“Nossas Sensações Não São Nossas” explora a relação entre arte contemporânea, música e o Carnaval através dos tempos – Foto: Guga Ferreira
Há pessoas, costumes, estéticas e sons que ecoaram antes de nós, muitas vezes por figuras que foram amplamente perseguidas e criminalizadas, e que propuseram questões e modos de brincar que ainda podem ser identificados e, principalmente, ouvidos hoje. Entre 17 de março e 5 de maio de 2023, o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro vai receber a exposição gratuita “Nossas Sensações Não São Nossas”, que explora a relação entre arte contemporânea, música e o Carnaval através dos tempos.
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A mostra também terá uma ação educativa com bate-papos sobre os temas da exposição, tais como “Papel dos museus e seus acervos hoje”, “Expressões de Carnaval e arte”, “Balanço do Carnaval: cidade e economia” e “Carnaval entre histórias e religiões”. Alguns convidados já confirmados Thayná Trindade (pesquisadora e curadora assistente do Museu de Arte do Rio), Anna Luísa Oliveira (coordenadora de educação do Galpão Bela Maré do Observatório das Favelas) e o artista Mulambö.
Com curadoria de Ana Paula Rocha, a mostra é composta por itens do acervo do MIS, além de obras de expoentes da nova cena contemporânea. Jefferson Medeiros apresentará o trabalho inédito “Viramundo”, assim como Lucas Almeida, que apresenta obra inédita sem título, concebida para a exposição. Ramo apresentará a série “Ausar” e duas telas inéditas, “Sete Coroas” e “Kushita”. Os artistas André Vargas, Mulambö e Uberê Guelé também terão obras não-inéditas na mostra. O fotógrafo Guga Ferreira vai expor fotos inéditas da série “Ponto Riscado”, clicadas em festas de terreiros da Zona Oeste do Rio de Janeiro de religiões de matriz africana.
Entre os destaques do acervo do MIS, estarão expostas memórias das produções de João da Baiana e Heitor dos Prazeres, além de fotos e artigos que remontam ao carnaval e à Rádio Nacional, especialmente de artistas como Clementina de Jesus, Elizeth Cardoso, Pixinguinha, Sinhô, Ismael Silva, Aracy de Almeida, Orlando Silva e Zé Keti. Todas essas obras trazem reflexões e aspectos a respeito dos carnavais de seu tempo, muitas vezes invisibilizados por artistas brancos com maior projeção midiática, outras vezes ditando novos padrões sonoros e estéticos que bebem de fontes e experiências vividas comuns: a rua, a festa, a boemia, o sofrer racismo e a perseguição policial.
“Os artistas que reverenciamos na exposição como Heitor dos Prazeres, Clementina de Jesus, Aracy de Almeida, Sinhô e o grupo Os Oito Batutas integrado por Pixinguinha, por exemplo, são homens e mulheres, todos negros, que tiveram a coragem de criar arte, fazer carnaval, e de levar reflexões e felicidade para um Brasil extremamente racista e hostil. Muitas vezes, eles foram perseguidos por isso, evidenciando não só alegrias, mas práticas de exclusão em suas músicas. Já os artistas de hoje vêm para dialogar com essas obras, demonstrando muitas vezes ressonância entre essa produção e as suas próprias, fazem ecoar imagens, sons e a mesma luta nos tempos atuais”, afirma a curadora Ana Paula Rocha.
O Carnaval como uma festa e expressão popular oriunda da população negra, bem como a influência das religiões de matriz africana que perpassam as obras e a produção intelectual e estética dos artistas históricos, estarão presentes em “Nossas Sensações Não São Nossas”, que também resgata a memória das sonoridades carnavalescas, que ecoam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro até os dias de hoje e que têm, com as transmissões do rádio e seus personagens, uma indiscutível relação.
“A relação entre arte contemporânea, música e carnaval é algo que vem sendo paulatinamente consolidado. Também entre os novos artistas, a temática da festa de rua, seja o próprio carnaval, passando pelas folias, o maracatu ou os bailes funk, ganha uma relevância nas formas como eles vêm se expressando. Assim, é inevitável unir essas temporalidades”, explica a curadora, que desenvolveu sua pesquisa de mestrado sobre o carnaval de rua, atualmente pesquisa arte contemporânea e tecnologia, além de já ter atuado no acervo da Discoteca do MIS.
A exposição é gratuita e será inaugurada no dia 17 de março, das 17h às 19h30. Estará aberta à visitação de segunda a sexta, das 10h às 17h, no MIS-RJ, na rua Visconde de Maranguape 15, Lapa.