Top

Quitéria Kelly: “O mercado se expandiu com o streaming, trouxe a diversidade nos elencos”

Foto: Peter Hertig

Com teatro na veia e a atuação como seu primeiro amor, a atriz Quitéria Kelly acaba de sair do ar com o fim da novela “Mar do Sertão”, trama das 18h da TV Globo, onde interpretava a libanesa Latifa, uma exímia comerciante, que, sob o recatado véu, despertava os sonhos dos homens da cidade. E seu personagem deu o que falar.

Sua estreia na TV foi como Neide em “Malhação – Toda Forma de Amar” (2019), onde interpretou a coordenadora do Colégio Otto Lara Resende. Em 2018, a atriz participou de “Onde Nascem Os Fortes”, primeira supersérie da Rede Globo, dirigida por José Villamarim e Walter Carvalho, e, em 2020, participou de “Amor de Mãe”, novela das 21h também da Globo, que foi pausada durante a pandemia, mas depois ganhou continuidade.

Foto: Peter Hertig

Natural de João Pessoa, mas criada em Natal desde os nove anos, Quitéria é formada em artes cênicas pela UFRN e fundadora do Grupo Carmin de teatro. Inclusive, é no teatro que a atriz vem escrevendo sua trajetória e acumulando sucessos. Junto ao Carmin, Quitéria já integrou o elenco de diversos espetáculos e, em 2017, fez sua estreia como diretora com a peça ”A Invenção do Nordeste”, que agora vai viajar o Brasil para encenação. Inclusive, a obra vai participar do importante Festival de Curitiba.

“A Invenção do Nordeste” aborda o surgimento e a trajetória histórica da região Nordeste, propondo a desconstrução da imagem estereotipada do nordestino. Motivada por reações xenófobas, manifestadas na internet durante as eleições de 2014, a atriz encontra, na obra de Durval Muniz de Albuquerque Júnior, um ponto de partida para refletir as divisões sociais brasileiras.

Leia a seguir papo que RG teve com artista.  

Como nasce a atriz Quitéria Kelly?

Nasce nos palcos. Meu primeiro contato com as artes cênicas foi no teatro, lugar onde encontrei espaço para expressar meus desejos artísticos e meu lugar de posicionamento político no mundo.

E a diretora?

A diretora nasce da coragem e ousadia de experimentar a linguagem teatral do ponto de vista da criação, da coordenação e da orquestração de uma obra. Desde o início do Grupo Carmin, que agora tem 17 anos, eu sempre estava em cima do palco, atuando. Mas, em 2017, decidi que estava pronta e segura para, finalmente, dirigir um espetáculo. E deu muito certo. “A Invenção do Nordeste” é a minha primeira direção e a mais premiada do grupo.

De que maneira o teatro influencia sua vida?

O teatro é meu espaço criativo, onde experimento linguagem, onde encontro lugar para discutir pautas que considero importantes na sociedade, onde reencontro minha humanidade porque é nesse lugar onde posso pensar e refletir sobre o humano. O teatro é como aquela conversa gostosa de bar, onde posso compartilhar com a plateia as complexidades de sermos humanos.

Como foi sua participação em “Malhação – Toda Forma de Amar?”. Porque sua personagem repercutiu muito.

“Malhação” foi muito especial para mim porque foi minha primeira experiência numa obra tão popular e que contemplava um público tão diferente do que eu estava acostumada. Foi uma “Malhação” da diversidade! E o fato de eu, uma mulher nordestina, estar ocupando o lugar de uma coordenadora da escola também fazia parte dessa diversidade. Era uma edição bem politizada da novela. Os temas estavam bem conectados com as pautas do momento e foi muito bom poder fazer parte disso.

Foto: Peter Hertig

O que muda quando um artista vai para a TV aberta?

Sem dúvidas o alcance e a projeção que a TV proporciona é algo que no teatro você demoraria muito para conseguir. São milhares de pessoas vendo seu trabalho. Nas redes sociais, a cada vez que passa uma cena de Latifa, o número de seguidores cresce assustadoramente. Tudo é muito repentino e, por isso, uma boa dose de pé no chão ajuda a entender a força e o poder que esse meio de comunicação te dá.

Conte sobre sua personagem Latifa, em “Mar do Sertão”.

Latifa é uma mãe protetora e moderna, embora preserve alguns traços da tradição de sua descendência libanesa. Uma mulher sedutora e fogosa. Uma comerciante genuína, esperta e, por vezes, interesseira. Apesar de ser completamente apaixonada pelo marido, Zahym, isso não a impede de flertar com os bonitões da cidade.

Foto: Peter Hertig

Como surgiu o convite para a novela?

Fiz um teste para a produtora Márcia Andrade, mas não passei no primeiro momento. Meses depois, ela me pediu um novo teste e fui aprovada.

Como se preparou para o papel?

Além da preparação de construção de personagem, passei por uma preparação direcionada à cultura libanesa como dança do ventre, algumas palavras e expressões na língua árabe, além do comportamento social de uma mulher árabe. A gente sabe que a cultura deles é bem diferente da nossa e algumas explicações foram importantes para que eu e César Ferrario (ator que faz o marido de Latifa) construíssemos nossos personagens.

Quais são os próximos projetos?

Agora é hora de ganhar a estrada com meu grupo de teatro. Em abril, vamos iniciar uma série de apresentações Brasil afora apresentando o espetáculo “A Invenção do Nordeste”. A primeira viagem será para Curitiba, num dos festivais de teatro mais importantes do Brasil, o Festival de Curitiba. Em seguida, seguimos em uma turnê que começa em maio e só termina em outubro.

Passaremos pelos estados da PB, RS, GO, ES, PR, SP, BA, RO, AL, PE e RN. Depois dessa turnê, pretendo montar um espetáculo solo voltado para o universo feminino nas artes.

Na TV, sigo fazendo testes e aguardando as respostas com aquela angústia gostosa que é o cotidiano de uma atriz. Vai ser um ano bem produtivo.

Acha que o streaming melhorou o mercado para atrizes e diretoras?

Com toda certeza. O mercado se expandiu com o streaming, trouxe a diversidade nos elencos, roteiros e forçou as TVs a seguirem o mesmo caminho. É isso, quanto mais concorrência, mais trabalho para todos nós.

Foto: Peter Hertig

Como você lida com as redes sociais, é mais de postar ou de olhar?

Nas redes sociais eu tento ser ativa, embora isso me dê um enorme desgaste porque, nem sempre, tenho tempo de ficar atualizando, comentando os assuntos do momento e participando da comunidade virtual de forma mais presente. Mas tento ficar ligada! Adoro também ficar olhando os colegas, o que estão fazendo, onde estão… Curto me atualizar com as notícias que chegam mais rápido nesses canais e me considero uma ativa-moderada nas redes. (Risos)

Mais de Cultura