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Guthierry Sotero, o Vini de “Vai na Fé”, brilha em sua atuação

Foto: Lukas Alencar / Syling de Victor Mazzei / Beleza de Luan Milhoranse

O jovem Guthierry Sotero, 21 anos, o Vini de “Vai na Fé”, está sobressaindo na trama das 19h da TV Globo. Ele interpreta um estudante de direito que é muito amigo de Jenifer (Bella Campos), filha de Sol (Sheron Menezzes), e está emocionalmente envolvido com o colega Yuri (Jean Paulo Campos). Nascido e criado no Complexo da Maré, ele tem dupla cidadania, é brasileiro e angolano, por conta do pai, Souza Cristovão.

Cresceu com a mãe, Patricia Sotero, com quem divide tudo na vida. Tem seis irmãos, Yngrid Sotero, 28 anos, Maria Clara 18, Pedro Henrique, 17, os dois último cresceram com o pai, que além desses tem mais três filhas, Suzanny 15, Vissola, 4 e Safira, 2 meses

Sotero começou sua história com a arte em 2016, nas batalhas de MC’s. “Comecei em 2016 após o boom das ‘batalhas de sangue’ no Brasil, fiquei fascinado em como os MC’s pensavam muito rápido para atacar e responder uns aos outros”, conta. Foi atrás de fazer o mesmo, começou a escrever poesias e músicas. Como era muito tímido, o que resolveu com cursos de teatro, não conseguiu participar das batalhas, até conhecer o Slam. “Foi quando conheci o Slam, uma espécie de batalha de poesias, e comecei a me apresentar nas rodas culturais do Rio de Janeiro”, explica.

Em sua primeira batalha de Slam, ele perdeu a final, e percebeu como a performance era fundamental para a modalidade. “Foi quando eu fui para o teatro, em 2019, primeiramente para perder a timidez… Até que eu me encantei por esse universo e fiquei completamente apaixonado por essa arte. Hoje não consigo me ver distante disso”, diz.

Entre seus trabalhos de destaque, estão a peca com o grupo teatral do Centro de Artes da Maré chamada “Enquanto respirar”, em 2019, participações em “Amor de Mãe”, novela da Rede Globo, duas temporadas para a série “Tudo Igual… SQN”, do Disney Plus, uma temporada já no ar e a outra prevista para estrear no segundo semestre, fez a peca “Lua da Maré, 10 anos” com o coletivo Entre Lugares, e, recentemente, terminou as gravações de “Veronika”, nova série do Globoplay. Não é pouco para quem é tão jovem.

Sotero também é um cara bem ativo nas redes sociais, ele as usa ara expor suas ideias e sua luta contra o racismo e outros males da sociedade. “Ultimamente não tenho postado tanto sobre, mas lembro que sempre tinha uma galera bem retrógrada para chamar de mimimi e disseminar ódio gratuitamente. Optei por dizer isso nas minhas músicas, sinto que tenho mais liberdade e que quem ouve é porque se interessa no assunto!”

Evita bobagens na hora de comer, assim como chocolate, e não toma café de jeito nenhum, por conta de um trauma na infância [leia mais abaixo o que aconteceu]. É adepto de treinos na academia e gosta de sckincare. Ademais, ouve muita MPB, e tem Djavan como uma de seus músicos prediletos.

Leia a seguir o papo que RG teve com o ator.

Foto: Lukas Alencar / Syling de Victor Mazzei / Beleza de Luan Milhoranse

Você começou na cultura hip hop, como?

Comecei em 2016 após o boom das “batalhas de sangue” no Brasil, fiquei fascinado em como os MC’s pensavam muito rápido para atacar e responder uns aos outros. Naquele ano comecei a escrever as minhas primeiras poesias e músicas, e como uma forma de treinamento para expandir o vocabulário, eu escrevia umas 30, 40 palavras por dia em um caderno. Um dia eu estava passando as estações da radio de forma aleatória e tocou ˜Favela Vive”, fiquei maluco com a construção de rimas do rapper Froid e aquilo me aproximou ainda mais dessa cultura! Comecei a ir em várias batalhas, mas sem participar porque sempre fui muito tímido e isso me dava nervosismo para improvisar. Foi quando conheci o Slam, uma espécie de batalha de poesias, e comecei a me apresentar nas rodas culturais do Rio.

De que maneira se descobriu ator?

Na minha primeira batalha de Slam, no Grito Filmes, eu perdi na final. Ali eu vi o quanto a perfomance era fundamental para a modalidade e que se eu quisesse me destacar, o primeiro passo seria me soltar mais nos palcos. Foi quando eu fui para o teatro, em 2019, primeiramente para perder a timidez… Até que eu me encantei por esse universo e fiquei completamente apaixonado por essa arte. Hoje não consigo me ver distante disso!

Quais foram seus primeiros trabalhos?

