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Criador do Teatro Ilusionista, Maicon Clenk explica nova linguagem artística

Maicon Clenk – Foto: Divulgação

Por Carol Borges

A ligação de Maicon Clenk com a magia começou na infância. Desde os oito anos, os truques ilusionistas já faziam parte de suas brincadeiras. Aos dez, a prática chamou a atenção do bairro, até que ele foi convidado pela Prefeitura de Curitiba, sua cidade natal, para fazer uma apresentação com público. Foi a primeira de muitas que ele viria a se apresentar – e dirigir – anos mais tarde.

Ilusionista, diretor e coreógrafo, Clenk é o criador do Teatro Ilusionista, linguagem artística que une efeitos visuais, dramaturgia, dança, acrobacia e música. Estudou artes performáticas, circo, clown e dança contemporânea e clássica, no Brasil e na Broadway. Em 2005, fundou a Cia Maicon Clenk, responsável por colocar seus projetos autorais para rodar o País, como o premiado Polaris, que estreia em São Paulo em julho.

Além do trabalho nos tablados e coxias dos teatros, ele ganhou reconhecimento nacional ao participar de programas televisivos que abordavam temas ilusionistas – febre nos anos 1990 e 2000 -, em emissoras como TV Globo, SBT e Record TV.

Ao RG, falou do surgimento da nova linguagem que revolucionou a arte circense, dos desafios de ser artista ilusionista no Brasil e dos próximos projetos da carreira.

RG: Quando começou a ter interesse pelo ilusionismo? Houve alguma influência familiar?

Maicon Clenk: Sempre fui fascinado pelo universo mágico e pelas artes em geral, em especial o circo, que vi pela primeira vez aos quatro anos. Eu brincava de “fazer mágica”, produzir circo e realizar truques em casa. Sempre foi o que mais amei e me dediquei na vida. Aos oito anos iniciei meus estudos em teatro, atuava em peças com grupos adultos e shows de mágica na vizinhança. Aos dez fiz minha primeira grande ilusão em uma festa, e percebi a potência da magia para as pessoas. Cinco anos depois, já dirigia um grupo amador com 150 pessoas. Aos 17 anos passei na primeira audição para um grande espetáculo, e, desde então, vivo a arte de forma independente, sempre colocando a mão na massa em tudo: dos cenários à luz e confecção dos figurinos. Apesar de não ter tido uma influência familiar, um fato interessante foi uma família de artistas tradicionais circenses, que se mudou para a casa ao lado da minha. Passei a conviver com eles e aprendi muito sobre a profissão dos ilusionistas.

Maicon Clenk – Foto: Divulgação

RG: Você foi um “mágico tradicional” até a criação do Teatro Ilusionista? Como e por que decidiu criar essa nova corrente artística?

Clenk: Como também me formei como bailarino, ator e acrobata e pesquisei outras artes, minhas performances sempre integraram técnicas, em especial a mágica com a dança, o teatro e o circo. A originalidade, mesmo com técnicas tradicionais de ilusionismo, sempre esteve nos meus trabalhos. Houve uma pesquisa de mais de 20 anos até eu criar o Teatro Ilusionista. Ele foi se desenvolvendo e amadurecendo a cada novo espetáculo. Viajei o mundo e vi alguns dos maiores shows até perceber o que, de fato, fazia sentido para mim como arte. Tempos depois de fundar a companhia, em 2005, percebi a necessidade de criar uma nomenclatura que caracterizasse melhor as criações: não era exatamente teatro, e não era um show de mágicas. Eram espetáculos onde tudo é mágico.

RG: O que é o Teatro Ilusionista em si e qual é o seu maior diferencial?

