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Musical sobre Jackson do Pandeiro retorna a SP

Foto: Renato Magolin

Reconhecida por criar a mistura perfeita entre teatro e música em seus trabalhos, a Barca dos Corações Partidos retorna a São Paulo para uma nova temporada do musical “Jacksons do Pandeiro”, que venceu o prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro) e foi indicado como melhor espetáculo virtual pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).

O espetáculo fica em cartaz no Teatro Porto, de 3 de fevereiro a 26 de março de 2023 (exceto nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro), com apresentações às sextas-feiras e sábados, às 20h, e aos domingos, às 17h. A idealização e produção do projeto é de Andréa Alves, da Sarau Cultura Brasileira, responsável por espetáculos como “Elza”, “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”, “Sísifo”,  “Macunaíma” e “A Hora da Estrela ou o Canto de Macabéa”.

O espetáculo tem direção de Duda Maia, texto de Braulio Tavares e Eduardo Rios e direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos. O grupo escolheu homenagear o cantor, compositor e multi-instrumentista paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982), que recebeu a alcunha de “Rei do Ritmo” por suas mais de 400 canções recheadas de gêneros brasileiríssimos, como samba, forró, coco, baião e frevo.

O espetáculo não é uma biografia, mas aborda episódios e músicas de Jackson que se relacionam com a vida dos atores em cena. “Optamos por distribuir a ação em brincantes que contam pedaços de suas histórias pessoais, as quais em muitos pontos coincidem com a história de Jackson. Falando de Jackson, falamos desses nordestinos anônimos. Falando deles, falamos do cantor e compositor que levou a vida deles para as rádios e as TVs, em forma de cocos e baiões”, analisa o autor paraibano Braulio Tavares, que assim como seu colega de trabalho pernambucano Eduardo Rios, tem profunda relação com a cultura nordestina e sua poesia popular.

Ainda sobre a dramaturgia, Tavares explica: “Às vezes, o texto do espetáculo aparece em forma de música, às vezes como uma poesia ou um poema musicado. Cada vez que ele aparece, ele propõe uma nova brincadeira rítmica – mesmo não tendo uma métrica de poesia – por meio de um jogo de palavras ou outro mecanismo. A nossa ideia é fazer isso para dialogar com as músicas do Jackson, que tinham poesia, brincadeira e alegria”.

O universo rítmico do homenageado norteou toda a concepção do musical. A diretora Duda  aprofundou sua pesquisa sobre a ideia de “corpo-rítmico” dos atores, ao abordar um compositor cuja obra é marcada pelo suingue, ginga e síncope, aquele tempo musical presente no samba e em outros gêneros, quando o ritmo sai do tempo esperado.

Foto: Renato Magolin

Os integrantes da Barca (Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros) dividem a cena com artistas convidados: Jef Lyrio, Everton Coroné, Lucas dos Prazeres e Luiza Loroza. Juntos, passaram meses envolvidos em oficinas, pesquisas e em um longo processo de ensaios, quando o texto foi desenvolvido a partir de exercícios e histórias pessoais.

Já a construção da trilha sonora da montagem partiu de uma minuciosa investigação sobre o vasto repertório de Jackson do Pandeiro. O musical reúne sucessos como “Sebastiana”, “O Canto da Ema”, “Chiclete com Banana”, “Cantiga do Sapo” e outras composições menos conhecidas, que revelam mais da alma brasileira e sincopada do artista.

Além dessas canções, o musical traz músicas novas, que transformam a obra do homenageado, ao dar novos arranjos, acrescentar letras e introduzir canções criadas no processo. “É um ‘pedir licença’ à obra dele, mas sem deixar de homenageá-lo com todo respeito, carinho e admiração”, conta Rios.

Assim como nas montagens anteriores da Barca, em “Jacksons do Pandeiro” todos os instrumentos são tocados pelos atores em cena. “Trazemos a forma sincopada do canto para o jogo de cena o tempo todo. Em nosso título, Jacksons aparece no plural porque são várias histórias que se cruzam e se confundem com a de Jackson”, conta Duda.

A diretora revela ainda que dividiu o palco em dois espaços cenográficos, nos quais os atores brincam com seus diferentes níveis e alturas. Como Jackson era fã de filmes de faroeste, ela concebeu a encenação de algumas canções como pequenos curtas-metragens ou clipes animados, apresentados em um local que remete a uma tela de cinema.

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