Paula Barbosa ganhou o coração do Brasil como Zefa, na segunda versão de “Pantanal”. Uma mulher cheia de personalidade, como é Paula na vida real. Ela equilibra uma vida agitada como atriz, mãe, empresária e cantora.
Com sangue artístico nas veias, ela é filha da escritora de novelas Edilene Barbosa, sobrinha da roteirista Edmara Barbosa e neta do autor Benedito Ruy Barbosa, que escreveu a primeira versão de Pantanal. Mas engana-se quem pensa que seu papel na novela estava garantido desde o começo.
“Não é porque a novela é da minha família que é certo que vou fazer. ‘Velho Chico’, por exemplo, eu não fiz. Não aconteceu para mim. Fiquei na expectativa de Pantanal, querendo muito, mas tendo que aguardar”, conta, em entrevista ao RG.
O que seu avô a ensinou de mais importante, na verdade, foi justamente a ideia de não se deixar levar pelo suposto glamour da profissão. “Sempre me ensinou o que é ter o pé no chão. Não se deslumbrar. E não sou uma pessoa deslumbrada. Quando estou na TV, faço minha personagem com carinho, cuidado e dedicação. Todos os personagens que fiz até hoje, desde o teatro amador, foram por amor à arte da minha profissão. O meu foco não é de aparecer, ficar famosa. Nunca foi. Essa consequência é muito gostosa, mas não me deslumbro com isso.”
Leia a entrevista completa abaixo, onde ela ainda fala sobre seus projetos na música e os bastidores de “Pantanal”:
RG – Como foi o processo de conseguir o papel da Zefa?
O processo para entrar em novelas depende da produção, cada uma tem o seu jeito. Na minha primeira novela, fiz mais de um teste. Depois, na segunda, fui chamada direto pelo Papinha [Rogério Gomes], meu primeiro diretor em novela. E, para a terceira novela, eu fiz teste. Então, se você vai trabalhar de novo com pessoas que lhe conhecem e querem você para aquilo, eles já chamam direto. Ou, às vezes, até chamam, mas pedem um teste para ver se você cabe no perfil. E quase foi assim com Pantanal.
Meu avô [Benedito Ruy Barbosa] e o Bruno [Luperi, primo] já conheciam o meu trabalho há muito tempo. E quando soube sobre o remake Pantanal, fiquei super empolgada. Já mostrei minha vontade de fazer e os dois me apoiaram. Mas tem essa questão do perfil do personagem e depende de várias coisas: da visão do diretor, da equipe de produção de elenco… E aí, no final das contas, meu avô tinha pensado em mim para uma outra personagem. Só que isso não ia funcionar, por causa do perfil dela. Então, eu nem sabia se ia fazer a novela.
Mas é assim que funciona. Não é porque a novela é da minha família que é certo que vou fazer. Velho Chico, por exemplo, eu não fiz. Não aconteceu para mim. Fiquei na expectativa de Pantanal, querendo muito, mas tendo que aguardar. Até que o Papinha me falou que tinha a Zefa, uma personagem que ele achava que eu ia me dar bem, e meu primo e meu avô concordaram. E foi assim que consegui o papel.
RG – Uma vez escalada, como você se preparou para viver a personagem?
Pois é, num primeiro momento, quando vi o perfil da Zefa, e pontos da primeira versão, imaginei que ela seria uma uma menina bem mais jovem do que eu, Paula. E comecei a me preocupar com isso. O que eu poderia fazer para não infantilizar a Zefa, porque sou uma atriz de 36 anos. E a televisão é muito próxima do realismo, diferente do teatro, onde posso fazer um velho, um homem, uma criança.
Mas aí, conversando com o Bruno e com o Papinha, a ideia era que a Zefa não fosse uma menininha ingênua. A ideia era que ela fosse uma mulher recatada, que se guardava a pessoa certa para a sua vida, porque é nisso que ela confiava e acreditava. Então, quando vi a sinopse com elementos muito importantes, como, por exemplo, que ela perdeu a mãe muito cedo, foi criada pelo pai, depois o perdeu, ficou sozinha e nunca saiu do Pantanal, comecei a criar esse universo para tudo fazer sentido.
Comecei a construir na minha cabeça como a Zefa seria, imaginando uma menina sozinha no mundo, sem família, sem nada, que não é vivida e nunca saiu do Pantanal. Ela acabou se apegando às coisas que o pai ensinou e ele, com medo da filha se perder, se entregando para qualquer um e ficando grávida. Tudo isso é a gênese da personagem que aprendi a fazer desde que comecei a estudar teatro. Foi muito importante criar esse passado da Zefa para entender como ela chegaria naquele momento da vida, como uma mulher formada, mas com tanto medo de ‘se entregar’ para o homem que gosta.
Então, comecei uma pesquisa bem intensa sobre costumes da região do Pantanal. As músicas, as comidas, jeito de se vestir e falar dessas meninas. Conheci também muitas mulheres que se casaram com o primeiro homem que se entregaram e estavam casadas até hoje. Mas também conversei com mulheres que nunca casaram, porque não encontraram essa pessoa.
