O ator Wallace Mendes é mais um talento que está em “A Herança”, versão do clássico da Broadway “The Inheritance”, de Matthew Lopez, adaptada e dirigida por Zé Henrique de Paula e idealizada por Bruno Fagundes, que está em cartaz no Teatro Vivo em São Paulo.
“Na história eu faço o personagem Jason, um advogado, casado com Jason, interpretado por Felipe Hintz, sim eles têm o mesmo nome (risos). Ele é amigo do Erick, vivido por Bruno Fagundes, eles são intelectualizados, e adoram discutir sobre suas vidas como gays os avanços da comunidade, e a herança disso. Eles escrevem e vivem a própria história enquanto jovens”, explica Mendes.
O espetáculo, que traz no elenco nomes como Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes, tem uma peculiaridade, será apresentado em duas partes – cada uma com cerca de 2 horas e 30 minutos de duração – em dois dias.
“Tenho em mim uma experiência de vivenciar o processo, e está sendo muito gostoso, uma peça meio em formato de série, para pessoas acompanharem. As expectativas estão sendo as melhores, uma experiência para quem assiste, para quem vive, a gente acaba escrevendo junto, e vivendo junto, a peça busca trazer o público para vivenciar a história, em um imaginário, levando a discutir assuntos muito relevantes a essa comunidade.”
O brasiliense de 30 anos ainda fala dos assuntos abordados no espetáculo que vão de encontro a temas bastante debatidos na comunidade LGBTQIAP+ e sobre como tem sido o processo de criação junto a um elenco formado por 12 atores.
“Tem sido gratificante, falamos de experiências que eu mesmo não vivi, como o surto da Aids nos anos 1980, são assuntos pertinentes e de grande importância pra todos. Eles têm a chance de reescrever as suas histórias, como homens gays que as viveram, falam sobre o que é ser gay, sobre pandemias que afetaram a comunidade gay, como Aids, vivem relacionamentos, separações, ou seja, uma montanha-russa de emoções. Diariamente conviver com pessoas tão talentosas, me inspira muito, e está sendo um processo tranquilo, leve, ‘exaustivo’, pois são seis horas de peça. Com certeza, para mim já é um marco na minha carreira”, diz Mendes.
Além de Jason e o personagem jovem, Mendes vive também um porteiro em “A Herança”. “O porteiro é um personagem que entra na segunda parte da peça, em uma quase intervenção. Infelizmente não posso dar muitos detalhes sobre, mas digo que vale a ida pra ver o que acontece nesse ponto da história.”
Antes de estar no espetáculo, o ator esteve em diferentes projetos para o teatro. “Integrei a peça ‘Meninos também amam’, direção de Rafael Guerche, que rodou os festivais e teatros do Brasil/EUR, fui ator, intérprete e cocriador de ‘A decadência dos seres não abstratos’, direção de Luísa Pinto e dramaturgia de Márcio Aquiles, no MIT (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo) participei da oficina de formação da peça ‘LOBO’, direção de Carolina Bianchi, e “Se Brecht fosse negro”, grupo Legítima Defesa e direção de Eugênio Lima”.
Além dos palcos, ele está com um filme inédito, ainda sem data de lançamento, para estrear. “Gravei o filme francês, filmado no Brasil durante o Festival MIX, chamado “G de amor”. É a história de um artista gay que se apaixona por dois homens. Em um certo momento ele acaba escolhendo um deles, e numa volta a São Paulo, para um teste, ele reencontra com o amor antigo, vive um romance e diz que vai se casar”, explica Mendes.
O brasiliense ainda fala do seu amor pelo circo, onde começou a amar o mundo das artes ainda muito novo, com 13 anos. “Foi uma delícia. Foi meu primeiro trabalho profissional, além de ser amor à primeira vista (risos). Após algum tempo tive uma pausa grande dos palcos, e poder voltar a ele é sempre reviver minha criança interior.”
Quando não está atuando, Mendes tem outras paixões, o judô, ele é faixa preta no esporte, além de ser um nome conhecido em campanhas e editoriais de moda.
“O judô faz parte da minha vida, já competi em campeonatos, fui cinco vezes campeão estadual e 2º lugar na Copa Internacional em Brasília. Trabalhar como modelo sempre me traz trabalhos que amo fazer. Um momento que me marcou foi quando fiz uma campanha para o Dia dos Namorados onde dois homens estão interagindo e se barbeando, a repercussão foi grande, mensagens de represália, mas foi bom ver que estamos caminhando. Foi um daqueles trabalhos que falam por si só”, finaliza.