitos em relação à minha própria identidade quando me percebi em ambientes bem diferentes aos do meu costume, além da trajetória de florescimento da autoestima que eu acredito ser inerente a quase toda menina negra”, pondera a atriz.
Este ano, Clara ainda estará na série “Cenas de Um Crime”, de Izabel Jaguaribe. “Minha personagem é a Wendy, uma menina de 16 anos que se torna uma suspeita de assassinato ao sair em busca do irmão mais velho que foi sequestrado por milicianos”, adianta a atriz que, embora seja técnica em mecânica formada pelo Cefet, chegando a estagiar no Parque Gráfico da Infoglobo, em Duque de Caxias, sempre esteve inserida na atmosfera artística.
“Minha avó cuidava da cantina de um teatro, o mesmo onde ela participava das peças. Desde muito pequena eu assistia aos espetáculos e ficava fascinada. Comecei a fazer teatro aos oito anos, mas só iniciei minha carreira profissional em 2022, quando gravei meu primeiro trabalho no audiovisual. No teatro, já estive envolvida em vários projetos de montagem, mas nunca cheguei a entrar em cartaz. Fiz curso de improvisação no Tablado na adolescência, e aos 20 anos ingressei na Martins Penna e na Unirio.”
Foto: Marcio Farias
Veio da família também a forte relação de amor com o Carnaval. “Na adolescência eu desfilei por seis anos: dois anos na ala infantil e quatro na ala de passistas. Minha avó já foi costureira de barracão, minha mãe foi passista por 19 anos e integrou a comissão de frente da Beija-Flor, meu pai foi da comissão de frente da Grande Rio… Hoje não temos participado ativamente dos desfiles, mas somos espectadoras extremamente apaixonadas, é um amor repassado entre gerações. Tenho uma vontade muito grande de voltar a desfilar, e alimento o sonho de integrar uma comissão de frente”, confessa.
A dupla estreia de Clara no audiovisual veio cercada de coincidências. “Minha avó fez o curta-metragem ‘O Cabeça de Copacabana’ (2000), dirigido pela Rosane Svartman, que é autora da novela que faço – e onde tenho como colega a atriz Carla Cristina, que foi minha primeira professora de teatro. E o Isacque Lopes, que faz o Benjamin jovem nas cenas de flashback da novela, também interpreta o Wallace, irmão da minha personagem Wendy na série ‘Cenas de Um Crime’”, diverte-se a atriz, que está amando fazer novela.
Foto: Marcio Farias
“Me sinto muito privilegiada em estar em um projeto tão especial neste momento inicial da minha carreira profissional como atriz. Uma atriz jovem negra que anseia por produtos que valorizem nossas narrativas e coloquem negros em lugares de destaque com personagens humanizados, com nuances e histórias reais, longe dos estereótipos. Uma novela alcança todo o País e tem o poder de ser um agente de transformação social, levando até as famílias assuntos sensíveis e de muita responsabilidade. Há alguns anos eu vinha fazendo testes e esta oportunidade me fez sentir gratidão por toda a espera”, finaliza Clara.