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Biblioteca Mário de Andrade recebe o espetáculo gratuito “A Borboleta e o Cubo de Vidro”

Ale Kalaf – Foto: Ana Nicolau Saldanha

De 16 a 19 de março (quinta a domingo), uma das maiores bibliotecas públicas do país, a Biblioteca Mário de Andrade, recebe o espetáculo gratuito “A Borboleta e o Cubo de Vidro“, de Ale Kalaf, atravessado por coro de mulheres, com Roberta Ferraz. Serão quatro apresentações seguidas de sessões de bate-papo das artistas com as convidadas Lubi Prates (poeta, tradutora, editora e curadora de Literatura), Eleonora Nacif (advogada criminalista e professora), Ligia Polistchuck (psicóloga e psicanalista) e Ana Rusche (escritora e doutora em Estudos Linguísticos e Literários), além da escritora e pesquisadora Roberta Ferraz, que conduzirá o espetáculo com um atravessamento literário, como um prólogo a cada apresentação.

Nele, Roberta lerá um mosaico de vozes de mulheres, de romancistas a poetas, de modo a saudar “A Borboleta e o Cubo de Vidro”, com textos de Ana Cristina César, Tatiana Pequeno, Ana Rüsche, Maiara Gouveia, Lubi Prates, Nina Rizzi, Angélica Freitas, Adelaide Ivánova, Bruna Beber, Ana Martins Marques, Geruza Zelnys, Ana Cristina Joaquim, Natasha Félix, Natália Barros, Júlia de Carvalho Hansen, Francesca Cricelli, Claudia Roquette-Pinto, Luci Collin, Hilda Hilst, Clarice Lispector, Anne Carson, Ana Luísa Amaral, Hélene Cisoux, Sophie Calle, Louise Bourgeois, Maria M. Marçal, Grada Kilomba, Chimamanda Ngozi Adichie, Bell Hooks, entre muitas outras. Cada prólogo ao espetáculo contará com uma seleção diferente de textos e aos espectadores será dada uma ficha bibliográfica contendo o nome das autoras e o respectivo texto lido, para que o interesse por mulheres autoras possa se prolongar para fora da biblioteca, para a vida.

Ale Kalaf – Foto: Ana Nicolau Saldanha

Sobre o “A Borboleta e o Cubo de Vidro”, o gatilho para criação desse espetáculo solo de dança flamenca contemporânea, com criação, direção e interpretação da bailarina Ale Kalaf, se deu a partir do contato da artista com uma pesquisa da antropóloga Miriam Goldemberg, na qual ela pergunta a 5 mil homens e mulheres o que eles mais invejavam no gênero oposto. E as respostas, serviram como uma faísca em terreno seco. A antropóloga comenta em entrevista um dos resultados da pesquisa: “As mulheres mais jovens dizem, categoricamente, que invejam a liberdade masculina: com o corpo, sexual, de rir e brincar de qualquer bobagem. E enxergam ela como algo difícil de conquistar. Os homens dizem que não invejam nada. Pouquíssimos dizem que invejam a maternidade. Isso mostra também as diferentes posições de homens e mulheres na nossa cultura. Os homens dizem que não invejam nada nas mulheres; pouquíssimos, a maternidade”.

Para encarnar esse problema, deixar emergir a dramaturgia no corpo e trazer à superfície novas tessituras cênicas, se fez inevitável que a intérprete criadora entrasse em contato com a sua própria biografia, e a partir dos elementos que surgiram deste processo se apropriou de suas escolhas como ferramentas de criação. Escolheu ser livre até mesmo da própria linguagem, trazendo para a cena partituras de improviso e coreografias que distorcem, desassociam, violam a fidelidade à tradição da dança flamenca buscando lealdade apenas à sua expressão.

O espetáculo, como um processo de pesquisa, parte então como um contraponto para as inúmeras tentativas de reduzir uma jovem a nada. É a comemoração de uma sobrevivência e não de uma derrota. Dançar uma história, não por achá-la excepcional, mas sim, porque ela é absolutamente comum e onipresente. Usar o palco como uma plataforma para mergulhar dentro, afrouxando a corda tensa da vigilância que não permite acessar a realidade das memórias.

Sobre trazer um espetáculo com esse formato, a bailarina Ale Kalaf destaca a importância de favorecer o diálogo, tão necessário, e prolongando, em vozes outras, sobre o tema central abordado para além dos meandros que o contornam: “A violência contra a mulher e o contundente gesto de transformação da sujeição opressora em acolhimento e coragem, na demanda de um, como diz Maria Tiburi, ‘feminismo em comum’”.

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