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Galeria Estação recebe em março a mostra “A Geometria e o Sagrado”, de Eduardo Ver

Obra de Eduardo Ver – Foto: João Liberato

A Geometria e o Sagrado”. Este é o nome da exposição que abrirá, em 8 de março, o calendário anual de mostras temporárias da Galeria Estação e assinala a entrada do artista plástico Eduardo Ver no hall de artistas representados pela galeria. Ao reunir 16 xilogravuras, colecionadores e público poderão conhecer nesta individual obras únicas, sem edição. Um trabalho meticuloso que Ver desenvolve há mais de duas décadas sob a inspiração de simbolismos religiosos, principalmente da umbanda, que são rascunhados em papel e depois entalhados em madeira.

Uma obra, vale mencionar, que despertou o interesse da galerista Vilma Eid. Ela recorda que graças à insistência de Bené Fonteles, autor do texto do catálogo da exposição, e do artista Sérgio Lucena – que Vilma chama de ‘padrinhos’ de Ver -, passou a prestar atenção à obra do xilogravurista.

Eduardo Ver – Foto: João Liberato

“Eu conheci seu trabalho ao vivo, pela primeira vez, em uma mostra coletiva no Paço das Artes, em São Paulo, “Modernismo Desde Aqui”, com curadoria do Claudinei Roberto. A força do trabalho me pegou! Uma obra corajosa, de grandes dimensões. Símbolos que logo me fizeram lembrar do querido Samico, mas com uma linguagem muito própria desenvolvida por Ver”, afirma Vilma, proprietária da Galeria Estação.

No texto que escreveu para o catálogo da mostra, “Os extraordinários terreiros imaginários de Ver”, Fontelles avalia: “Raros criadores dedicados à gravura no Brasil trabalham com tanta lealdade a uma iconografia mitopoética como Eduardo Ver, há duas décadas, com árduo afinco e rara artesania”. Para o artista visual, escritor e curador, uma gravura de Ver contém universos paralelos, múltiplos e com uma força que não é só expressiva pela estética, mas, também, pela energia que emana de cada campo vibracional que compõe e recompõe mundos.

Ainda de acordo com Fonteles, a força gráfica da obra de Ver não provém apenas do solo sagrado que pisa. “Ele nos envolve com narrativas de sua vasta cosmovisão desses terreiros imaginários, revela e vela mundos ainda tão desconhecidos nos quais entidades da Umbanda trafegam e incorporam a alma da terra brasileira”, afirma. “Com sua técnica esmerada, de raro apuro no modo de desenhar e gravar a madeira, imprimir e revelar o além dos mundos, ele nos leva a contemplar e completar sua obra não só com um olhar meramente estético, pois precisamos nos deixar levar pela intensidade e energia transcendente que dela vibra e emana”, finaliza.

Obra de Eduardo Ver – Foto: João Liberato

Presente dos orixás

Inaugurar uma exposição individual e passar a integrar o acervo de artistas representados pela Galeria Estação têm uma conotação especial para Ver.  Segundo afirma, significa poder mostrar seu trabalho a um público mais amplo. “Esta exposição é um presente dos orixás para mim e, também, uma forma de eu devolver a eles tudo que me deram. Sinto-me privilegiado e feliz diante dessa responsabilidade nesse momento de trabalho e muita alegria”, diz.

Em relação ao nome da mostra, ele explica que geometria e sagrado se entrecruzam e se perpassam para materializar, em suas xilogravuras, o místico e o universal presentes não apenas nas religiões de matriz africana, mas, também, em outras. Em suas composições, Ver também recorre a plantas, animais e figuras de santos católicos, além de objetos alegóricos. Em sua geometria sagrada podem ser identificados outros símbolos que fazem alusão tanto aos povos originários do Brasil quanto ao sufismo, religião mística do Islamismo, como os arabescos, por exemplo. A todo esse inventário cultural diversificado o artista atribui uma paleta elegante de cores, inspirada pelos exercícios de observação das plantas que encontra na natureza e nas floriculturas próximas da sua residência, na Zona Leste da cidade de São Paulo.

Obra de Eduardo Ver – Foto: João Liberato

Quanto à técnica utilizada, Ver aplica diversas camadas de impressão sobre o papel. Para cada xilogravura produz várias matrizes, que são sobrepostas até atingir um certo grau de tridimensionalidade. Segundo o artista, o objetivo é imprimir ritmo às obras, fazendo com que todos os elementos convivam em harmonia, num verdadeiro estado de confraternização.

A mostra “A Geometria e o Sagrado” poderá ser vista pelo público até 13 de maio.

Galeria Estação – Rua Ferreira Araújo, 625, Pinheiros, São Paulo.

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