Clenk: É, essencialmente, a mistura do universo ilusionista com a dramaturgia e elementos cênicos que criam efeitos visuais e com movimentos. O objetivo é proporcionar experiências mágicas, e cada pessoa recebe a história de uma maneira diferente. A comunicação é corporal e visual, sem texto, tornando as obras universais, para qualquer idade ou nacionalidade. A potência da comunicação por imagem, gestos e efeitos gera uma conexão profunda, que é difícil traduzir em palavras. Um dos diferenciais é que o foco não está mais em uma única pessoa, mas sim em vários personagens a serviço de uma história. Os efeitos ajudam a contá-la de forma poética e fantástica, e que fogem da normalidade humana. No teatro ilusionista, todos podem ser mágicos, e a ideia não é limitada a criar truques e, sim, magia.

Maicon Clenk durante ensaios – Foto: Divulgação

RG: Os espetáculos com a sua assinatura têm grandes estruturas – um deles, inclusive, bateu o recorde de primeiro espetáculo realizado dentro de um globo de neve e maior globo de neve do Brasil. Como funciona a montagem e o preparo para os shows?

Clenk: A maioria das produções envolve uma grande estrutura, e cada espetáculo leva anos para entrar em cena. Além do tempo para ser planejado, encontrar a estratégia de viabilização é o período mais difícil. A construção é extremamente complexa, por ser necessário alinhar o criativo com o possível financeiramente e com os fornecedores disponíveis. E é um trabalho artesanal. São necessários uma equipe de produção e muitos profissionais no escritório para decidir milhares de detalhes. Cada nota musical, luz, movimento é definido e ensaiado inúmeras vezes. O processo de ensaios das obras autorais dura de quatro meses a um ano, onde eu passo até oito horas diárias com o elenco, em paralelo à parte administrativa e da produção. Selecionamos e contratamos artistas nacionais e internacionais, criamos os figurinos, cenários, efeitos, trilha sonora, adereços. Ainda é preciso pensar na comunicação, divulgação, logísticas, transporte… Não é pouca coisa.

RG: Você é fundador de uma companhia de teatro ilusionista. Segue se apresentando ou tem atuado apenas por trás das coxias, como diretor e empresário?

Clenk: Na montagem deste ano, estou nas funções de criador, diretor, coreógrafo e diretor-geral de produção. Ao longo da minha carreira, já atuei em mais de 30 espetáculos e também tive o privilégio de dirigir e coreografar mais de 5 mil artistas, uma função que requer muita dedicação e conexão. Gerir uma companhia e manter um time exige tempo, amor e organização. Estar no palco é algo que amo, onde cresci e de onde não consigo ficar longe. É o lugar mais confortável para mim. O teatro é minha casa, sempre estarei por ali, seja em cena ou fora dela. Mas não priorizo estar em cena caso não exista necessidade. O que me motiva são participações que signifiquem algo relevante, onde realmente minha presença seja fundamental para transmitir a essência que a obra busca. Fora isso, estarei muito feliz nos bastidores, criando, preparando os intérpretes e presenciando as emoções do público. Poder transportar pessoas para mundos de magia é o que me encanta.

Cenas de um dos espetáculos de Maicon Clenk – Foto: Divulgação

RG: Como você avalia o atual cenário da arte no Brasil?

Clenk: O Brasil é um dos países que menos investe em cultura e enfrenta uma dificuldade em entender a sua importância. Ela é um dos principais pilares da sociedade, capaz de transformar todas as outras áreas e sensibilizar pessoas. É importante na formação pessoal, moral e intelectual do indivíduo e no desenvolvimento da sua capacidade de se relacionar com o próximo. Sem uma educação de base que a valorize, em que crianças terão contato direto com a arte na escola, fica mais difícil a percepção do seu imenso. E essa transformação não ocorre de um dia para o outro, leva anos. Quem sobrevive e resiste ao cenário atual tentando levar algo tão valioso já merece reconhecimento e admiração.

RG: Quais são os próximos projetos da sua carreira?

Clenk: Estou com projetos audiovisuais, em que pretendo estender a experiência e emoção dos shows ao vivo também para a TV. E, em julho, estrearemos a nova temporada de Teatro Ilusionista em São Paulo, com o espetáculo “Polaris”, conhecido pela cenografia de um globo de cristal gigante. Após a temporada paulista, vamos seguir com a turnê nacional.

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