A peca com o grupo teatral do Centro de Artes da Maré chamada “Enquanto respirar”, em 2019. Depois fiz participações em “Amor de Mãe”, novela da Rede Globo, gravei duas temporadas para a série “Tudo igual… SQN”, do Disney Plus – uma temporada já no ar e a outra prevista para estrear no segundo semestre-, fiz a peca “Lua da Maré, 10 anos” com o coletivo Entre Lugares, terminei recentemente as gravações de “Veronika”, nova série do Globoplay, e atualmente estou em “Vai na Fé. Antes de ir para o mundo artístico, eu trabalhei por quase dois anos como estagiário no Ministério Publico, eu queria ser desembargador.

O que estudou?

Não sou ator formado, hoje não consigo me ver em uma universidade. Penso muito em fazer cursos técnicos para mr aprimorar e me aprofundar mais em métodos de atuação. Nessa profissão você precisa sempre estar estudando e se atualizando cada vez mais sobre tudo.

Fale sobre Vini, seu personagem em “Vai na Fé”.

O Vini é um cara muito visceral, me encanto com a sensibilidade dele, a forma como ele vê o mundo e apoia todos em suas decisões. Uma empatia sem igual, creio que todo mundo precisa de um “Vini” em suas vidas! Ele é um cara querido pela galera, acredito que é pela identificação que ele causa nas pessoas. Um cara do bem, articulado, que sabe os seus direitos, fala de forma aberta e direta sobre a autoestima de pessoas pretas, líder do movimento negro na universidade e além de tudo isso, talvez o que mais me chame a atenção, seja a doçura de pessoa que ele é.

Como se preparou para o papel?

Tive pouco tempo de preparação, o intervalo entre o dia que recebi a notícia até entrar no set foram duas semanas e, paralelo a isso, eu estava gravando “Veronika” com um personagem dos anos 2000, totalmente diferente do Vini. Esse até hoje foi o meu personagem mais difícil por esses fatores externos. Fiz o meu estudo de campo como costumo fazer, crio um universo para esse personagem, decupo suas nuances e também

gosto muito de montar uma playlist par o personagem, isso me ajuda muito a ficar no mundo dele antes de entrar no set, por exemplo. Troquei com alguns amigos que cursam comunicação e o Vini se parece muito comigo também. Sinto que a cada dia eu tenho uma nova descoberta com esse cara e isso me alimenta demais.

Como tem sido a receptividade do público com seu personagem?

Está sendo um deleite colher os frutos de um trabalho que eu queria muito fazer. A recepção das pessoas tem sido a melhor possível. Sempre recebo muitas mensagens de identificação, pessoas felizes em se sentirem representadas, sabe? De conseguir ver o seu corpo numa novela em rede nacional falando de amor, sendo suscetível ao erro, arrependimento, afeto e todos os sentimentos que temos na vida real. Recentemente foi ao ar a cena em que Vini e Yuri dão um selinho, essa cena se expandiu de uma forma que eu não imaginava e recebi muitos elogios em relação à atuação e algo que me pegou muito foi a forma que foi comemorado pelas pessoas, elas realmente estavam ansiosas para ver dois homens negros demonstrando afeto um com o outro, sendo empáticos e sendo felizes naquele momento. Esse acolhimento é o que me faz acreditar na profissão, a representatividade está sendo preenchida em todas as camadas pelo Vini e isso me emociona muito.

Foto: Lukas Alencar / Syling de Victor Mazzei / Beleza de Luan Milhoranse

Em “Veronika”, nova série do Globoplay, você é um dos protagonistas, como surgiu essa oportunidade?

Surgiu no início deste ano após uma sequência de testes presenciais e selftapes para a série. Foi um personagem que eu fiquei encantado pela sinopse que recebi e disse desde o início para mim mesmo que seria meu, pois tinha chances de eu ser outro personagem na trama. Estava sedento para dar vida a esse cara e graças a Deus deu tudo certo.

Fale sobre Rodriguinho, seu personagem.

O Rodriguinho de cara é um moleque muito explosivo, vai de 0 a 100 em poucos segundos. Ele é apaixonado pela Veronika e tem um bom relacionamento com ela e com o seu irmão, o Vinicius, seu melhor amigo. Ele pratica muito bullying e desconta todas as coisas no Gordo, seu amigo, e juntos eles são um quarteto inseparável. Ele é um cara engraçado, carismático e somente a Veronika conhece o seu lado mais frágil, amoroso, carinhoso etc.…. Para os outros como uma forma de blindagem ele está sempre de prontidão, é um cara viril e que não leva desaforo para casa de jeito nenhum. Por não saber o que ser no futuro e outras diversas circunstâncias, acaba se envolvendo no caminho errado…

Acha que a representatividade preta melhorou no audiovisual?

Em comparação às gerações anteriores, sem duvidas, mas ainda não é o ideal! Não faz sentido num País em que mais de 55% da população se considere preta, ainda sermos uma minoria significativa nesse espaço. Hoje temos mais negros na frente das câmeras, mas assim ainda disputo papel com os meus amigos, não costumamos ter um “banquete” de personagens pretos na mesma trama… “Vai na Fé” e “Veronika”, infelizmente, ainda são exceções. E saindo da ala dos atores, precisamos também de mais diretores negros, assistentes de direção, produtores de elenco, na fotografia, no som, no foco, na base e em todos os lugares possíveis.

