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Camila Rocha, a Tininha de “Travessia”, une dança e interpretação em sua arte

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

Camila Rocha, a Tininha de “Travessia”, é muito mais que uma atriz, ela é uma dançarina de mão cheia e leva a sua arte para todos os cantos enriquecendo o interpretar com sua formação acadêmica. Nasceu na Rocinha e foi criada entre este local e o Vidigal, onde estudou teatro, canto, expressões corporais e cinema no Nós do Morro, além de aulas de futebol e skate. Atualmente, ela vive em Santa Teresa, bairro que a deixa próxima de suas práticas artísticas e de pesquisa.

Sua estreia na TV aberta foi na série “Sob Pressão”. “Foi quando pude experimentar de perto a dinâmica da TV”, conta, local que a agradou e que ela nunca mais deixou. Em 2021, esteve no elenco da novela da 19h “Quanto Mais Vida Melhor”, da TV Globo. Além de uma carreira extensa, a atriz fez trabalhos internacionais, participando do filme francês “Aos Nossos Filhos”, chegando a contracenar com Marieta Severo e Aldri Anunciação. Além de fazer parte do longa “Nada de Bom Acontece Depois dos 30”, dirigido por Lucas Vasconcelos, no festival internacional de Cannes.

Camila é uma pesquisadora assídua das artes, sobretudo da dança. Atualmente, além de ser atriz, é graduanda em bacharel em dança pela UFRJ e dentro dessa formação começou sua pesquisa com afro e o bpm do funk, que a conduzem nas preparações corporais e direções de movimento que dirige nos espetáculos de teatro.

Aplicada que é, antes de conceber Tininha, sua personagem em “Travessia”, foi para o Maranhão a fim de fazer o laboratório necessário para a personagem. “Fui dez dias antes da minha data de gravação para o Maranhão para começar meu laboratório pessoal, e com certeza foi a melhor escolha que fiz. Passei os dias andando por São Luís conhecendo não só a cidade, mas ouvindo, observando e conversando com as pessoas na rua.”

Leia a seguir o papo que RG teve com a atriz.

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

Como começou sua carreira como atriz?

Comecei atuando nas minhas apresentações de dança, sempre tinham personagens no balé, jazz e afins e ainda que não com fala, usava das expressões faciais e corporais para contar o enredo. Até que comecei a fazer teatro no Núcleo de Artes do Leblon, e desde então sigo entre a dança, teatro e performance

Chegou a estudar teatro? 

Estudo teatro desde a infância, comecei de fato no Teatro Nós do Morro, onde pude estudar não só o teatro, mas tive aulas de canto, voz, corpo e cinema. O Nós teve uma marca muito importante na minha construção artística, foi um aprendizado de escuta, troca e saberes que trago comigo até hoje.

Quais papéis de sua carreira você destacaria?

Destaco a Tininha, minha personagem atual em “Travessia”. Tininha tem me proporcionado me aprofundar em construir uma persona com muita representatividade e riqueza cultural. Dar vida a ela é me desafiar em um novo sotaque que não é meu, em hábitos e dizeres que são de um cotidiano existente, afinal Mandacaru existe e é lindíssimo.

Como a dança entra na sua vida?

Eu danço desde antes mesmo de nascer, minha mãe costuma dizer que eu já fazia festa na barriga dela. Ao nascer uma música com meu nome, escrita pelo meu pai, já estava pronta e na boca dos meus familiares prontos para me receber e festejar minha vida, e esse costume segue até hoje em meus aniversários ou encontros de família. A música “Camila a coisa mais linda que deus fez nascer” me embalou e desde sempre dancei. Na minha casa meus pais sempre foram da arte do Carnaval, então logo cedo comecei pelo Carnaval, mas também já fazendo aula de balé clássico, jazz, contemporâneo e dança afro. Hoje, além de ser atriz, sou graduanda em bacharel em dança pela UFRJ e dentro dessa formação comecei minha pesquisa com a dança afro e o bpm do funk que me conduzem nas preparações corporais e direções de movimento que dirijo dos espetáculos de teatro.

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

Que ritmos você pesquisou em seus trabalhos?

Para todo novo espetáculo que vou começar a dirigir os movimentos ou a preparação corporal, eu monto uma playlist. Elas me conduzem nas montagens e o beat me ajuda na criatividade de montar laboratórios, assim como coreografias. Essa dinâmica também segue nas minhas construções individuais de personagem, como a minha personagem Alice no filme “Uma Paciência Selvagem Me Trouxe Até Aqui”, em que ganhamos o prémio especial do júri em atuação no festival Sundance, usei muito das músicas pop e funk para chegar nela, uma personagem nova, astral e que vivia um relacionamento poliamoroso. Para a Soraia ouvia e me debruçava nos raps atuais feito por meninas do corre independente como Tasha e Tracie. O ritmo compõe meu fazer artístico, eu não vivo sem música. 

Como surgiu o convite para coreografar o clipe de “Avenida”, do grupo Braza?

Esse clipe surgiu por convite de amigos que estavam produzindo, ao chegar lá encontrei outros dançarinos e amigos. Posso dizer que esse clipe foi coreografado por mim e por essa grande composição de dançarinos e também coreógrafos, Severo idd, Wagner Cria, que estavam juntos para fazer esse clipe acontecer. 

Você participou de “Sob Pressão”, foi sua estreia na TV aberta?

Foi quando pude experimentar de perto a dinâmica da TV. Fizemos o especial “Sob Pressão – Plantão Covid”, o que fez com que essa experiência fosse um aprendizado duplo. Lá reencontrei minha mestra Fátima Domingues, uma das minhas primeiras professoras de teatro, e Roberta Rodrigues, que segue sendo uma grande referência na minha vida. 

