Foto: Sérgio Guerini
O MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) abre a programação de 2023 com uma exposição que celebra o centenário de Arcangelo Ianelli (1922-2009), artista que dedicou sua pesquisa à busca pela essência da cor e da luz. Aberta ao público a partir de 14 de fevereiro na Sala Milú Villela, a exposição “Ianelli 100 anos: o artista essencial” tem curadoria de Denise Mattar e apresenta um panorama da obra do artista.
A trajetória de Ianelli está entrelaçada com a do MAM. Figura assídua desde o início da história do museu, o artista teve sua primeira exposição individual na instituição em 1961, pelas mãos de Mário Pedrosa, e a partir de 1969, participou de seis edições do Panorama de Pintura, sendo premiado em 1973. Em 1978, sua retrospectiva no museu reuniu mais 160 obras e recebeu o prêmio de melhor exposição do ano pela ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte.
Rubens Vaz Ianelli, filho do artista, conta que o MAM São Paulo era a segunda casa de seu pai. “Na década de 1970, quando mergulhou na profícua fase da geometria, Ianelli esteve particularmente próximo do MAM São Paulo. Seja através de suas pinturas, que atingiram uma depuração fina ou da sua quase militância como artista dentro do cotidiano do museu. Com frequência, percorria a planta longilínea do museu em longas tardes de conversa com o amigo Paulo Mendes de Almeida, hoje, nome da biblioteca do museu”, relembra.
“Hoje, passados 45 anos, com sua trajetória agora concluída, retorna a esse mesmo museu sob um novo olhar, propiciando uma nova leitura, inserindo sua obra no panorama contemporâneo da arte”, comenta Kátia Ianelli, filha do artista.
“As novas gerações tiveram pouco contato com o trabalho de Arcangelo Ianelli, que possui uma produção em desenho, pintura e escultura fundamental para a compreensão da arte brasileira no século 20”, diz Cauê Alves, curador-chefe do MAM. “A mostra que o MAM São Paulo apresenta, no ano seguinte ao centenário de nascimento de Ianelli, com curadoria de Denise Mattar, traz um recorte generoso da obra do artista e permite a compreensão de seu processo de criação. A exposição contribui tanto para a difusão de sua obra quanto para que o Museu de Arte Moderna de São Paulo cumpra sua missão de levar a arte moderna e contemporânea para o maior número de pessoas possível”, finaliza Alves.
Foto: Sérgio Guerini
O partido curatorial adotado nesta retrospectiva foi o de privilegiar a coerência da obra de Arcangelo Ianelli, mostrando que no jovem pintor de 1950 já está contido o artista de 1970; que o mural de 1975 abre caminho para a escultura dos anos 1990, e que nesse momento nascem também as grandes pinturas, realizadas até 2000.
Para permitir ao visitante a compreensão desse processo, a exposição estabelece um percurso que se inicia com a produção dos anos 1970, retrograda até 1950 e volta traçando o percurso de 1960 a 2000.
“É possível ver, ao mesmo tempo, todas essas vertentes nascendo umas das outras”, explica Denise Mattar, curadora que foi amiga do artista e diretora do MAM São Paulo entre os anos de 1987 e 1989. “Ianelli foi um artista do fazer, obsessivamente dedicado ao métier, e intransigente quanto ao lugar da pintura. Tendo feito o percurso habitual de sua geração realizou obras acadêmicas, seguidas por pinturas com acentos cezanianos, que foram se tornando cada vez mais sintéticas até o mergulho na abstração, que o encaminhou, sem volta, em busca da essência”, completa.
A curadoria reuniu obras que integram o acervo do MAM São Paulo e de instituições como Museu de Arte Contemporânea MAC-USP, Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Brasileira da FAAP e MASP, além de coleções particulares e de empresas como Santander e Itaú.
A exposição apresenta ao público pinturas e esculturas de Ianelli organizadas em oito núcleos de forma dinâmica, e não cronológica. “Pintar, para Arcangelo Ianelli, agora é suscitar o surgimento da cor”, anuncia o poema de Ferreira Gullar já no primeiro núcleo. A depuração da cor, algo que o artista assume até chegar em sua fase final, está presente de diferentes formas em todo o conjunto eleito pela curadoria.
A mostra traz, ainda, a intimidade do ateliê de Ianelli por meio de três dioramas com objetos usados em vida pelo artista, como pincéis, cavaletes, pigmentos, livros referenciais, entre outras peças que compunham o seu ambiente de trabalho.
Foto: Sérgio Guerini
Na ocasião da abertura (14.02, às 19h), o MAM lança o catálogo bilíngue da exposição, com textos em português e inglês, e a reprodução integral de imagens das obras da retrospectiva. A publicação reúne textos assinados por Elizabeth Machado, presidente do MAM, Cauê Alves, curador-chefe do museu, Denise Mattar, curadora da exposição, o crítico Mário Pedrosa e o historiador de arte Giulio Carlo Argan – o artigo deste último, inclusive, é inédito no Brasil -, e o poema “Arcangelo Ianelli – no limite do ver”, de Ferreira Gullar. Também estarão na publicação uma cronologia e um currículo do artista, além de vistas dos objetos que usava em seu ateliê.
“Ianelli 100 anos” integra uma programação de comemorações do MAM, com os 75 anos do museu e 30 anos de seu Jardim de Esculturas.