De que maneira a presença negra no audiovisual pode ganhar mais espaço?

Com oportunidades! Me usando como exemplo para chegar em “Vai na Fé”, eu já tinha sido aprovado em outros três trabalhos na casa, ou seja, a oportunidade veio e por um acaso do destino me foi tirada. Temos milhares de pessoas capacitadas para ocupar qualquer cargo no mercado e digo isso com tranquilidade. Pessoas que só precisam de uma oportunidade para mostrar o seu trabalho e se manter da sua arte. Acredito que também está em jogo o privilégio branco, será que eles abririam mão de serem o poste para iluminar os outros também? Soa utópico, mas creio que isso um dia vai acontecer.

E personagens que explorem a diversidade de gênero

Com pessoas LGBTQIAP+ tendo papel de destaque em seus departamentos, seja na direção, no roteiro, elenco etc…. Essas pessoas precisam ocupar esses cargos para serem vistas e ouvidas sobre o seu cotidiano. Pessoas capacitadas não faltam, a única coisa que precisam é de uma oportunidade. Vivemos em um País preconceituoso e isso se escancarou ainda mais no último governo, inclusive, recebi diversas mensagens de ódio dessa galera em relação ao meu personagem. Infelizmente ter personagens LGBTQIAP+ no Brasil ainda é um tabu. Lutemos para que isso acabe e que tenhamos cada vez mais pessoas da comunidade com destaque em todos os lugares.

Você usa suas redes sociais para disseminar ideias contra o preconceito racial, certo? Como é seu retorno das postagens?

Ultimamente não tenho postado tanto sobre, mas me lembro que sempre tinha uma galera bem retrógrada para chamar de “mimimi” e disseminar ódio gratuitamente. Optei por dizer isso nas minhas músicas, sinto que tenho mais liberdade e que quem ouve é porque se interessa pelo assunto. É muito fácil dizer que é “mimimi” nos comentários quando se vive numa bolha social na qual a riqueza da sua família é fruto de um serviço escravocrata. Quem vem de onde eu vim sabe as coisas que acontecem aqui que não são noticiadas, e esse era o meu intuito com as poesias. Diversos casos de truculência policial e abuso de poder que era televisionado de uma forma, eu dizia da forma que realmente funciona o sistema para pessoas como eu. O que me importa foi o tanto de pessoas que motivei e/ou disse o que elas queriam dizer através da minha arte

Acha que o streaming abriu mais oportunidades para atores e diretores negros?

Sim, quanto mais lugar tiver, melhor! O streaming veio para ampliar as possibilidades e equalizar os trabalhos. Antes tínhamos o pensamento de que audiovisual se resumia apenas às telenovelas e, agora, temos opções de séries, filmes, documentários etc. O mercado fica a todo vapor gerando oportunidades para todos nós.

Como cuida do corpo, é adepto de alguma atividade física?

Tenho uma rotina de alimentação bem saudável, nem me lembro a última vez que comi uma barra de chocolate, não costumo comer lanches/delivery e tem uns dois anos que eu não tomo refrigerante. Mas não como besteiras por opção, nem chega a ser uma noia, como tenho a pele oleosa sou suscetível a ter acnes e aí prefiro evitar. Tenho rotina de skincare, tenho hábito de cuidar da pele, sorris, etc. Me sinto bem assim me cuidando. Treino pelo menos cinco vezes na semana por uma hora e meia, faço musculação e cardio.

Foto: Lukas Alencar / Syling de Victor Mazzei / Beleza de Luan Milhoranse

Tem algo que não coma?

Não tomo café de jeito nenhum por conta de um trauma na infância. Quando eu tinha uns 5, 6 anos tive um padrasto (branco) que me disse que se eu bebesse café eu ficaria mais preto, logo para “clarear” eu ia precisar beber muito leite. E como o branco na minha visão era algo perfeito, eu passei a detestar café e só passei a tomar leite no copo. Até que um dia, no trabalho da minha mãe na hora do café, tinha pouco leite e todo mundo ia ter que dividir, minha sugeriu que eu bebesse café com leite para dar pra todo mundo. Eu tomei aquilo e vomitei tudo, desde aquele dia eu nunca mais cheguei perto de café.

O que gosta de ouvir?

Muito MPB, sou fascinado em Djavan, amo demais esse cara, para mim ele é o rei da música brasileira. E também curto muito o Kendrick Lamar, ele é o meu maior ídolo no rap e um dos maiores de todos os tempos (não vejo a hora do show dele aqui no Brasil no final do ano). Também curto Racionais, Mano Brown é um gênio da nossa música. A rainha Nina Simone e Jorge Ben também estão sempre presente nos meus fones.

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