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

Conte mais sobre o filme “Aos Nossos Filhos”

“Aos Nossos Filhos” foi o meu primeiro longa, fiz uma participação que me permitiu não só aprender, mas enfatizou que meu lugar era onde eu quisesse estar e para mim é fazendo arte, fazendo cinema, TV, estando no palco. Jessica foi uma participação de encontros maravilhosos e um deles foi com a Marieta Severo.

Como foi contracenar com Marieta Severo e Aldri Anunciação?

Foi maravilhoso, em todos os dias em que eu ia gravar eu chegava antes para poder ficar horas conversando com a Marieta na caracterização. Tive o prazer de dividir camarim com ela e ouvir sobre vida, sobre arte e inclusive sobre as netas, que hoje por coincidência uma delas, a Clara Buarque, está em “Travessia” comigo. E o Aldri sempre afetuoso é incrível, embora contracenando pouco, eu já o admirava e estendo essa admiração até hoje.

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

E “Travessia”, como foi o processo para você estar no elenco da novela?

Recebi o texto para o teste de Tininha e eu estava a caminho de São Paulo, dançava na Cia. Gumboot dance Brasil. Estava vivendo essa ponte entre os estados. As opções eram voltar ao Rio para o teste que seria no dia seguinte ou mandar uma selftape. Claramente eu disse que ensaiaria e voltaria na mesma noite, mas faria presencial, eu gosto do ao vivo (risos). Então voltei para o RJ estudando o texto no ônibus, passei em casa e apanhei minha saia e fui fazer o teste. O texto não me dava muitas dicas da personagem, mas as palavras “tambor” e “maranhão” me fizeram juntar as peças. Fiz todo meu teste e ao final dele perguntei se a novela falaria sobre o tambor de crioula. Quando disseram que sim, perguntei se poderia dançar, afinal havia levado a saia. Ensinei a música para a produtora de elenco, ao câmera e à operadora de áudio, e cá estou hoje dando vida a Tininha.

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

Como se preparou para a personagem Tininha?

Fui dez dias antes da minha data de gravação para o Maranhão para começar meu laboratório pessoal, e com certeza foi a melhor escolha que fiz. Passei os dias andando por São Luís conhecendo não só a cidade, mas ouvindo, observando e conversando com as pessoas na rua. O meu núcleo na novela se passava muito nos comércios e entre o cotidiano, e eu queria experimentar de perto essa vivência maranhense. Então desde a rua Grande até a Alcântara eu fui, e se hoje me chamam mesmo maranhense pelo meu sotaque na novela, ou ficam na dúvida se realmente sou carioca, é graças a esse meu laboratório pela cidade. Eu criei um laboratório para cada personagem e esse eu faria tudo outra vez, porque valeu a pena. 

Na trama, você é a melhor amiga de Brisa (Lucy Alves), como foi contracenar com ela?

Posso dizer que Lucy é minha irmã mesmo, construímos uma ligação muito afetuosa e verdadeira para além da trama. Levo ela comigo para a vida, porque nossa sintonia bateu ao ponto de conseguirmos ler uma a outra quando está bem ou não. Eu danço, ela canta e juntas fazemos uma sintonia sonora perfeita.

Você acha que a representatividade preta aumentou no audiovisual?

Graças a todos que vieram antes de mim, sim, tem gerado um movimento, ainda que devagar, potente no audiovisual assim como na arte em geral. É possível hoje ver e citar os nossos nas obras para além de dois, que era a cota. Hoje na frente e por trás das câmeras temos muitos [negros] e acredito que seguimos caminhando para não ser um espanto ou novidade ter pretos nas obras e sim ser “normal”, também pertencemos a esses espaços. 

O que falta para melhorar?

A queda do estereótipo e a falta de consciência. O racismo, a intolerância e a homofobia ainda são muito latentes nos espaços, principalmente no audiovisual. Ainda é preciso muita escuta, respeito e cuidado e estudo e consciência. 

Acha que o streaming abriu portas para novos atores e diretores, sobretudo mulheres?

Tem aberto e é possível perceber esse movimento nas obras, o quão abraça e nos traz para o real. Se ver e se sentir representado é bom demais. 

Quais são os próximos projetos, o que vem pela frente?

Meus estudos não param, então sigo nas minhas montagens corporais e fazendo a direção de movimento do espetáculo “Noite das Estrelas”, um espetáculo que partiu do filme dirigido pelas irmãs Lino, que se passa na Maré contando as histórias das noites das estrelas do movimento LGBTQI+ da Maré. 

Como cuida da beleza e do corpo? Além da dança, é adepta de alguma atividade física?

Sou daquelas que anda com uma garrafinha de água para todo lado, me hidratar é a grande chave e complemento da minha pele e corpo. Para além da dança, sou graduada em muay thai, então em toda brecha ou folga coloco as luvas e entro no ringue.

Como lida com as redes sociais, é mais de ver ou de postar?

Eu posto na medida, gosto de compartilhar minha rotina de gravação e meus momentos de viagens, além do meu hobby favorito de conhecer novos restaurantes e lugares de viagem. O Instagram me ajuda também nessa troca compartilhando as criações de personagens e lazer.

Foto: Leandro / Stylist: André do Val / Beleza: Florindo

Acredita ser importante uma figura pública se posicionar de forma político-social nas redes?

É um canal que nos possibilita expandir e alcançar pessoas, me posiciono na minha rede porque na minha rede mostro quem sou e acredito que usar essa ferramenta para isso é importante.

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