Manoel da Conceição – Foto: Divulgação
Lavrador, camponês, ferreiro, educador, sindicalista, ambientalista, pensador da luta por igualdade e reforma agrária, líder político, que foi preso, mutilado, torturado e exilado pela ditadura. Esse universo multifacetado do maranhense Manoel da Conceição (1935-2021) é tema do documentário “Minha Perna, Minha Classe”. O filme será lançado neste sábado (18.03), na Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana, em São Paulo, e será seguido de uma mesa-redonda com o cineasta Arturo Saboia, a produtora Cassia Melo e Roger Worms, músico, escritor, crítico. A mediação será do crítico de cinema Bruno Carmelo, mestre em teoria do cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III.
Na segunda (20.03), o filme será exibido no auditório Milton Santos, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e será seguido de um debate com os realizadores do filme, os geógrafos Júlio César Suzuki e Marta Inez Medeiros Marques e alunos. A atividade conta com o apoio do Laboratório de Geografia Agrária e dos programas de pós-graduação em Geografia Humana e em Integração da América Latina (Prolam-USP). No final de março, o filme será distribuído gratuitamente nas plataformas digitais.
Subversivo indomável
Subversivo indomável. Assim se definiu o próprio Manoel da Conceição, em entrevista histórica ao jornal “O Pasquim”. Primogênito de um casal de lavradores, Conceição nasceu em 1935 em Pedra Grande (MA). Ele e sua família foram expulsos diversas vezes das terras que cultivavam. Na década de 1950, com o apoio do Movimento de Educação de Base, o MEB, do educador Paulo Freire, Conceição conseguiu se alfabetizar, se politizar e ter consciência da exploração e da injustiça do latifúndio. Em 1963, fundou e foi eleito presidente do primeiro sindicato de trabalhadores rurais do Maranhão, o Pindaré-Mirim. Com o golpe de 1964, o sindicato foi dissolvido e Conceição passou um mês preso, com outras lideranças. Em 1967, vincula-se à Ação Popular (AP) e, apesar da repressão, mantém o sindicato atuante. Em 1968, a Polícia Militar invade o sindicato e ele é baleado no pé. Preso sem qualquer tratamento por uma semana, Conceição perde a perna direita gangrenada. Na época, o governo tentou silenciá-lo, mas ele respondeu: “Minha perna é minha classe”. O resto é história.
Conceição foi o terceiro militante a assinar a ficha de filiação do Partido dos Trabalhadores, ao lado de Mário Pedrosa e Apolônio de Carvalho. Representava todo um segmento que se unia ao novo partido, o dos trabalhadores rurais. Ele contribuiu, ainda, ativamente na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (Centru) e da Escola Técnica Agroextrativista (ETA).
Arturo Saboia (direção e roteiro) e Cassia Melo (produtora executiva) têm, no currículo, dentre outros prêmios, 6 Kikitos, no Festival de Gramado, pelo curta “Acalanto’ (2013), o primeiro e já bem-sucedido trabalho da dupla. “O documentário está sendo lançado em um momento mais do que oportuno. Nos últimos anos, o discurso de ódio e violência varreu o País. Conceição nunca pregou o uso violência. Pelo contrário, foi vítima dela, a perna baleada, amputada e que virou lema de sua luta”, ressalta Saboia. Lutador de causas diversas, da reforma agrária à ecologia, os produtores querem transformar a vida de Manoel da Conceição em uma série em breve. “Há sementes de amor e utopia dele em várias frentes”, destaca Cassia Melo. Não faltarão histórias – e temporadas.