RG – Zefa é uma personagem que conquistou o carinho do público. Como você recebeu essa reação? Imaginava que seria esse sucesso?
Olha, eu imaginava que a Zefa seria o tipo de personagem que as pessoas poderiam amar ou não gostar. Muito por conta da sinceridade dela. Muita gente recebe isso como fofoca, intromissão. E isso aqui foi muito legal, porque mesmo as pessoas que a achavam linguaruda, ao mesmo tempo, sabiam que ela era daquele jeito. A Zefa é uma mulher de personalidade! E fazia questão de dizer o que pensava.
Até o tempo em que ela trabalhou na casa da Bruaca, era uma coisa de ‘eu não concordo com isso e fique claro que eu não concordo com isso, porque vai dar ruim. O seu Tenório vai descobrir. Ele vai matar a senhora’. Mas eu fiquei impressionada com esse carinho. Estou viajando nesse momento, e tem muita gente vindo falar comigo. Muita gente falando da Zefa e da novela. Eu realmente fiquei surpresa e muito agradecida.
RG – Qual a melhor parte de ter feito Pantanal?
Para mim, a melhor foi ter, de fato, conhecido o Pantanal, imersa da maneira como fiquei. Cresci ouvindo meu avô contar histórias do Pantanal e, mesmo depois que a novela foi ao ar pela primeira vez, toda a família se reunia num momento após o almoço para ele contar as histórias para a gente. E sempre tinha o Pantanal como pano de fundo, mas eu ainda não conhecia esse lugar. Imaginei esse lugar através das imagens que criava, com base nas histórias do Benedito. Depois, mais velha, conheci, pela internet, os locais. Mas ir pessoalmente e ter contato com aquele lugar, com a natureza, foi a melhor parte. Um presente.
RG – Você tem uma relação super próxima com seu avô, né? Qual é o legado que ele te deixa?
Sou muito próxima do meu avô. O que ele me ensinou em relação ao meu trabalho, minha carreira de atriz, é a importância do estudo. Por ter crescido nessa família, e meu avô ter feito esse sucesso todo, ao chegar para ele e falar que queria ser atriz, lhe causou uma preocupação, acho. Talvez de pensar que fosse aquela coisa do embalo, de estar ali, vendo aquilo tudo, deslumbrada com aquele universo.
Desde muito nova, ele sempre fez questão de assistir às peças da escola. Imagina, o Benedito na plateia da pecinha da escola. E foi sempre me ensinando, dando dicas e mostrando o quanto essa carreira é difícil. Me alertou que, por ser sua neta, eu passaria por situações das pessoas falarem que cheguei lá por conta disso. ‘Eu quero que você esteja preparada para tudo isso’, ele me disse. E foi o que aconteceu.
Eu estudei muito! Depois de ver uma peça minha, ele adorou tanto que me chamou para fazer o primeiro teste para televisão. Ele já me explicou que televisão era muito diferente de teatro. E sempre me ensinou o que é ter o pé no chão. Não se deslumbrar. E não sou uma pessoa deslumbrada. Quando estou na TV, faço minha personagem com carinho, cuidado e dedicação. Todos os personagens que fiz até hoje, desde o teatro amador, foram por amor à arte da minha profissão. O meu foco não é de aparecer, ficar famosa. Nunca foi. Essa consequência é muito gostosa, mas não me deslumbro com isso.
Meu avô me ensinou, acima de tudo, a acreditar. Acreditar nos seus sonhos. Pantanal é isso! Foi um sonho dele que ficou engavetado por oito anos, até que aconteceu. Aprendi a acreditar em mim, nos meus sonhos, na minha capacidade, e correr atrás dos trabalhos que façam sentido e toquem no coração. Trabalhos e personagens que me desafiam. É muito especial. Ter pé no chão é a coisa mais importante que ele me ensinou.
6 – O que espera fazer daqui para frente como atriz?
Pantanal foi uma novela que deu muita visibilidade e que fez o meu trabalho chegar a muita gente. Então, estão surgindo muitas oportunidades. Mas quero pensar com calma no que fazer. Em Pantanal, fiquei muito tempo fora. Muito tempo longe do meu filho. Por isso, quero fazer algum trabalho no qual possa estar mais próximo dele e da família, mas que também me desafie como atriz.
Estou estudando algumas opções, mas, por enquanto, não há nada definido. O que posso falar é que estou trabalhando na minha música. Sou uma atriz que gosta de trabalhar essa coisa de artista mesmo, sabe?! Não sou atriz que atua só para a TV. Enfim, sou atriz de teatro, de TV, de cinema, sou atriz… e eu gosto muito de cantar.
Acho que o canto, a música, também tem muito a ver com a atuação. Tenho um disco que lancei em 2015 e, por algumas coisas que aconteceram na minha vida particular, não tive a oportunidade de trabalhar nele. Então, neste ano, quero trabalhar bastante esse disco. Tenho três músicas para lançar ainda em 2023. Já estão quase prontas. Ainda não bati o martelo sobre outros projetos na atuação. Se Deus quiser, vai dar tudo certo.
