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Bailarino carioca Jonathan Batista é destaque internacional com “Sonho de uma Noite de Verão”

Jonathan Batista nasceu na Cidade de Deus e se tornou primeiro bailarino principal negro da Pacific Northwest Ballet, nos Estados Unidos – Foto: Divulgação/Fabrizio Carneiro

O bailarino carioca Jonathan Batista, de 31 anos, apresenta seu novo personagem internacional – e seu primeiro no balé com um clássico de Shakespeare. Ele interpreta Oberon, um dos personagens principais de “Sonho de uma noite de verão”. O balé está em temporada pela companhia Pacific Northwest Ballet até o dia 23 de abril em Seattle.

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“São grandes expectativas, uma obra de Shakespeare e coreografada pelo grande coreógrafo russo e americano, George Balanchine, o fundador do New York City Ballet, e criador do estilo americano”, afirma. “Faço minha estreia no papel protagonista de Oberon, que foi criado para Edward Villella, que também foi meu diretor artístico quando eu dançava no Miami City Ballet. Foi ele quem me convidou para iniciar a minha carreira nos Estados Unidos”, relembra.

Nascido e criado na Cidade de Deus, comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro, o artista iniciou sua carreira na Europa. Entrou para o English Nation Ballet – com apoio de uma vaquina – e também passou pela Royal Ballet School.

“Iniciar a carreira na Europa foi muito rígido, há uma disciplina maior em comparação aos Estados Unidos. Há bastante tempo investido na história da dança ou da obra que os bailarinos atuam e dançam, enquanto nos Estados Unidos é sobre o artista e como ele se desenvolve independentemente”, explica.

“Na Europa, eu era somente a pessoa, o artista, e isso bastava, não havia muita conversa sobre o racismo, o que me assustava, pois as oportunidades eram mínimas, e não te viam pelo talento, e você não poderia falar muito a respeito, caso contrário, poderia perder o seu emprego. Nos Estados Unidos, é sobre a construção do indivíduo, e o quanto de valor você agrega como artista dentro e fora da comunidade da dança” detalha Jonathan.

Apesar de estar em uma posição de destaque atualmente, ele explica que a falta de oportunidades foi um grande obstáculo para a realização de seu sonho no começo da carreira.

“A principal dificuldade foi a falta de oportunidades. Mesmo quando os diretores enxergavam o meu talento com, sempre tinha um “porém”, um “mas”, uma razão para eu não estar fazendo certos papéis, e nunca era uma razão artística ou técnica, no qual é banal recebermos estes tipos de críticas de diretores e ensaiadores”, conta.

“Logo, me vi mudando de companhia a companhia, achando em cada uma delas uma oportunidade de construir o meu currículo e o meu nível de experiência, um desafio muito grande, mudar de cidade a cada ano, porém a minha disciplina e paixão pela dança e a minha fé me trouxeram até aqui.”

No ano passado, ele se tornou o primeiro dançarino principal negro da companhia Pacific Northwest Ballet, de Seattle, um marco histórico que abre caminhos para outros artistas negros e latinos pelo mundo.

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