Se na televisão Anthony Verão, personagem vivido por Orlando Caldeira em “Vai na Fé”, da TV Globo, está sempre nos bastidores acompanhando os feitos de Lui Lorenzo (José Loreto) e sua equipe, fora das telinhas o ator carioca se dedica à direção teatral. Nos próximos meses, ele estará à frente de dois espetáculos, “Pelada”, desenvolvido pelo seu Coletivo Preto, e o musical “Planeta Blec”, adaptação da animação criada por Davi Júnior e Yasmin Garcez, e conta como concilia ambas as funções.
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“Sempre tive muitas inquietações, muita vontade de dizer algo, seja na moda, por meio da maneira como me visto, ou na arte, como ator. Só que nem sempre conseguimos falar tudo atuando, e é aí que entra o Orlando diretor, que tem esse olhar de fora das coisas, que pensa o todo. Na minha formação, na Escola Martins Pena de Teatro, existiu toda uma preocupação de desenvolver o ator criador, que deixa de ser uma figura passiva, mas que pensa criticamente a cena”, diz Caldeira.
Para ele, televisão e teatro são universos completamente diferentes. Enquanto a primeira possui um glamour e oferece mais visibilidade, a falta de recursos transforma o teatro em um ambiente mais desafiador.
“No sistema cultural brasileiro, com algumas exceções, operamos em um lugar de escassez, com uma quantidade pequena de recursos, que acaba tornando muito difícil de se fazer e, sobretudo, dirigir teatro. Precisamos sempre adaptar as ideias com base na estrutura que temos disponível. E quando eu falo de estrutura, me refiro a financiamento, investimento, lugar para ensaiar, equipe técnica. Nesses dois projetos que irei dirigir, tivemos patrocínio público, o que os tornou possíveis. Entretanto, quando isso não acontece, precisamos abrir mãos de certas coisas para executar determinado trabalho”, conta.
Neste mês e em março ele irá dirigir “Pelada”, desenvolvido pelo seu grupo, o Coletivo Preto. A peça trabalha as narrativas do subúrbio por meio do humor e surgiu durante a pandemia, no formato audiovisual.
“Por muito tempo me questionava por que não consegui formar uma família no teatro, e acho que isso é por conta das narrativas. O teatro carioca sempre ficou falando de si e se distanciou do público, em especial aqueles que não têm o hábito de ir ao teatro. E esse projeto trata exatamente disso, trazer nossas narrativas no viés positivo. Acreditamos que, a partir do humor e do riso, conseguimos trazer os nossos pro teatro e, após uma série de acontecimentos traumáticos, como a pandemia e a crise econômica, fazer um teatro de acolhimento”, detalha.
Já “Planeta Blec” é um musical que irá adaptar a animação “A Hora do Blec”, criada por Davi Júnior e Yasmin Garcez. O espetáculo foi contemplado pelo Foca (Projeto de fomento à cultura carioca), e contará com uma série de oficinas gratuitas que irão selecionar atores para participar do projeto. O espetáculo ficará em cartaz em julho na Arena Jovelina (RJ).
“As oficinas são uma forma de devolvermos à comunidade para além do produto artístico, que é a questão de formação. Através dela vamos selecionar parte do elenco que será formado por atores profissionais e iniciantes. Eu e o Davi Junior (criador do espetáculo) viemos do subúrbio, de uma realidade onde as oportunidades não chegam, e entendemos que essa falta de mobilidade representa barreiras sociais e psicológicas. Sentimos que precisamos descentralizar a arte, acabar com essa ideia de que a arte é só para quem tem grana”, finaliza.