7 – Algum próximo projeto que você possa contar?
Como falei na pergunta anterior, eu tenho possibilidades, mas não fechei nada como atriz. E tem a minha carreira musical neste ano. Vou trabalhar bastante nisso. Para mim, a música é muito ligada à minha carreira de atriz. Nas minhas músicas, o show que eu montei, em 2015, quando lancei o disco, é uma apresentação performática. Não é uma cantora ali, exalando técnica vocal. É um trabalho completo em relação à interpretação do palco. Quero trabalhar nisso. Vou lançar novas músicas e estudar alguma coisa como atriz.
8 – Pode contar sobre seus negócios e seu lado empresária?
O meu trabalho como empresária começou por necessidade minha e do Diego [Dalia, marido] quando o Daniel [filho] nasceu. O Diego é músico e eu sou atriz. A gente sempre teve uma carreira muito agitada, de altos e baixos, em que eu viajava muito e ele também. E aí, a gente começou a perceber que precisaria de algo que chamo de ‘plano B’: encontrar algo que faça sentido, mas também para dar uma estabilidade pra gente poder continuar seguindo com os nossos sonhos e carreiras artísticas. E surgiu a ideia de abrir uma franquia.
A primeira franquia foi da Companhia Marítima, uma loja que adoro. Tem um conceito que gosto e tem a ver comigo. Adoro viajar, praia, enfim. Só que o varejo é uma área da qual não tinha muito conhecimento, na época. Então, Diego e eu fomos estudar muito esta área dinâmica, para fazer tudo direitinho. E tem isso, acho que a gente não precisa fazer uma única coisa na vida. Aliás, acho que é por isso que sou atriz, porque eu posso ser médica, advogada, piloto, ser o que eu quiser, como atriz.
Começamos e deu muito certo, graças a Deus. Acabei me juntando ao meu cunhado e minha irmã, formamos um grupo e abrimos novas lojas. Entramos numa outra marca também, chamada Arranjos Express, uma loja de costura e ajuste de roupa, bem legal também. A gente entrou num momento bacana, no qual a gente podia trabalhar muito as nossas ideias, e fizemos as nossas lojas crescerem muito. Pegamos lojas que já existiam também, não abrimos só novas, o que nos fez crescer imensamente com o nosso trabalho e nossos estudos.
Então, o Diego sentiu necessidade de dar uma parada na carreira de produtor e fechar o estúdio para focarmos nas lojas. Daniel era pequeno, e eu queria também estar com ele, viver esse momento. E com esse lado de empresária, pude trabalhar mais de casa. Diego acabou pegando muito gosto por isso, 100% focado, e eu o acompanho, porque gosto de saber de tudo para aprender também, é essencial. Estou sempre por dentro de tudo.
Com Pantanal, acabei ficando um pouco mais afastada por causa das gravações, mas tenho pessoas de confiança que tocam para mim quando não posso estar tão próxima. Acho que é um trabalho que dá para você também fazer a distância. A gente também percebeu isso na pandemia. Foi uma fase difícil para todo mundo, mas as nossas franquias estavam crescendo.
9 – Como concilia a vida de atriz com seus negócios com a moda?
Por ser uma marca, é necessário fazer a divulgação das peças, no caso da Arranjos Express, divulgando o trabalho. Então foi legal que somou. Como sou atriz, tenho o meu Instagram, com muitas pessoas me seguindo, e acabo juntando as duas partes. Então, na Cia Marítima, estou sempre postando os biquínis e divulgando os lançamentos. Vou às minhas lojas, faço prova das roupas no provador e posto nas redes. Acabei conseguindo juntar uma coisa com a outra.
E essa parte mais administrativa fica com o Diego e o Bernardo Saboia[outro sócio]. Minha principal função é a de escolher a coleção que vamos comprar, selecionar a equipe. Arrumei um jeito de juntar essa parte da divulgação do marketing. Na Arranjos Express, também levo roupas minhas para customizar e estou sempre postando. Tem sido bem legal e está funcionando.
10 – Qual o significado da moda na sua vida e trajetória?
Essa pergunta é incrível, porque não era muito ligada à moda, nunca fui. Sempre usei roupas e acessórios que gostava. Não importava a marca, nem o preço. Comprava uma peça que gostava mesmo. Então, repetia as minhas roupinhas e acessórios porque gostava das que tenho.
Mas aprendi a ficar mais ligada no que está rolando, nas tendências, e isso surgiu por conta das franquias. Então foi muito legal também, porque mergulhei muito fundo nesse universo que eu não tinha muito conhecimento. De fato, estou mais antenada. Nunca tinha pensado em ter uma loja de biquínis, beachwear, nenhuma loja de serviço. Nunca! Justamente por não ser ligada à moda. Então, na verdade, passou a fazer sentido para mim, a partir do momento que eu decidi abrir a primeira loja.
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